sexta-feira, novembro 25, 2011

O governo afia as ferramentas anticrise - CLAUDIA SAFATLE


VALOR ECONÔMICO - 25/11/11

Sem grandes expectativas para a reunião dos ministros de Finanças do G-20 (grupo dos países mais ricos), em dezembro, e sem solução à vista para os dramáticos problemas europeus, o governo brasileiro já sentiu os primeiros efeitos do contágio - a redução do financiamento externo - e se prepara para reanimar a economia doméstica em 2012. Uma das grandes preocupações é com o setor externo, particularmente com o que fazer para as exportações brasileiras chegarem a US$ 276 bilhões no ano que vem, com os preços das commodities em baixa. Outra é como dar fôlego à indústria nacional, cuja produção está praticamente estacionada. A taxa de câmbio em torno de R$ 1,80 pode ajudar bastante a área de bens de capital, mas não resolve o problema de para quem vender.

Se a presidente Dilma Rousseff tem uma convicção, essa é a de que é crucial para os planos e credibilidade do seu governo manter a meta de superávit primário das contas públicas em 3,1% do PIB sem malabarismos, asseguram assessores próximos. "Ela hoje é fiscalista", asseveram. Dilma avalia que é o rigor fiscal e o baixo endividamento do setor público que faz a diferença do país na crise que varre a zona do euro e adormece a economia americana, sublinham essas fontes. Portanto, não se deve esperar do Ministério da Fazenda prodigalidade na concessão de incentivos fiscais como em 2008/2009.

Nem tudo será redução de juros

As inquietações do governo já se voltam para a segunda onda da crise internacional. Supondo que o Banco Central Europeu não deixará que se materialize uma crise bancária, que colocaria o sistema financeiro mundial em situação de paralisia, as autoridades da área econômica, aqui, calculam que metade da Europa terá que produzir deflação em relação aos preços da Alemanha.

"Esse será um custo recessivo necessário para o ajuste das economias periféricas. E isso é coisa para uns dez anos", comentou uma alta fonte. A política fiscal nos Estados Unidos também será recessiva em 2012. Os prognósticos são de que na zona do euro haja contração de 0,5% a 1% do PIB e que o crescimento nos EUA seja de no máximo 1% no próximo ano.

Há uma equivalência: cada 1 ponto percentual a menos no crescimento mundial subtrai praticamente o mesmo do PIB brasileiro. A desaceleração na China pode levar o crescimento do país para um patamar aquém dos 8%, reduzindo seu poder de locomotiva do mundo.

"Todos estão preocupados com uma crise bancária na Europa. Mas o crescimento mundial será puxado por quem?", indaga uma fonte oficial.

O cronograma do governo é encerrar este ano com uma reativação da atividade econômica no último trimestre, entrar 2012 com crescimento em torno de 0,5% a 1% entre o primeiro e o segundo trimestres e aumentar o ritmo - para algo superior a 1% - a partir do terceiro trimestre. O crescimento, no ano, ficaria entre 4% e 5%.

Para isso, não bastariam o reajuste do salário mínimo e a redução dos juros, dizem os tecnicos. Será preciso acelerar os investimentos e, nessa óptica, as concessões dos aeroportos e rodovias serão cruciais e podem mover a produção de bens de capital. Na segunda-feira a presidente Dilma Rousseff vai ao Rio Grande do Norte para a assinatura do primeiro contrato de concessão do aeroporto de São Gonçalo do Amarante.

As autoridades da área econômica começaram a agir. Primeiro, o Banco Central abriu a caixa de ferramentas que foi acionada em 2010 e neste ano para desaquecer a economia e começou a desmontar os controles da expansão do crédito para o consumo. Novos passos podem ser dados nessa direção, como a redução do IOF de 3% para 1,5% no crédito para pessoas físicas.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, está monitorando o setor privado para ver onde a atividade esfriou demais. E poderá repor uma ou outra medida de incentivo fiscal se as vendas despencarem. Na segunda-feira Mantega reuniu-se em São Paulo com empresários do varejo para uma avaliação geral. Não ouviu muitas queixas.

O que dizem as fontes oficiais mais próximas à presidente Dilma é que a reativação da economia brasileira não ficará só nas costas das taxas de juros. Trabalha-se, sim, com a possibilidade de a taxa Selic descer ao patamar de 9% até meados do primeiro semestre do próximo ano. Mas essa não é uma meta. Avalia-se que um crescimento econômico de até 5% está dentro da margem do PIB potencial, portanto não seria uma performance inflacionária. Com crescimento, fica mais fácil cumprir a meta fiscal.

Os mercados concordam com as projeções do BC de que a inflação será cadente até abril/maio de 2012, período em que o IPCA vai se livrando dos aumentos dos preços das commodities em igual período passado. A partir desse ponto, o BC diz que a inflação estará na casa dos 5,2% em maio, convergindo para a meta de 4,5% em dezembro. Os analistas privados estimam que, ao contrário, novas pressões de preços virão e ela poderá ficar na faixa de 5,5% no fim de 2012. O governo acha que esse é um prazo ainda distante e que muito pode acontecer daqui até lá. Se, porventura, a inflação reagir e o BC tiver que voltar a aumentar os juros no meio do ano que vem, o fará sobre uma base menor.

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