Minuto de silêncio
MELCHIADES FILHO
FOLHA DE SP - 17/10/11
Brasília - No momento em que ganha projeção em fóruns diplomáticos e na economia global, o Brasil curiosamente testemunha a agonia do "produto" que durante muito tempo o representou no exterior.
O futebol ainda tem muito apelo popular no país, vide os índices altos de audiência na TV. Mas o desencanto parece generalizado.
A começar pela seleção brasileira, incapaz de tratorar adversários como antigamente. Toda expectativa criada pela narrativa midiática (a aparição da dupla Neymar-Ganso, a reabilitação de Ronaldinho etc) invariavelmente gera uma decepção.
Falar mal do time virou o verdadeiro esporte nacional. Os "salvadores da pátria" se transformam no dia seguinte em mercenários apáticos.
O torcedor não é trouxa. Falta coração aos jogadores de hoje. Mas como censurá-los por desejar um naco da indústria que lucra até nas etapas em que o aspecto técnico deveria prevalecer, caso de convocações e escolhas de amistosos?
Tem gente que minimiza o desgaste. Diz que ele se limita à seleção ou ao círculo mais próximo da CBF. Afirma que os clubes sempre serão refúgio da paixão pelo futebol.
Por certo essa turma não tem visto os jogos do Brasileiro-11, cuja qualidade, baixíssima, torna difícil distinguir os favoritos ao título dos que lutam contra o rebaixamento.
Ou ignora que, com raras exceções, nosso "clubismo" vive hoje de nostalgia e de ódios regionais, combustível insuficiente para garantir a atenção de futuras gerações. Conceitos interessantes como identidade cultural, cidadania, educação e ações afirmativas infelizmente são ignorados pelos cartolas. E não faz sentido esperar que a Copa-14 mude o rumo das coisas. O descontrole orçamentário e a sucessão de fraudes mostraram que dificilmente haverá legados positivos -fora ou dentro do campo.
Para não definhar, o futebol brasileiro precisa de uma nova direção.
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