Relações em chamas
DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 17/10/11
A aparente tranquilidade que o governo viveu nos últimos dias na área política não durará mais nem uma semana. Passado o feriadão, o estresse toma conta do Planalto e da Esplanada. O estopim dessa nova temporada vem da área de esportes. Além das denúncias do último fim de semana que fazem, mais uma vez, chacoalhar o PCdoB " que alguns consideram um partido pequeno para estar à frente de um setor tão importante ", ganham cada vez mais luz as desavenças do governo com a poderosa e temida Fifa, que dá as cartas da Copa. E, por último, mas não menos importante, aparece a briga interna dos partidos.
No caso da Fifa, foi emblemática a ausência do presidente da Federação, Joseph Blatter, no encontro de Bruxelas há duas semanas. Pegou mal. Até porque não é comum a presidente de um país se reunir com o secretário-geral de uma instituição " no caso, Jerome Valcke. Essas relações institucionais costumam se dar no velho ditado, cada um com seu cada qual.
O fato é que Dilma e Blatter não se entenderam. Como definiu dia desses um assessor palaciano, os "santos deles não se cruzam". Houve ainda o episódio da carta que ele enviou à presidente Dilma em tom ameaçador, no mês passado, em que insinuava que poderia tirar a Copa do Brasil. Dilma não respondeu. Apenas enviou a Lei Geral da Copa para o Congresso.
Blatter, entretanto, não tirou a Copa do Brasil. E na quinta-feira desta semana, a Fifa anunciará o calendário com dia, hora e local de cada jogo do mundial de 2014. Tudo isso em meio às denúncias envolvendo o Ministério do Esporte e a relação praticamente inexistente entre Dilma e o presidente da Fifa.
Quanto às denúncias de pagamento de propina no esporte, um fato não está claro: se tudo ocorreu em 2005, como diz o denunciante João Dias, por que ele esperou até agora para falar? Tem muita coisa nessa história que não está clara.
Para completar...No ano que vem, tem eleição no Brasil. E não é difícil calcular que em meio à escolha de candidatos pelos partidos é que se dará a votação final da Lei Geral da Copa no Congresso. E, entre a Fifa e o eleitor brasileiro, há quem aposte que a meia-entrada será mantida e alguém vai pagar essa conta. Quem é o problema. Aposto que seremos nós, contribuintes. Afinal, já estamos pagando tanto que nem sabemos o tamanho da conta da Copa. Essa despesa será mais uma a entrar nesse cálculo.
Copa à parte, se fosse apenas essa conta que nos restasse, estava de bom tamanho. Mas vem aí a conta dos royalties e a falta de acordo entre estados produtores e não produtores. Tem ainda a conta da regulamentação da emenda 29, e a perspectiva de um novo imposto. De quebra, tem também a briga interna dos partidos. Na oposição, a disputa está a céu aberto pela chance de concorrer à eleição de 2014 e os protagonistas dispensam apresentações. No governo, cada partido tem lá a sua ala tentando derrubar aquela que está no poder. É assim no PR, no PP, e até no PT " que tem a Presidência da República e mais da metade da Esplanada. É muita confusão para um cenário econômico preocupante.
Por falar em...... cenário econômico, os congressistas elevaram em R$ 29,98 bilhões a receita bruta de 2012 e deixaram o novo valor por conta do aumento da inflação. Depois, os congressistas não sabem por que o governo não libera as emendas. No Planalto, entretanto, a ordem está clara: se o dinheiro for fictício, as emendas também serão obras de ficção. Pelo visto, está aí mais uma lenha para a fogueira das relações políticas.
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