Mudança de rumos
PAULO GUEDES
O Globo - 05/09/2011
Está em curso uma desejável, importante, mas bastante arriscada mudança de rumos na política macroeconômica brasileira. O primeiro sinal foram as declarações da presidente a favor de uma redução das taxas de juros. O segundo sinal foi o anúncio de maior controle dos gastos públicos. E o terceiro sinal foi o cavalo de pau que o Banco Central deu nos juros, derrubando abruptamente as taxas, como sugeria a presidente. A mudança na dosagem das políticas monetária e fiscal é desejável. O Brasil tem o mais longo programa de estabilização da História universal exatamente pela falta de melhor coordenação macroeconômica. Nunca houve a necessária mudança no regime fiscal. A Nova República não ousou enfrentar o Antigo Regime.
Sem o controle dos gastos públicos, o peso do combate anti-inflacionário esteve sempre sobre os ombros do Banco Central. Maior austeridade fiscal permitiria menor aperto monetário para atingir as metas de inflação. A reconfiguração macroeconômica que ensaiamos agora é importante por seus impactos sobre a atividade produtiva e a geração de empregos. Em meio à mobilidade de capitais internacionais e à flutuação cambial, a combinação anterior do expansionismo fiscal com a aplicação de freios monetários é extraordinariamente perversa. A alta dos juros e o afundamento do câmbio terminam por anular o estímulo fiscal e por ampliar os efeitos recessivos da política monetária. Já esta nova configuração de maior controle fiscal e menor aperto monetário permite a redução dos juros e a subida da taxa de câmbio, estimulando a produção e a criação de empregos.
Mas há enormes riscos nesta transição, pois tudo depende do maior controle de gastos públicos. Se o discurso de mudanças for apenas uma desculpa esfarrapada para a redução dos juros, os resultados serão desastrosos. A inflação teria perdido a âncora das metas inflacionárias por interferência indevida da presidente, irresponsabilidade do Ministério da Fazenda e desleixo do Banco Central. Iludido por uma falsa promessa de controle de gastos, o BC teria simplesmente obedecido a ordens superiores para derrubar artificialmente os juros. A perda de reputação das autoridades exigiria o corte de importantes cabeças. E a perda de credibilidade da política econômica aumentaria enormemente o sacrifício da produção e do emprego em futuros esforços anti-inflacionários.
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