Mágicas e milagres nos EUA
VINÍCIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 22/09/11
A REUNIÃO do Banco Central dos Estados Unidos, o Fed, lembrou um pouco aqueles filmes de índio de tempos politicamente incorretos. Dentro do forte, resta meia dúzia de "heróis brancos". Lá fora, milhares de apaches ululam. Um dos "heróis brancos" (o Fed) acaba por descobrir que resta mais uma caixa de balas para atirar nos "selvagens". Avisa aos moradores do forte que ainda tinham alguma munição para resistir. Mas, ao ouvir a história, o pessoal do forte não dá a mínima, e sai correndo pelos fundos. O Fed falou, o mercado tombou.
Quase todo mundo esperava que o Fed anunciasse um novo malabarismo monetário. Certos ou não, os povos do mercado já não acreditavam muito na eficácia da nova estratégia. Quando leram o comunicado do Fed, de modo correto ou não, acharam que o diabo pintado era muito mais feio que o antevisto -a crise estaria muito mais feia.
Afora o susto e o paniquito de final de tarde, o resto era o previsível. O Fed vai ao mercado vender títulos da dívida pública de curto prazo e vai comprar os de mais longo prazo. Vai enxugar a oferta de papéis longos e tentar assim elevar seus preços, o que reduziria as taxas de juros de longo prazo, inclusive a dos juros de dívida privada semelhante. Enfim, o Fed quer fazer com que os donos do dinheiro ponham seu capital para correr risco.
Mais direto ao ponto, o Fed vai ainda usar os rendimentos dos títulos imobiliários privados de sua carteira para comprar outros tantos. Na prática, o Fed vai manter seu papel de "financeira", de refinanciador de dívida imobiliária, tentando manter baixos os juros para imóveis.
O Fed faz essas coisas esquisitas porque: 1) Sua taxa de curto prazo já é zero; 2) Já despejou na economia dinheiro além da conta, comprando ativos demais (inflou seu balanço para US$ 2,4 trilhões); tal atitude inflaciona demais o preço de ativos como Bolsas e commodities (petróleo e comida), o que enfim pode ser contraproducente.
Vai dar certo? Os entendidos mais ponderados e honestos dizem que é o correto e o que resta a fazer. Mas a taxa de juros de títulos públicos de dez anos já estava em torno de 1,9%, 2% ao ano. Caiu tanto porque o mercado compra títulos da dívida americana mesmo que eles não rendam nada (exceto eventuais ganhos de capital). O investidor grande teme aplicar em quase qualquer outro ativo neste mundo à beira do colapso. Quanto mais pode cair o juro longo nos EUA, pois? Outro "mas": a taxa de juros para a compra de imóveis já está no nível mais baixo em 40 anos, por exemplo. Muita taxa para empresa está barata. Vai cair quanto mais?
Pior, muita gente que quer empréstimo não leva porque os bancos selecionam clientes a dedo. Muita gente não pega empréstimo porque está assustada com o desemprego do vizinho, com a confusão política, com a Europa, com o diabo.
As políticas do Fed fizeram algum efeito. Evitaram o colapso financeiro final dos EUA. Mais tarde, ajudaram muita gente a refinanciar sua dívida. Inflaram as Bolsas, recompondo patrimônios e abatendo, assim, um pouco do desânimo. Mas nesses tempos de colapso da confiança, mesmo a juro zero, o que religa a máquina do mundo é o reemprego de trabalhadores e empresas ociosas. Isso era tarefa de Barack Obama, o fraco. Que fraquejou.
Quase todo mundo esperava que o Fed anunciasse um novo malabarismo monetário. Certos ou não, os povos do mercado já não acreditavam muito na eficácia da nova estratégia. Quando leram o comunicado do Fed, de modo correto ou não, acharam que o diabo pintado era muito mais feio que o antevisto -a crise estaria muito mais feia.
Afora o susto e o paniquito de final de tarde, o resto era o previsível. O Fed vai ao mercado vender títulos da dívida pública de curto prazo e vai comprar os de mais longo prazo. Vai enxugar a oferta de papéis longos e tentar assim elevar seus preços, o que reduziria as taxas de juros de longo prazo, inclusive a dos juros de dívida privada semelhante. Enfim, o Fed quer fazer com que os donos do dinheiro ponham seu capital para correr risco.
Mais direto ao ponto, o Fed vai ainda usar os rendimentos dos títulos imobiliários privados de sua carteira para comprar outros tantos. Na prática, o Fed vai manter seu papel de "financeira", de refinanciador de dívida imobiliária, tentando manter baixos os juros para imóveis.
O Fed faz essas coisas esquisitas porque: 1) Sua taxa de curto prazo já é zero; 2) Já despejou na economia dinheiro além da conta, comprando ativos demais (inflou seu balanço para US$ 2,4 trilhões); tal atitude inflaciona demais o preço de ativos como Bolsas e commodities (petróleo e comida), o que enfim pode ser contraproducente.
Vai dar certo? Os entendidos mais ponderados e honestos dizem que é o correto e o que resta a fazer. Mas a taxa de juros de títulos públicos de dez anos já estava em torno de 1,9%, 2% ao ano. Caiu tanto porque o mercado compra títulos da dívida americana mesmo que eles não rendam nada (exceto eventuais ganhos de capital). O investidor grande teme aplicar em quase qualquer outro ativo neste mundo à beira do colapso. Quanto mais pode cair o juro longo nos EUA, pois? Outro "mas": a taxa de juros para a compra de imóveis já está no nível mais baixo em 40 anos, por exemplo. Muita taxa para empresa está barata. Vai cair quanto mais?
Pior, muita gente que quer empréstimo não leva porque os bancos selecionam clientes a dedo. Muita gente não pega empréstimo porque está assustada com o desemprego do vizinho, com a confusão política, com a Europa, com o diabo.
As políticas do Fed fizeram algum efeito. Evitaram o colapso financeiro final dos EUA. Mais tarde, ajudaram muita gente a refinanciar sua dívida. Inflaram as Bolsas, recompondo patrimônios e abatendo, assim, um pouco do desânimo. Mas nesses tempos de colapso da confiança, mesmo a juro zero, o que religa a máquina do mundo é o reemprego de trabalhadores e empresas ociosas. Isso era tarefa de Barack Obama, o fraco. Que fraquejou.
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