Nas asas do vice
ELIANE CANTANHÊDE
folha de são paulo - 10/06/11
Eis um segredinho colhido ontem no Senado, um dia depois da posse da senadora de primeiro mandato Gleisi Hoffmann (PT-PR) na Casa Civil: o verdadeiro apelido dela entre os senadores não era ‘trator’ e sim... ‘normalista’.
Gleisi chega cedo, bem arrumada, aplicada, com toda a lição de casa pronta, os assuntos separados, um a um, por clips. No plenário, sabia tudo de cor e ainda dava ‘cola’ para os colegas governistas.
O lado bom é que ela leva as coisas a sério. O ruim é que esse perfil se aproxima do de Dilma, suscitando dúvidas sobre a valia de uma ‘Dilma da Dilma’.
Lula precisava de uma Dilma, mas para que Dilma precisa de outra Dilma? Seria melhor um Lula da Dilma. Ou um novo Palocci, mercadoria em falta.
A ex-senadora e atual ministra da Pesca, Ideli Salvatti (PT-SC), cotada para a vaga de articuladora política no lugar de Luiz Sérgio (PT-RJ), está longe de preencher esse vácuo. Brasília é para profissionais, não para normalistas e marinheiros de primeira viagem.
A queda de Palocci, entre tantas outras coisas, deixou constrangedoramente evidente a fragilidade dos atuais quadros do PT.
Os mais experientes (Dirceu, Palocci, Genoino) caíram. O segundo escalão (Paulo Teixeira, Luiz Sérgio) não está dando para o gasto.
Resultado: o novo ministro das Relações Institucionais tem de ser do PT, mas não tem ninguém do partido à altura.
Se for o atual líder petista na Câmara, Cândido Vaccarezza, vira alvo do fogo amigo. Se for Ideli, vai ser na base do ‘não tem tu, vai de tu mesmo’.
Até nos restaurantes do Congresso há rodinhas do PMDB fazendo enxurradas de críticas ao governo, dessas de deixar o PSDB com tom governista.
Mas, na verdade, a cúpula peemedebista se diverte. Confirmado o triunvirato Dilma-Gleisi-Ideli, Dilma vai precisar muito de Michel Temer. E, quanto mais Dilma lhe der asas, mais corre o risco de ficar à sombra do próprio vice.
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