Bolor
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/06/11
A Justiça italiana não é Berlusconi e a Itália não pode ser reduzida a um tarado que está de passagem
QUANDO LI a notícia sobre a libertação do italiano senti a espinha gelar. Imaginava que viria, mas isso não diminui o impacto da ofensa.
"Onde você está? Volta para casa agora, seu tio Vittorio foi sequestrado, estou na outra linha com seu pai, onde você está que não volta para casa?"
Interrompi a leitura da matéria de capa da Folha de ontem para voltar ao dia 4 de junho de 1975.
"Estou na rua Laerte Assunção, mãe, aqui no Jardim Paulistano, parei para telefonar da casa da Carolyn. Aconteceu um probleminha com o carro, juro que não tive culpa", tentei explicar.
Em 1975, a Carolyn era minha colega de classe. Viria a ser minha comadre, fui madrinha de seu casamento e batizei seu primogênito.
Comunicada a base, voltei a lidar com a fumaça branca que insistia em sair pelo capô da alfinha Giulia que eu pegara "emprestada" da minha mãe. O dano parecia sério. Havia óleo esparramado por toda parte, um cárter caído no chão e, ao lado da peça avariada, um bueiro que brotava do asfalto feito um cogumelo. A Lella Lombardi aqui tinha passado, a toda, em cima de uma boca de lobo no meio da rua e degolado o cárter do carro da mãe.
Alguém falou em sequestro? Melhor voltar para casa. "Carolyn, pede pra sua mãe me levar, vai?"
Minha mãe só foi conhecer os detalhes do ocorrido pela TV. Para fazer caixa, os terroristas das Brigadas Vermelhas resolveram sequestrar meu tio, empresário da região do Piemonte sem vínculos políticos.
Vale lembrar que a Itália era e continua sendo uma democracia. Não havia motivo para que pegassem em armas para livrar o país de um regime de alguma forma opressivo ou ditatorial.
Lula ofende a história recente de um país inteiro quando, no último dia de trabalho, para não ter de se explicar, vai lá e assina documento negando a extradição de um fugitivo julgado e condenado.
O ex-presidente deu mesmo foi uma bofetada na cara da Itália. Justamente no país que sua mulher escolheu para adotar. E por que? Apenas para marcar posição antitudo o que o premiê italiano simboliza.
Só que a Justiça italiana não é Berlusconi e a Itália não pode ser reduzida a um tarado que está lá de passagem desfrutando da oportunidade. Não chegam a 30% os italianos que votaram em Berlusconi (voto não obrigatório, lembra-se?), mas Lula preferiu dar guarida a um criminoso e reforçar a imagem do Brasil como hospedaria do rebotalho do mundo.
Em vez do consenso que diz estar buscando, a diplomacia do PT radicaliza e aliena. A repercussão do caso foi um desastre. Lula sabia que isso viria, por que teria deixado a decisão para o último dia?
E não ousem dizer que a deliberação esteve nas mãos do Supremo. A sorte já estava decidida bem antes, mas foi assinada ali, na descida da rampa do Planalto, uma coisa indigna, mas que diz muito sobre a índole de quem empunhou a caneta. Com isso, Lula desrespeitou os conterrâneos de dona Marisa e quem preza o Estado de Direito.
Já a sucessora do presidente aproveitou para desrespeitar as mulheres e os direitos civis ao esnobar a Nobel da Paz iraniana Shirin Ebadi. Semana triste para a diplomacia tapuia, porém instrutiva, em que se constatou que o espírito de Tarso Genro continua brilhando na política externa brasileira.
"Onde você está? Volta para casa agora, seu tio Vittorio foi sequestrado, estou na outra linha com seu pai, onde você está que não volta para casa?"
Interrompi a leitura da matéria de capa da Folha de ontem para voltar ao dia 4 de junho de 1975.
"Estou na rua Laerte Assunção, mãe, aqui no Jardim Paulistano, parei para telefonar da casa da Carolyn. Aconteceu um probleminha com o carro, juro que não tive culpa", tentei explicar.
Em 1975, a Carolyn era minha colega de classe. Viria a ser minha comadre, fui madrinha de seu casamento e batizei seu primogênito.
Comunicada a base, voltei a lidar com a fumaça branca que insistia em sair pelo capô da alfinha Giulia que eu pegara "emprestada" da minha mãe. O dano parecia sério. Havia óleo esparramado por toda parte, um cárter caído no chão e, ao lado da peça avariada, um bueiro que brotava do asfalto feito um cogumelo. A Lella Lombardi aqui tinha passado, a toda, em cima de uma boca de lobo no meio da rua e degolado o cárter do carro da mãe.
Alguém falou em sequestro? Melhor voltar para casa. "Carolyn, pede pra sua mãe me levar, vai?"
Minha mãe só foi conhecer os detalhes do ocorrido pela TV. Para fazer caixa, os terroristas das Brigadas Vermelhas resolveram sequestrar meu tio, empresário da região do Piemonte sem vínculos políticos.
Vale lembrar que a Itália era e continua sendo uma democracia. Não havia motivo para que pegassem em armas para livrar o país de um regime de alguma forma opressivo ou ditatorial.
Lula ofende a história recente de um país inteiro quando, no último dia de trabalho, para não ter de se explicar, vai lá e assina documento negando a extradição de um fugitivo julgado e condenado.
O ex-presidente deu mesmo foi uma bofetada na cara da Itália. Justamente no país que sua mulher escolheu para adotar. E por que? Apenas para marcar posição antitudo o que o premiê italiano simboliza.
Só que a Justiça italiana não é Berlusconi e a Itália não pode ser reduzida a um tarado que está lá de passagem desfrutando da oportunidade. Não chegam a 30% os italianos que votaram em Berlusconi (voto não obrigatório, lembra-se?), mas Lula preferiu dar guarida a um criminoso e reforçar a imagem do Brasil como hospedaria do rebotalho do mundo.
Em vez do consenso que diz estar buscando, a diplomacia do PT radicaliza e aliena. A repercussão do caso foi um desastre. Lula sabia que isso viria, por que teria deixado a decisão para o último dia?
E não ousem dizer que a deliberação esteve nas mãos do Supremo. A sorte já estava decidida bem antes, mas foi assinada ali, na descida da rampa do Planalto, uma coisa indigna, mas que diz muito sobre a índole de quem empunhou a caneta. Com isso, Lula desrespeitou os conterrâneos de dona Marisa e quem preza o Estado de Direito.
Já a sucessora do presidente aproveitou para desrespeitar as mulheres e os direitos civis ao esnobar a Nobel da Paz iraniana Shirin Ebadi. Semana triste para a diplomacia tapuia, porém instrutiva, em que se constatou que o espírito de Tarso Genro continua brilhando na política externa brasileira.
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