O ESTADÃO - 15/02/12
Após forte crescimento em 2010, a produção industrial estagnou em 2011, e o nível de produção da indústria brasileira permanece abaixo do atingido em 2007. Com a estagnação da indústria, o PIB da economia do Brasil desacelerou, o que, combinado com o agravamento da crise da dívida europeia, levou o Banco Central (BC) a iniciar um processo de redução das taxas de juros e reversão das medidas de controle do crédito adotadas em 2010. Como o afrouxamento monetário e do crédito deverá reativar a demanda, espera-se que a indústria responda com a retomada do crescimento.
Essa expectativa se baseia no diagnóstico de que o problema do setor está na falta de demanda. Entretanto, existem fortes sintomas de que esse diagnóstico está errado e de que, ao adotar políticas monetária e de crédito mais frouxas, o resultado poderá ser mais negativo do que positivo para o setor industrial.
Primeiro, as taxas de desemprego estão em níveis recordes de baixa, próximas a 5% da força de trabalho e em queda. O crescimento do emprego está cada vez mais concentrado nos setores de serviços e comércio. Segundo, o crédito para as pessoas físicas e para as empresas está crescendo sistematicamente acima do crescimento do PIB, tendo a relação crédito/PIB passado de 26%, em 2002, para 49%, em 2011. Em 2011 as concessões de crédito subiram 19%. Finalmente, as taxas de crescimento das importações de bens industriais estão bastante altas. A participação das importações no total da oferta de produtos industriais no Brasil atingiu 21,5% no 3.º trimestre de 2011. Ou seja, a demanda por produtos industriais está crescendo a taxas até mesmo insustentáveis, se desconsiderarmos as importações.
A questão é que os preços desses bens no mercado internacional têm caído em termos absolutos, o que impossibilita às empresas brasileiras aumentarem seus preços unilateralmente e segura a inflação da indústria. Mas, como os serviços são não comerciáveis, os aumentos de demanda por serviços têm de ser atendidos por maior produção interna. Dada a baixa taxa de desemprego, o aumento da oferta de serviços não tem sido suficiente para acompanhar o da demanda, levando a taxa de inflação deste setor para a casa dos 9% ao ano, em 2011.
Com o aquecimento do mercado de trabalho, os salários nominais cresceram mais de 8% em 2011, o que é uma taxa muito superior ao crescimento dos preços industriais somados aos ganhos de produtividade (que, aliás, está estagnada desde 2007). Ou seja, o custo do trabalho para produzir uma unidade de produto industrial está subindo fortemente, devido à diferença entre as taxas de inflação do setor industrial e do setor de serviços e ao aquecimento do mercado de trabalho. Entre dezembro de 2008 e novembro de 2011, o custo unitário do trabalho em reais aumentou 15,7%, enquanto, em dólares, o aumento foi de 32,5%. É isso que está reduzindo a competitividade da indústria brasileira e gerando estagnação.
Com o aumento da demanda em razão do afrouxamento monetário e de crédito, as taxas de desemprego devem cair e a inflação de serviços deverá subir. Como as importações seguram os preços do setor industrial, a disparidade entre os reajustes de salários e os preços dos bens industriais vai aumentar, diminuindo a competitividade da indústria brasileira.
Para o setor industrial, seria melhor que o BC aproveitasse a tendência deflacionária externa para reduzir a meta para a inflação brasileira a níveis similares aos dos nossos parceiros comerciais, diminuindo, ao mesmo tempo, a disparidade entre a taxa de inflação do setor industrial e a do setor de serviços, ainda que com taxas de juros reais um pouco mais altas.
A solução estrutural para a diminuição da competitividade é uma completa reforma da legislação trabalhista, que é totalmente inadequada para uma economia aberta. Em lugar disso, o governo tem utilizado o aumento da proteção comercial para "defender" a indústria, o que diminui ainda mais a concorrência e, portanto, a competitividade do setor industrial no futuro.
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