domingo, janeiro 22, 2012

Diversão na tribo - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 22-01/12

A recusa de José Serra em disputar SP tem implicações graves; é difícil saber se partidárias ou pessoais



A piada do "muito cacique e pouco índio" é vítima de duas precipitações. Pareceu exterminada, por esgotamento, antes do tempo, e fez sucesso antes de haver o PSDB, para o qual até parece ter surgido.

A principal disputa eleitoral do PSDB, nas eleições municipais deste ano, é, claro, a da prefeitura paulistana. Deveria ser uma oportunidade de seguro otimismo para o partido de nascimento e identidade essencialmente paulistas e paulistanos. É, no entanto, um momento dramático, desde as dificuldades para definir candidato próprio até os esboços que se fazem do final do processo de disputa, com a possibilidade de uma explosão dentro do partido.


A reafirmação da recusa "definitiva" de José Serra a candidatar-se, ainda que seja cedo para despi-la das aspas, não é como as recusas tão comuns em política, sobretudo quando há aspirações a nível mais alto. A recusa de Serra tem implicações graves, entre as quais, por ora, é difícil saber se mais partidárias ou mais pessoais. A começar de que o "fogo amigo", especialidade em que os militares americanos são insuperáveis, em sua versão política tem o PSDB como exemplo incomparável. O "fogo amigo" está na natureza do PSDB.

Se José Serra é o "candidato natural" e único capaz de levar o partido ao êxito, como argumenta uma ala de seus correligionários, entrar na disputa exigiria dele uma de duas inconveniências com toques suicidas. Ou, vencedor, sufocar sua velha obsessão de ver-se presidente da República, ou, para preservá-la, renunciar outra vez à prefeitura para concorrer à Presidência em 2014.

Logo, matar a imagem que há tanto tempo vê nos espelhos, com a faixa presidencial no peito, ou sujeitar-se à subida, a níveis inviáveis, de sua rejeição, já alta, em 2018 (como lembrou Rogério Gentile na Folha de quinta-feira, a rejeição elevou-se de 11% há oito anos para 35% entre os paulistanos, sugestão do que vai por aí afora).

Outro aspecto do "fogo amigo" é que a candidatura, agora, exporia Serra muito em cima do êxito de "Privataria Tucana", do jornalista Amaury Ribeiro Jr.. A candidatura traria para os palanques adversários a artilharia muito pesada que o livro contém contra Serra e justificou sua condição de best-seller.

Que tipo de campanha Serra poderia fazer contra os adversários que, apenas por ler em público uma ou outra página do livro, seriam demolidores ou exigiriam de Serra uma campanha de confrontos ininterruptos e muito arriscados? Não é preciso chegar a um comentário frequente hoje em dia -"esse livro acabou com José Serra"- para perceber os tantos aspectos negativos dessa candidatura, em termos pessoais.

Os outros possíveis candidatos do PSDB citados até agora (ainda) não prometem ao partido uma perspectiva eleitoral sequer tolerável. Põe-se o problema: não ter candidato próprio, e apoiar um indicado por Gilberto Kassab (Guilherme Afif Domingos, em princípio) será declaração de falência; perder a capital para o PT seria, dentro do PSDB, causa de uma conturbação a que a fisionomia do partido não resistiria. O PSDB tenderia a mudar de mãos, de fato e de direito, em pouco tempo.

A eleição em São Paulo, capital, vai assegurar a nossa diversão.

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