FOLHA DE SP - 22/01/12
No início do regime de metas de inflação, em 1999, a taxa básica de juros (Selic) era de 45% ao ano. No primeiro ano dos governos petistas, em 2003, era de 26,5%.
Tempos de crises internacionais recorrentes, sem dúvida. Mas a debilitada economia doméstica dispunha de baixa capacidade de resistência a contágios externos. O país crescia menos de 2% ao ano.
No Brasil de 2012, discute-se com ansiedade o destino da Selic no próximo semestre. Baixará dos atuais 10,5% para 10% ou 9,5%?
A taxa real de juros (descontada a inflação) flutua em torno de 4%, a mais baixa da história. Nos últimos oito anos, a economia cresceu ao ritmo anual de 4%. O contraste entre os dois períodos sugere um considerável progresso.
Desde meados dos anos 1990, o Brasil passou por mudanças institucionais, políticas, econômicas e sociais importantes. Houve reformas na regulação dos mercados, nas finanças, no padrão de distribuição de renda. Mas já se vai meia década em que o ritmo da mudança tende à velocidade zero.
Os debates econômicos também se apequenam, tal como a discussão sobre reduzidas variações da taxa de juros e a intensa querela sobre a inflação deste ano: 4,8%, como quer crer o governo, ou 5,3%, como estima a média do mercado?
O governo se ocupa de bagatelas que talvez façam o crescimento passar dos estimados 3,5% para 4%. Deveria baixar o imposto sobre operações financeiras de crédito ao consumidor de 2,5% para 2%?
Tais discussões têm relevância, embora circunscrita a decisões muito técnicas e de curto prazo. Que ocupem o centro do debate público é sintoma de paralisia política e intelectual.
É preciso, de fato, inflação menor, juros menores, mais crescimento. Não será, porém, se atendo a minudências preciosistas que o país vai enfrentar tais problemas. Se perdeu a perspectiva de reformas de impacto, é porque as tarefas relevantes são difíceis, demandam decisões políticas de risco que nem governo nem oposição pretendem tomar ou sugerir.
Soluções mais duradouras para a inflação e para a ainda intolerável taxa de juros brasileira, por exemplo, não dependem de medidas rotineiras de política econômica.
O mercado de trabalho aquecido pressiona custos; faltam trabalhadores qualificados, o que não se resolve num ano. Mas, na prática, educação e ciência continuam a ser assuntos marginais na agenda.
A relativa estabilidade econômica; o alívio de um crescimento ainda pequeno, mas não experimentado fazia décadas; a associação do governo com grandes empresas e sindicatos; e a maré de benefícios sociais ajudaram a anestesiar a política do país.
O governo se refestela no sucesso de curto prazo. A oposição se acovardou. E o debate público atolou-se na discussão de miudezas.
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