O GLOBO - 06/02/12
A civilização ocidental está mesmo condenada ao declínio? A grande crise contemporânea demonstra o fracasso das democracias liberais e suas economias de mercado? Ou estariam apenas submetidas a enormes esforços de adaptação, comprimidos numa estreita janela de tempo? Bombardeados por choques colossais nas últimas duas décadas, as democracias e os mercados são instituições extraordinariamente flexíveis, em princípio capazes de atender às gigantescas exigências de adaptação.
Somos um organismo vivo, uma população mundial estreitamente conectada pela teia dos mercados globais. Como acomodar em seus mercados de trabalho os 3,5 bilhões de eurasianos deserdados pelo colapso do socialismo? Como absorver o formidável aumento de produção eurasiana sem vergar ante as ameaças da desindustrialização e do desemprego em massa? E, tudo isso ocorrendo ao ritmo alucinante das novas tecnologias, como impedir o agravamento das pressões já exercidas por uma intensa competição em escala global? Os governos ocidentais, em sua maior parte, tentam evitar as reformas exigidas para enfrentar esses novos desafios. Recorreram a velhos e perigosos truques para manter artificialmente o crescimento econômico.
O dinheiro barato e a regulamentação frouxa dos bancos centrais, o excesso de endividamento e a farra do crédito pelos financistas anglo-saxões, a irresponsabilidade fiscal e a demagogia da social-democracia europeia. O resultado é desastroso.
Estão abalados os alicerces dos modernos regimes fiduciários. Os abusos cometidos quebraram a confiança dos ocidentais nos bancos e nos governos.
As economias avançadas chegaram ao fim de um ciclo longo, e estão agora paradas para conserto. Mas há outra dinâmica em funcionamento: a maior prosperidade dos países emergentes, que prosseguem em crescimento, ainda que desacelerando em meio à crise global. É uma janela de oportunidade para reduzir distâncias.
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