Presença nas tragédias
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/01/11
RIO DE JANEIRO - Uma coisa que o ex-presidente Lula detestava era ser associado a qualquer coisa desagradável. Temia que sua presença numa catástrofe, natural ou não, fosse interpretada como ele sendo o responsável por ela, e que isso lhe custasse um ou dois pontos nos seus quase 90% de aprovação popular. Devia saber o que fazia -porque passou ao largo das tragédias e saiu invicto do governo.
Foi pena, porque, com isso, deixou de prestar solidariedade a seus eleitores vitimados no acidente da TAM, nos vazamentos da Petrobras, nas enchentes de Santa Catarina, Goiás, Rio e muitas outras. Se a omissão não lhe afetou a popularidade, sua presença no teatro dos acontecimentos talvez até lhe rendesse dividendos políticos.
Por muito menos -por ter levado alguns dias para visitar New Orleans, em 2005, quando a passagem do furacão Katrina provocou a inundação que arrasou a cidade-, o então presidente George W. Bush quase foi crucificado. Pois Lula nunca cogitou molhar os pés em situação parecida.
A primeira vez que vi um governante arregaçar as mangas e comparecer em pessoa a uma crise foi em 1961, quando Carlos Lacerda, governador da Guanabara, foi negociar no centro do pátio com os presos amotinados na penitenciária Lemos de Brito, no Rio. Entre os detentos ao seu redor estava Gregorio Fortunato, ex-chefe da guarda pessoal de Getulio Vargas e que mandara matar Lacerda em 1954, no episódio da rua Tonelero. Como toda a minha geração, eu não gostava de Lacerda, mas tive de admirar sua presença ali -era o que um homem faria.
A presidente Dilma já deu a entender que, em algumas coisas, seu estilo de governo será diferente do de seu mentor. Espera-se, portanto, que, até por ser mulher, ela compareça às catástrofes. Para sentir mais de perto o quanto as vítimas delas precisam de ajuda.
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