Humores
RODOLFO LANDIM
FOLHA DE SP - 11/11/11
A velha máxima de que um resfriado no exterior provoca uma pneumonia no Brasil não vale mais
As decisões de investimento são tomadas a partir de análises, expectativas e crenças, mas muitas vezes, em ambiente de crise, também são influenciadas por aspectos emocionais e circunstanciais que fogem a uma visão mais técnica e racional dos fatos.
Dentro desse contexto, estive na semana passada visitando grandes investidores na Grã-Bretanha e nos EUA, procurando colher percepções quanto ao ambiente e à disposição deles para a realização de investimentos em mercados emergentes, notadamente no Brasil.
A primeira observação a fazer é que, apesar de os mercados serem globais, em geral os humores na Europa andam de fato bem piores.
Parece existir a convicção de que, por maiores que sejam as movimentações políticas para resolver os problemas da Grécia, existem nítidas dificuldades de conseguir uma ação coordenada para evitar que outros países, também em situação difícil na zona do euro, passem a ser futuramente "a bola da vez".
Isso porque as medidas que visam a busca do equilíbrio fiscal desses países têm sofrido grandes reações populares e, se aplicadas, levarão a ainda menores taxas de crescimento da economia.
Mas existe dinheiro, só que aparentemente com menos apetite para investimento em empresas de capital aberto no Brasil do que tempos atrás.
Os motivos alegados passam pela hoje reconhecida supervalorização das companhias no momento de sua abertura de capital (IPO) e pela visão de ser o país um grande produtor de commodities e de estas terem menores perspectivas de crescimento de valor em um mundo com a economia em baixa expansão.
No entanto, talvez a maior razão seja mesmo o ainda pouco conhecimento e compreensão do que se passa por aqui. Não temos muitos profissionais brasileiros trabalhando em fundos de investimento na Europa -mesmo naqueles voltados para mercados emergentes.
A histórica relação da Inglaterra, principal centro financeiro da região, com a Índia e com a China através de Hong Kong faz com que os olhares acabem naturalmente sendo voltados para o outro lado do mundo. Se formos então comparar a quantidade de recursos em fundos dedicados a países emergentes aplicados em companhias fechadas ("private equity"), aí então é que podemos considerar o volume quase desprezível.
Já nos EUA, certamente os ventos da crise europeia que também sopram por lá em menor intensidade têm a sua influência, mas a percepção que fica é a de que o foco está mais na avaliação do desempenho do mercado doméstico. Assim, os indicadores do nível de emprego e do consumo local, além das medidas macroeconômicas do governo Obama, acabam sendo as primeiras referências nas respostas quando perguntamos de forma geral sobre o cenário econômico.
Apesar dos problemas que o país vem enfrentando, a mentalidade positiva e empreendedora reinante passa a impressão de que ao primeiro sinal favorável, ou pelo menos de menor turbulência, poderá haver uma significativa recuperação do mercado de capitais. Esse pelo menos parece ser o desejo quase incontido de todos os norte-americanos.
O sentimento em relação ao Brasil é melhor do que na Europa, apesar de ter ouvido dúvidas quanto à viabilidade de implantação de novos projetos de infraestrutura em um ambiente de restrição de mão de obra qualificada e de quase pleno emprego, além da preocupação quanto ao aumento da inflação.
A instabilidade que vem afetando os mercados de capitais pode perdurar por um bom tempo, já que a sequência de notícias ruins intercaladas com momentos de alívio sobre a Europa tem tudo para continuar e as discussões sobre o volume de cortes no Orçamento americano e seus impactos ameaçam voltar em breve ao noticiário.
Nesse contexto, é animador verificar que o Brasil venha sendo relativamente menos afetado pelas instabilidades internacionais e que a velha máxima de que um resfriado no exterior provoca uma pneumonia no Brasil não vale mais. Em termos de humor, os que teremos por aqui têm tudo para serem melhores que os de lá de fora.
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