quarta-feira, fevereiro 15, 2012

O arranjo da economia - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 15/02/12


Ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisou que, neste ano, o governo Dilma está perseguindo crescimento do PIB de 4,5% - não mais de 5,0%, como antes. E acrescentou: "Se a crise externa persistir, o crescimento será de 4,0%".

A crise externa não será revertida tão cedo. Mas não será a catástrofe que fez parte da estratégia de política monetária do Banco Central a partir do segundo semestre de 2011.

Ainda que a quebra (default) de Grécia e Portugal fique inevitável, o Banco Central Europeu descobriu como os focos de incêndio serão dominados: simplesmente por meio de despejo de moeda emitida no caixa dos bancos, como aconteceu no dia 27 de dezembro e terá repeteco no próximo dia 29. Portanto, ainda que caia fogo do céu, o contágio e o efeito dominó anteriormente esperados serão evitados.

Isso significa que o PIB do Brasil neste ano avançará os tais 4,5% sobre o de 2011, como espera o ministro Mantega? Antes de outra análise, é bom ter em mente que o número com o qual trabalha o Banco Central para 2012 é mais baixo: 3,5%.

Independentemente dessa divergência de projeções, o importante a reter no recado do ministro é o jogo do governo Dilma. Os instrumentos de política econômica (políticas fiscal, monetária, de crédito, salarial e bateria regulatória) serão acionados de maneira a obter esse resultado aí nas Contas Nacionais, nada muito diferente do que o esperado em ano de eleições.

E, pelas manifestações até aqui dos seus dirigentes, o Banco Central vai dando indicações de que seus movimentos vão se conformando com essas diretrizes. Ou seja, o governo Dilma trabalha com uma meta de crescimento e o salão de baile que trate de dar seus passos nesse ritmo.

Parece inevitável que o emprego e o consumo continuem aquecidos, provavelmente acima da capacidade de oferta do setor produtivo. Isso sugere que as importações seguirão operando de forma a suprir a procura interna.

Essa arrumação sugere que algum nível de inflação de demanda ainda prevalecerá, percepção que o próprio mercado financeiro vai manifestando por meio da Pesquisa Focus, feita semanalmente pelo Banco Central.

Em outras palavras, é improvável que em 2012 o BC consiga trazer a inflação para o centro da meta. Mais do que isso, sobram dúvidas de que esteja empenhado nisso. Seus principais objetivos consistem em derrubar os juros básicos (Selic) para um dígito ao ano, como indicam as manifestações veiculadas na última Ata do Copom.

Para evitar que a inflação salte para níveis inadmissíveis, o governo tende a acionar os tais instrumentos prudenciais - sobretudo com corte de tributos. A propósito, também ontem, o ministro Mantega avisou: "Só estamos pensando em reduzir impostos".

Isso também quer dizer que o governo federal não deverá fazer muita questão de promover importante desvalorização do real (alta do dólar), como pedem os empresários - providência que encareceria os produtos importados e atiçaria ainda mais a inflação.

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