Quem acompanha as escolas de samba do Rio de Janeiro não pode deixar de notar a gama de temas nordestinos incluídos no desfile do Grupo Especial este ano. Luiz Gonzaga, Jorge Amado, cordel, São Luís do Maranhão. O sambódromo, sempre dado a modismos, é uma demonstração de que o Nordeste está na moda. E a região saiu de lá campeã, com a vitória da Unidos da Tijuca, com o enredo O dia em que toda a realeza desembarcou na avenida para coroar o rei Luiz do Sertão. Resta saber se o Nordeste irá se segurar na crista da onda em todos os quesitos.
No quesito economia, as taxas de crescimento da região já foram maiores do que a registrada na reta final de 2011. Os 6% de crescimento de atividade econômica registrados em agosto chegaram a dezembro na faixa de 4,4%. Menor, mas bem acima da média nacional, de 2,7%. Os dados são do Banco Central. Em termos de salários, o rendimento médio dos trabalhadores também subiu de dezembro do ano passado para janeiro deste ano em Recife e em Salvador, capitais pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mas tudo isso, acreditam os políticos da região, está diretamente relacionado com os investimentos durante o governo do presidente Lula, a começar pelo Bolsa Família, que ajudou a movimentar a economia local. Depois, os incentivos, como as refinarias da Petrobras — uma em Pernambuco, terra natal do ex-presidente, outra no Maranhão, estado do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. As duas obras, entretanto, ainda não deram o ar da graça. Para completar, parte da construção dos canais de transposição das águas do São Francisco está atrasada, assim como a Transnordestina.
Por falar em obras…
Os políticos consideram que todas as vezes em que o investimento público cai, o Nordeste é o primeiro a sofrer as consequências. Talvez estejam certos. Afinal, a desaceleração na reta final de 2011 coincide com obras em ritmo mais lento. O desafio, entretanto, é sair desta dependência dos recursos da União e gerar sua própria receita. Para isso, a região precisa investir firme em industrialização, uma tarefa nada fácil, uma vez que São Paulo ainda continua sendo o motor nesse quesito.
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, por exemplo, conseguiu no ano passado acertar a instalação de uma montadora da Fiat em território pernambucano. A obra já está em fase de terraplanagem. Como símbolo da mudança de patamar do estado, que, em 2010, cresceu com taxa de dois dígitos, a fábrica ficará num local onde há poucos anos existia um canavial. Com isso, Eduardo Campos tentará marcar no imaginário popular a mudança da escravidão dos canaviais à industrialização. Politicamente, o ganho é considerado certeiro até pelos mais experientes políticos do Sudeste, de onde saíram todos os presidenciáveis dos últimos tempos. (Lula, apesar de nordestino, cresceu na política em São Paulo).
Por falar em política…
A região hoje está repleta de nomes considerados de ponta. Além de Eduardo Campos, de Pernambuco, estão nesse rol Jaques Wagner, da Bahia, e Marcelo Déda, de Sergipe, ambos do PT. Além de Cid Gomes, do Ceará. Déda, por ser de um estado menor e de um partido que costuma dar preferência aos paulistas, está fora da lista de presidenciáveis. No caso do Ceará, a família Gomes teve a sua chance com Ciro. Mas, no caso de Jaques Wagner e de Eduardo Campos, há quem deposite fichas no mercado futuro da política.
Campos não perde uma onda boa, embora costume veranear numa praia tranquila. Ele torceu pela Unidos da Tijuca como ninguém. Agora, se prepara para surfar na vitória do enredo sobre o pernambucano Luiz Gonzaga — que, por sinal, também teve uma ajuda do estado. No próximo dia 3, sábado seguinte ao do desfile das campeãs, ele receberá o carnavalesco Paulo Barros em Recife, para lhe entregar a Ordem do Mérito dos Guararapes, comenda conferida aqueles que prestaram serviços a Pernambuco. Aparecerá ao lado do campeão como “pé quente”.
Eduardo Campos já se aliou a Gilberto Kassab, sua porta de entrada em São Paulo, e agora planta uma semente no Rio de Janeiro. Se vai dar certo, não se sabe. Mas que ele trabalha para ser candidato a presidente, ninguém tem mais dúvidas. Resta saber quando.
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