Retratos do Brasil
Ricardo Melo
FOLHA DE SÃO PAULO - 28/01/11
SÃO PAULO - Edemar Cid Ferreira, diz sua biografia, militava no Partido Comunista lá pelos anos 50 do século passado. O gosto pelo teatro aproximou-o de Plínio Marcos.
Chegou a participar da encenação da primeira peça do autor, "Barrela", cujo enredo tratava das desventuras de um rapaz violentado na prisão. Desde então, as artes, a política e a cadeia parecem nunca ter abandonado a vida de Edemar.
O interior da casa do ex-banqueiro, revelado em reportagem memorável de Mario Cesar Carvalho, exibe fausto digno de um faraó. As obras espalhadas pela residência vão de peças de grande valor artístico a outras de gosto duvidoso.
A miscelânea, de todo modo, cria um ambiente típico da revista "Caras", na qual, aliás, Edemar sempre foi presença assídua. Já os retratos de modelos nuas ou seminuas comparecem para dar um inevitável toque berlusconiano à propriedade.
Foi fazendo política que o ex-banqueiro conseguiu reunir tamanho acervo. Graças a amizades como a de José Sarney, Edemar ergueu um banco vendido à opinião pública como exemplo de sucesso empresarial. A agenda de telefones se encarregava tanto de manter os cofres irrigados com dinheiro público como de afastar o livro caixa dos rigores da fiscalização.
Edemar voltou a ter contato com a cadeia, ao vivo e não sobre um tablado, quando nem Brasília conseguiu impedir seu banco de desmoronar. Até hoje não se sabe direito a dimensão do rombo. Sabe-se só que foi de bilhões, e que dele escaparam amigos influentes informados com antecedência de que o negócio estava prestes a ruir.
Condenado a 21 anos, Edemar recorre da sentença em liberdade, depois de alguns meses na prisão. É duvidoso que volte para lá, uma vez que a Justiça nacional é pródiga em artifícios para quem é bem relacionado, tem dinheiro e contrata um bom advogado. Conhecendo-se o Brasil, ninguém se surpreenda se, em breve, Edemar reaparecer em grande estilo nas colunas sociais.
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