Futuros corruptos
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 31/08/11
RIO DE JANEIRO - Não será surpresa para esta coluna se, em poucos anos, a corrupção no Brasil diminuir -por incapacidade dos novos candidatos a corruptos de exercer seu métier. Porque, digam o que disserem sobre os que têm sangrado o Brasil nos últimos séculos, não se lhes pode negar competência. Sabem como drenar as riquezas para suas contas de forma a não ser apanhados, exceto quando já não há como obrigá-los a devolver.
Mas o que fazer com uma geração, hoje em idade escolar, que, segundo pesquisa em 250 escolas, não sabe somar ou diminuir de cabeça, nem conferir o troco num supermercado? Com essas limitações, como os nossos futuros corruptos farão as complicadas conversões em dólares ou euros a seu favor? Como conseguirão calcular suas comissões nas obras envolvendo o governo e as empreiteiras? E que critérios usarão para levar o seu na distribuição das verbas federais?
Segundo a pesquisa, realizada pelo movimento Todos Pela Educação, muitas dessas crianças leem mal e escrevem ainda pior, erram metade das palavras num ditado e têm dificuldade para identificar o tema e personagens de um texto. Assim, como farão para interpretar relatórios sigilosos, alguns de grande complexidade técnica, sem os quais não se descobrem as brechas para melhor roubar?
Parece que os meninos também não conseguem sequer ler as horas num relógio digital. Imagine se tiverem de acertar seus ponteiros com um corruptor que use um belo Patek com mostrador analógico, daqueles com algarismos romanos.
E dizem que os garotos não sabem descrever a diferença entre um triângulo e um retângulo. O que eu acharia normal se fosse entre um triângulo isósceles e um escaleno -com os quais também nunca me entendi, além de ter faltado à aula sobre catetos e hipotenusas. Daí, talvez, ter-me dado mal em todos os triângulos em que me meti.
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