A baderna dos ricos
EDITORIAL
O GLOBO - 11/11/11
Para uma universidade que é considerada a melhor do país, os acontecimentos dos últimos dias na USP são desanimadores. Mais uma vez, houve baderna, invasão de prédios, e finalmente uma decretação de greve que, aparentemente, teve pouca repercussão.
A baderna começou porque a PM deteve, no campus da USP, três estudantes que fumavam maconha. A polícia tentou levar os jovens para o distrito policial mais próximo. Foi atacada por cerca de 200 estudantes. Policiais foram feridos, viaturas apedrejadas. Coroando o "protesto", foram invadidos os prédios da Reitoria e da Faculdade de Filosofia.
Nesse clima de conflito, a maioria dos alunos da USP, em duas assembleias, opinou que os prédios deviam ser desocupados, e que devia ser mantido o policiamento das ruas no imenso campus.
Decisão que caiu em ouvidos moucos. Instalados na reitoria, os "rebeldes", mascarados como está na moda, exigiram a retirada da polícia para negociar a saída. Foram anistiados pelo reitor, sem que nada acontecesse. Até que a força policial invadiu os prédios e levou mais de 70 invasores para a delegacia, de onde só saíram depois de pagarem fiança de R$545.
A PM não estava na USP sem motivo. Entre janeiro e abril deste ano, os roubos no campus aumentaram 13 vezes, e os atos de violência, incluindo estupros e sequestros-relâmpago, cresceram 300%. Em maio, um estudante de Economia foi morto num assalto, o que levou a direção da USP a assinar convênio para que soldados fizessem o papel que vinha sendo desempenhado por 130 agentes de segurança, num espaço por onde circulam diariamente 100 mil pessoas.
Os resultados não se fizeram esperar: queda de 92% nos furtos de veículos, de 87% nos sequestros-relâmpago, de 77% nos delitos de lesão corporal.
Mas isso não modificou o clima segundo o qual uma força policial é "repressora", mesmo quando se limita a fazer cumprir a lei. Decretada a greve, chegou-se a dizer que ela seria apoiada pelos professores, o que acabou não acontecendo.
O reitor da USP diz que a sociedade paulista está cansada das sucessivas paralisações na USP. Mas o reitor também anda como quem pisasse em ovos, o que é de regra desde que reitores passaram a ser eleitos por estudantes, professores e funcionários, e têm de administrar de olho na política.
Na verdade, trata-se de um escárnio para com todos os cidadãos brasileiros, que pagam impostos para manter universidades públicas. A impressão que se tem é de que continua no ar - com 50 anos de atraso - um clima "anos 60" em que era bonita a "revolta pela revolta".
Os tempos mudaram, o país cresceu, mas continua com lacunas graves em seus alicerces - sendo um deles o da educação. Num mundo cada vez mais competitivo, estamos ficando para trás (cada vez mais) na formação de profissionais, de técnicos, de cientistas. Mas os bandos de radicais da USP não estão preocupados com isso. E vão roubando o espaço dos colegas que querem estudar.
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