O tripé do equilíbrio instável
JOSÉ SERRA
BLOG DO SERRA
No transcurso desde ano, até 16 de agosto, entraram no Brasil US$ 63,2 bilhões. Assim, apesar do saldo em conta corrente do Balanço de Pagamentos ser crescentemente negativo, o país continua a acumular reservas. Entra dinheiro de sobra, ampliando nosso passivo externo.
É ingênua a ideia de que o caudaloso movimento de dólares é causado por uma solidez da economia brasileira. A razão é outra: a taxa de juros do Brasil é a mais alta do planeta. Nenhum país tem uma taxa nem sequer próxima à nossa; em termos reais, é cinco ou seis vezes maior do que a taxa média dos países emergentes. Assim, as aplicações financeiras vêm para cá faturar a diferença entre os juros brasileiros e os que prevalecem na economia internacional.
Trata-se de um negócio do outro mundo, que dá prejuízo ao Brasil. As reservas brasileiras, aplicadas no exterior, rendem juros baixíssimos: entre 1% e 2% ao ano, ou até menos, nas atuais circunstâncias. Mas, para comprá-las, o governo capta dinheiro em reais a 12,5% ao ano. Além disso, com a apreciação da moeda nacional, as reservas perdem valor em reais.
Assim, no primeiro trimestre de 2011, o custo fiscal de carregamento das reservas foi de R$ 19 bilhões. Para que se tenha uma idéia, os gastos federais em Saúde nesse período ficaram próximos a R$ 13 bilhões. Em Educação, R$ 8,2 bilhões. No ano passado, aquele custo chegou perto dos R$ 50 bilhões.
Outro prejuízo provém da sobrevalorização do real em relação às moedas de outros países, começando pelo dólar. Repete-se à saciedade que esse é um fenômeno mundial, não apenas brasileiro, pois o dólar está se enfraquecendo. Mas o fenômeno brasileiro é maior, pois somos os primeiros do mundo em matéria de apreciação cambial, precisamente por causa dos juros.
A sobrevalorização cambial encarece as nossas exportações de produtos manufaturados, que perdem competitividade. E barateia as importações desses produtos, que destroem capacidade produtiva doméstica. Em ambos os casos, a desindustrialização provoca a perda de bons empregos. Do ponto de vista da balança comercial, a tragédia só não é maior devido ao forte aumento dos preços das exportações brasileiras de matérias-primas e alimentos.
Não apenas por causa da perda de competitividade em relação ao exterior, mas também por causa dela, a economia brasileira vem perdendo dinamismo. O indicador de atividade econômica calculado pelo Banco Central mostrou retração em junho. O consumo industrial de energia elétrica em São Paulo cresceu somente 3% no primeiro semestre em relação a igual período do ano passado.
O governo não foi além de algumas medidas pontuais para tentar arrefecer a enxurrada de dólares. Como se previa, independentemente do seu mérito, não funcionaram. O erro vem de longe.
Em 2002, as taxas de juros brasileiras eram muito altas devido, principalmente, à restrição cambial e à maior inflação — em razão da instabilidade provocada pela campanha eleitoral. Mas, acompanhando o novo governo (Lula), a instabilidade passou, e a restrição cambial foi sendo eliminada, até virar bonança pelo simples fato de que os preços das exportações brasileiras de commodities — alimentos e matérias primas -— aumentaram espetacularmente. Um presente dos céus que, no entanto, foi desperdiçado, pois acabou não tendo uma contrapartida proporcional no aumento do investimento público ou industrial; o que cresceu mesmo foi o consumo, especialmente importado.
Montou-se, assim, a armadilha do tripé: “juros elevados com câmbio supervalorizado, alta carga fiscal e baixos investimentos públicos federais”. É a armadilha que prende os passos do atual governo, que ainda está longe de encarar o assunto, pois nem sequer o diagnóstico foi por ele assimilado. Em economia, como na saúde, a eficácia depende da prevenção. Mas se a crise internacional vem ao Brasil pela enxurrada de dólares (é o começo), em vez de diques preventivos para atenuar seus impactos, foram feitos declives acentuados para facilitar seus efeitos.
