O Globo - 15/02/12
Pela primeira vez a oposição a Hugo Chávez tem uma chance concreta de derrotá-lo nas urnas, em outubro, mas para isto é necessário que suas diversas correntes se mantenham unidas em torno do vencedor das primárias de domingo, o governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, de 39 anos. Esta, aliás, é a promessa dos principais líderes oposicionistas.
Manter a união é a única forma de a oposição chegar às eleições presidenciais com possibilidade de fazer frente a Chávez, campeão de audiência devido aos programas sociais financiados com recursos do petróleo, do qual a Venezuela é o oitavo maior produtor mundial. Ele ocupa o poder há 13 anos, período no qual trabalhou intensamente para aumentar seu controle político e reduzir o da oposição, ao mesmo tempo em que enfraquecia a democracia venezuelana ao transformar o Legislativo e o Judiciário em meros instrumentos do Executivo.
A oposição deu uma impressionante demonstração de força ao levar, no fim de semana, cerca de 3 milhões de venezuelanos às urnas nas primárias em que Capriles foi escolhido, com 62,2% dos votos.
Chávez enfrenta o desgaste de 13 anos no poder, prometendo o céu aos venezuelanos, mas quase sempre colhendo resultados abaixo do esperado. O país tem hoje problemas sérios de segurança — é o mais violento da América do Sul —, infraestrutura, desabastecimento, queda do poder aquisitivo, inflação oficial de 27,6% em 2011.
O que não se pode negar é que, com tudo isso, Chávez continua querido pelo povão e sua popularidade voltou a subir para 58% devido à comoção causada pelo câncer que o acometeu e ao longo tratamento em Cuba. A doença foi abordada sem transparência pelo governo venezuelano, e pouco se sabe sobre a gravidade do estado de saúde do caudilho bolivariano. O que é próprio de regimes baseados no personalismo, no autoritarismo e no populismo.
Capriles dá mostras de estar no caminho certo ao adotar a estratégia do cambio, pero no mucho: propor melhorias nos programas sociais, evitando bater de frente com Chávez, e prometer avançar na política econômica, de segurança e educacional. O candidato, muito jovem, não pode ser acusado de inexperiência, pois é considerado bemsucedido seu governo no estado de Miranda.
De alta classe média, Capriles procura não passar imagem elitista, que o transformaria em alvo fácil da artilharia de Chávez.
Ele não hesitaria em igualá-lo às velhas elites.
Capriles mostra perspicácia ao dizer que tem como inspiração o modelo econômico, os programas sociais e a democracia brasileira. Com isso, oferece ao eleitor uma alternativa concreta à panaceia chavista, acenando com um Estado promotor do desenvolvimento e com a devolução aos venezuelanos do direito à livre iniciativa e ao empreendedorismo.
O candidato do partido Primero Justicia é a melhor chance que a Venezuela tem de reverter o avanço do chavismo estatizante, ineficiente e destruidor das instituições democráticas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário