Outdoor de grife
WALCYR CARRASCO
REVISTA VEJA - SP
Estou cercado de roupas. Camisetas, calças, bermudas e casacos se amontoam em torno de mim. O vendedor corre de um lado para o outro à procura de peças que possam conter minha barriga. O que, convenhamos, nem sempre é uma tarefa fácil. Vejo de longe uma camiseta colorida.
— Quero essa! — aviso.
Ele encontra meu número. E que maravilha, é laaarga! Mas, na frente, em letras garrafais, está estampado o nome da grife. Boto de lado.
— Não tenho vocação para outdoor — explico.
— Mas todo mundo valoriza isso — ele argumenta.
— Não tenho vocação para outdoor — explico.
— Mas todo mundo valoriza isso — ele argumenta.
Explico que mesmo assim não quero. E começa o problema. Quase todas as peças ostentam a marca. Transformam a roupa em propaganda. Saio sem comprar praticamente nada.
Boa parte das pessoas que conheço age de maneira oposta. Adora exibir a etiqueta. E, se não está aparente, dá um jeito de dizer qual é. Mulheres mostram, orgulhosas, malas e bolsas de uma marca conhecida com as iniciais do criador por todo lado. Eu acho supercafona.
Tenho uma amiga que só consegue comprar roupas e peças caras. Sente-se chiquérrima. Mostra a bota e avisa que é da marca tal. Estende o pulso, exibe o relógio, é de outra. Gasta uma grana que não tem. Paga tudo em vezes suadas. Será chique estourar o cartão de crédito? E para quê? Mal se vira, as amigas, também carregadas de grifes, comentam:
— Ah, mas aquelas botas não ficaram bem para ela.
— O vestido não faz o gênero dela. Parece pendurado num varal!
Fiquei sabendo que garotos de periferia se matam para comprar uma camiseta de etiqueta famosa em dez pagamentos. Botam orgulhosos, é sua melhor roupa. E, claro, querem ostentar a marca. Assim sentem que pertencem a um mundo do qual, de fato, não fazem parte. Mas eles eu entendo. Vivemos em uma sociedade que, na prática, tem preconceito contra a pobreza.
Fiquei sabendo que garotos de periferia se matam para comprar uma camiseta de etiqueta famosa em dez pagamentos. Botam orgulhosos, é sua melhor roupa. E, claro, querem ostentar a marca. Assim sentem que pertencem a um mundo do qual, de fato, não fazem parte. Mas eles eu entendo. Vivemos em uma sociedade que, na prática, tem preconceito contra a pobreza.
Ser “chique”, “elegante”, é um valor implantado desde cedo na cabeça das crianças. Como se a pobreza fosse vergonha, um fracasso pessoal. A roupa de grife supostamente avaliza a entrada em um mundo da elite. Só supostamente, óbvio. Isso explica as garotas que compram bolsas com as famosas iniciais em camelôs. Falsas! (Aliás, bolsa fake existe em todo o mundo.) Mas e daí se são clonadas? A maioria das pessoas nem percebe. Ainda mais de noite, na balada. Às vezes estou numa festa e observo as pessoas ostentarem suas roupas e peças. Vou dando mentalmente apelidos:
“Aquela lá é a senhorita dez vezes sem acréscimo”.
“Aquele botou a camiseta do camelô e está se sentindo o máximo”.
“Aquele botou a camiseta do camelô e está se sentindo o máximo”.
O que me espanta é que até pessoas bem de vida querem parecer mais através das marcas. A necessidade de status é tão grande que artistas e até socialites costumam pedir emprestados joias e carros de luxo para ir a festas e programas de televisão!
Reconheço: roupas e peças de grife se tornaram desejadas porque oferecem desenhos especiais, tecidos bons. Caem melhor no corpo. Assim, não acho errado usar esses produtos. Mas não se pode esquecer: nomes nacionais também oferecem o mesmo caimento e elegância. O que eu acho tremendamente cafona é se transformar em vitrine, ostentando o nome dos fabricantes por todo o corpo. A pessoa fica igual a uma geladeira carregada de ímãs. Na última vez, quando o vendedor me apresentou a décima peça estilo outdoor, perguntei:
— Mas quanto vão me pagar para fazer propaganda da marca?
Quase fui expulso. Acho que ele nunca tinha ouvido essa pergunta. E, para mim, não haveria nada mais lógico.
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