É ingênua a ideia de que o caudaloso movimento de dólares é causado por uma solidez da economia brasileira. A razão é outra: a taxa de juros do Brasil é a mais alta do planeta. Nenhum país tem uma taxa nem sequer próxima à nossa; em termos reais, é cinco ou seis vezes maior do que a taxa média dos países emergentes. Assim, as aplicações financeiras vêm para cá faturar a diferença entre os juros brasileiros e os que prevalecem na economia internacional.
Trata-se de um negócio do outro mundo, que dá prejuízo ao Brasil. As reservas brasileiras, aplicadas no exterior, rendem juros baixíssimos: entre 1% e 2% ao ano, ou até menos, nas atuais circunstâncias. Mas, para comprá-las, o governo capta dinheiro em reais a 12,5% ao ano. Além disso, com a apreciação da moeda nacional, as reservas perdem valor em reais.
Assim, no primeiro trimestre de 2011, o custo fiscal de carregamento das reservas foi de R$ 19 bilhões. Para que se tenha uma idéia, os gastos federais em Saúde nesse período ficaram próximos a R$ 13 bilhões. Em Educação, R$ 8,2 bilhões. No ano passado, aquele custo chegou perto dos R$ 50 bilhões.
Outro prejuízo provém da sobrevalorização do real em relação às moedas de outros países, começando pelo dólar. Repete-se à saciedade que esse é um fenômeno mundial, não apenas brasileiro, pois o dólar está se enfraquecendo. Mas o fenômeno brasileiro é maior, pois somos os primeiros do mundo em matéria de apreciação cambial, precisamente por causa dos juros.
A sobrevalorização cambial encarece as nossas exportações de produtos manufaturados, que perdem competitividade. E barateia as importações desses produtos, que destroem capacidade produtiva doméstica. Em ambos os casos, a desindustrialização provoca a perda de bons empregos. Do ponto de vista da balança comercial, a tragédia só não é maior devido ao forte aumento dos preços das exportações brasileiras de matérias-primas e alimentos.
Não apenas por causa da perda de competitividade em relação ao exterior, mas também por causa dela, a economia brasileira vem perdendo dinamismo. O indicador de atividade econômica calculado pelo Banco Central mostrou retração em junho. O consumo industrial de energia elétrica em São Paulo cresceu somente 3% no primeiro semestre em relação a igual período do ano passado.
O governo não foi além de algumas medidas pontuais para tentar arrefecer a enxurrada de dólares. Como se previa, independentemente do seu mérito, não funcionaram. O erro vem de longe.
Em 2002, as taxas de juros brasileiras eram muito altas devido, principalmente, à restrição cambial e à maior inflação — em razão da instabilidade provocada pela campanha eleitoral. Mas, acompanhando o novo governo (Lula), a instabilidade passou, e a restrição cambial foi sendo eliminada, até virar bonança pelo simples fato de que os preços das exportações brasileiras de commodities — alimentos e matérias primas -— aumentaram espetacularmente. Um presente dos céus que, no entanto, foi desperdiçado, pois acabou não tendo uma contrapartida proporcional no aumento do investimento público ou industrial; o que cresceu mesmo foi o consumo, especialmente importado.
Montou-se, assim, a armadilha do tripé: “juros elevados com câmbio supervalorizado, alta carga fiscal e baixos investimentos públicos federais”. É a armadilha que prende os passos do atual governo, que ainda está longe de encarar o assunto, pois nem sequer o diagnóstico foi por ele assimilado. Em economia, como na saúde, a eficácia depende da prevenção. Mas se a crise internacional vem ao Brasil pela enxurrada de dólares (é o começo), em vez de diques preventivos para atenuar seus impactos, foram feitos declives acentuados para facilitar seus efeitos.
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