Mãos ao alto: chegou o socialismo eleitoral
GUILHERME FIUZA
REVISTA ÉPOCA
Sempre que a coisa apodrece para o lado do governo popular, surge a mesma, providencial e infalível palavra de ordem: reforma política! (Assim mesmo, com exclamação.) A opinião pública, que acredita em tudo, passou a acreditar um dia que a reforma política é a mãe de todas as faxinas. Foi assim na época do mensalão, quando o PT conseguiu se fazer de vítima da praga do caixa dois (que todo mundo faz, como disse Lula). Qual foi a solução proposta contra o assalto do valerioduto? Reforma política! E aí está ela de novo, para ocupar o lugar da faxina que Dilma desistiu de fazer.
Qual a solução para o escândalo da absolvição da deputada Jaqueline Roriz, filmada recebendo uma propina de R$ 50 mil em espécie? Reforma política! É a grande panaceia, a cura para todos os males – a aspirina perfeita para um eleitorado que tem preguiça de prestar atenção nas falcatruas reais e prefere o bom e velho brado genérico contra os "malfeitos". Enquanto o Dnit continua em paz nas mãos do PR, sem uma única condenação ou mesmo um processo decente contra a farra dos superfaturamentos, o Brasil indignado vai discutir a reforma política.
Mas seria injusto afirmar que essa é uma discussão sobre o sexo dos anjos. Cada novo projeto de reforma política, mesmo com a vocação de não sair do papel, traz sua obscenidade própria. Até os anjos sabem que, no inferno das boas intenções "progressistas", o que é ruim sempre pode piorar. Duvida? Então olhe para o que está sendo proposto neste momento na Câmara dos Deputados.
Em nome da moralização das disputas eleitorais, o relator da Comissão Especial da Reforma Política, deputado Henrique Fontana (PT-RS), institui o financiamento público das campanhas. Ou seja: além da fortuna que os partidos já ganham com o horário eleitoral "gratuito" – pago pelo contribuinte, por meio de isenções fiscais às emissoras –, o Estado vai pagar também os marqueteiros, as camisetas, os cartazes e os santinhos que emporcalham as ruas de todo o país. Como o eleitor já deveria saber, quando o PT grita pela ética, é hora de segurar a carteira.
A reforma política é a aspirina perfeita para um eleitorado que tem preguiça de prestar atenção nas falcatruas reais
Mas o projeto que está saindo do forno não prevê só o financiamento público das campanhas. Serão permitidas também as doações privadas. Aí entra o toque de genialidade: para que as empresas não doem só para os candidatos mais fortes (ficando credoras de favores deles), as doações irão todas para o caixa único de um certo Fundo de Financiamento das Campanhas Eleitorais. Dali, o dinheiro será repartido com os candidatos pobres, que não representam o poder econômico.
Como ninguém pensou nisso antes? Com uma simples canetada petista, as empreiteiras são todas convertidas ao socialismo. O empresário que bancava um candidato para ficar "sócio" do mandato dele agora vai correndo dar o seu dinheiro para um fundo coletivo – tornando-se sócio do bem de todos e da felicidade geral da nação. E a quem esse empresário vai recorrer quando precisar de uma forcinha no governo ou no Parlamento? A Deus, que a tudo vê. Com toda a certeza, Ele não terá esquecido os que foram generosos nas eleições, passando cheques para a comunidade carente do político anônimo.
Como se vê, é fácil consertar o Brasil com a reforma política. Mas será que com esse festival de generosidade público-privada as campanhas não consumirão dinheiro demais? Claro que não. O relator pensou em tudo. Ele vai instituir também um teto para os gastos eleitorais. E ponto final. Se o poder econômico quiser turbinar seus candidatos além desse limite, só no caixa dois – o que também não tem problema, porque, como já foi dito, todo mundo faz.
Com tanto virtuosismo, talvez a reforma política queira também fixar um teto para o caixa dois. Vai dar um pouco de trabalho para calcular os recursos não contabilizados, mas o Brasil chega lá. Tudo pela faxina ética.
Qual a solução para o escândalo da absolvição da deputada Jaqueline Roriz, filmada recebendo uma propina de R$ 50 mil em espécie? Reforma política! É a grande panaceia, a cura para todos os males – a aspirina perfeita para um eleitorado que tem preguiça de prestar atenção nas falcatruas reais e prefere o bom e velho brado genérico contra os "malfeitos". Enquanto o Dnit continua em paz nas mãos do PR, sem uma única condenação ou mesmo um processo decente contra a farra dos superfaturamentos, o Brasil indignado vai discutir a reforma política.
Mas seria injusto afirmar que essa é uma discussão sobre o sexo dos anjos. Cada novo projeto de reforma política, mesmo com a vocação de não sair do papel, traz sua obscenidade própria. Até os anjos sabem que, no inferno das boas intenções "progressistas", o que é ruim sempre pode piorar. Duvida? Então olhe para o que está sendo proposto neste momento na Câmara dos Deputados.
Em nome da moralização das disputas eleitorais, o relator da Comissão Especial da Reforma Política, deputado Henrique Fontana (PT-RS), institui o financiamento público das campanhas. Ou seja: além da fortuna que os partidos já ganham com o horário eleitoral "gratuito" – pago pelo contribuinte, por meio de isenções fiscais às emissoras –, o Estado vai pagar também os marqueteiros, as camisetas, os cartazes e os santinhos que emporcalham as ruas de todo o país. Como o eleitor já deveria saber, quando o PT grita pela ética, é hora de segurar a carteira.
A reforma política é a aspirina perfeita para um eleitorado que tem preguiça de prestar atenção nas falcatruas reais
Mas o projeto que está saindo do forno não prevê só o financiamento público das campanhas. Serão permitidas também as doações privadas. Aí entra o toque de genialidade: para que as empresas não doem só para os candidatos mais fortes (ficando credoras de favores deles), as doações irão todas para o caixa único de um certo Fundo de Financiamento das Campanhas Eleitorais. Dali, o dinheiro será repartido com os candidatos pobres, que não representam o poder econômico.
Como ninguém pensou nisso antes? Com uma simples canetada petista, as empreiteiras são todas convertidas ao socialismo. O empresário que bancava um candidato para ficar "sócio" do mandato dele agora vai correndo dar o seu dinheiro para um fundo coletivo – tornando-se sócio do bem de todos e da felicidade geral da nação. E a quem esse empresário vai recorrer quando precisar de uma forcinha no governo ou no Parlamento? A Deus, que a tudo vê. Com toda a certeza, Ele não terá esquecido os que foram generosos nas eleições, passando cheques para a comunidade carente do político anônimo.
Como se vê, é fácil consertar o Brasil com a reforma política. Mas será que com esse festival de generosidade público-privada as campanhas não consumirão dinheiro demais? Claro que não. O relator pensou em tudo. Ele vai instituir também um teto para os gastos eleitorais. E ponto final. Se o poder econômico quiser turbinar seus candidatos além desse limite, só no caixa dois – o que também não tem problema, porque, como já foi dito, todo mundo faz.
Com tanto virtuosismo, talvez a reforma política queira também fixar um teto para o caixa dois. Vai dar um pouco de trabalho para calcular os recursos não contabilizados, mas o Brasil chega lá. Tudo pela faxina ética.
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