Medo do pânico
MIRIAM LEITÃO
FOLHA DE SP - 05/10/11
Um fantasma rondou ontem a Europa quando se anunciou que o Dexia estava perto do colapso. É um banco biestatal, pertence a dois governos, mas, mesmo que seja isolado e saneado com dinheiro do contribuinte, existem os outros. Os bancos estão desconfiando até da própria sombra e por isso os governos têm medo do pânico. No ano, há muitas instituições mergulhadas num mar vermelho.
O dia foi de instabilidade. As bolsas fecharam em queda na Europa e abriram em queda do lado de cá do Atlântico. Quando o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, falou, o mercado melhorou o humor. No final do dia teve uma recuperação forte. Olhem só os gráficos abaixo do Ibovespa e do índice S&P 500. Às 10h09m, o Ibovespa caía 1,25%. Às 10h57m, a perda chegava a 2,52%. Por volta de meio-dia, recuperava uma parte da perda, mas ainda marcava 0,63% no vermelho. Ficou oscilando na casa de -1% até as 14h. Depois disso, afundou e chegou a cair 2,43%, para na última hora do pregão ganhar dois pontos e fechar em -0,21%. A bolsa americana também teve uma melhora súbita no final. Volatilidade da bolsa é outro sintoma da crise: ela reage excessivamente a cada boato, expectativa ou notícia.
Bernanke fez uma análise pessimista da crise e da economia americana e os analistas acharam que isso era um alívio: concluíram que se Bernanke está pessimista, alguma coisa será feita pelo governo americano. No final do dia, já com o pregão fechado, saiu outra notícia: a redução em três níveis da nota da Itália pela Moody's. A dúvida é: o que a dívida da Itália estava fazendo lá em cima. Ela caiu três níveis e ainda ficou acima do nível do Brasil. Eles têm uma dívida de 120% do PIB e o Brasil tem metade disso. Essas agências!
O Dexia foi resgatado em 2008; ontem amanheceu na Europa com suas ações despencando e o aviso de que precisaria de socorro. Chegou a estar em queda de 38%. Foi apoiado por declarações conjuntas dos ministros da França e da Bélgica, que têm o controle de suas ações; foi assunto na reunião dos ministros das finanças da Zona do Euro e provocou uma reunião de emergência do gabinete belga. Resultado, vão fazer um Proer para o Dexia: separar o banco bom do banco podre. Vender bons ativos para ajudar a sustentar os ativos sem liquidez da instituição. E a parte podre é exatamente a que carrega os títulos dos governos como Grécia e Portugal. Aí a queda acabou se reduzindo para -22%. Mas um olhar para as ações das outras instituições financeiras mostra como o medo se espalhou. Bancos grandes americanos e europeus e a seguradora AIG - que foi capitalizada em 2008 - estão com fortes quedas de ações este ano. Vejam a tabela abaixo. Isso, em parte, é efeito de suas próprias decisões: um banco tem medo do outro, o dinheiro não circula entre eles, e os bancos se livram das ações dos bancos.
Quando tudo está muito ruim, como ontem, de repente aparece uma avaliação salvadora como a que circulou dias atrás e reapareceu: a de que a Europa vai elevar o fundo de estabilização dos atuais C 440 bilhões para um ou dois trilhões. Com isso, montaria uma operação definitiva: separar países com problemas de liquidez, como a Itália, dos países com problemas de solvência, como a Grécia; capitalizar os bancos que compraram ações desses governos e por isso estão com ativos sem liquidez e com o risco de uma quebra em dominó.
As dúvidas são: de onde sairá tanto dinheiro? O contribuinte está disposto a pagar essa conta? Nas ruas, as manifestações ganham força. É difícil entender como pequenos negócios quebram, empresários médios perdem suas empresas, trabalhadores ficam sem emprego, mas bancos não podem quebrar. A Europa precisa de uma saída que preserve o depositante e não beneficie nem o controlador nem os grandes executivos.
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