Revolução
Eliane Cantanhêde
FOLHA DE SÃO PAULO - 28/01/11
Às vésperas da 3ª Reunião de Cúpula da América do Sul com os países árabes, dia 16 de fevereiro, em Lima, o mundo árabe está, ou parece estar, em chamas.
Começou na linda e periférica Tunísia, chegou à Argélia, bateu na Jordânia, está agora no Egito -líder árabe- e já chegou no Iêmen. Impossível fingir que não há um movimento que extrapola fronteiras e atinge toda a região. Mesmo que ainda restrito a jovens e à classe média conectada à internet.
Até agora, o Brasil tem ficado diplomaticamente quieto, observando, sentindo, esperando ver como fica antes de se manifestar. Mas quem deve estar mesmo em polvorosa são os Estados Unidos, que já perderam há tempos o Irã e não podem se dar ao luxo de perder também o poderoso Egito (80 milhões de habitantes versus 10 milhões da Tunísia) e a Jordânia.
Para ter noção da importância estratégica de ambos: dos 22 países da Liga Árabe, apenas dois reconhecem oficialmente Israel: justamente... Egito e Jordânia, que fazem fronteira com o mega-aliado dos EUA naquelas bandas.
É por isso que os EUA balançam entre princípios (a democracia) e o pragmatismo (manter os aliados no poder). No máximo, como a UE, pedem que o regime de Hosni Mubarak permita manifestações e evite a violência. Ah, tá!
As rebeliões têm tudo a ver. São resultado de ditaduras que se eternizam, não respeitam direitos coletivos nem individuais e transformam os países em bolsões de pobres e ignorantes. No Egito, estima-se que metade da população ganha de US$ 1 a US$ 2 por dia e que 40% são analfabetos.
As informações não circulam e até os sermões das mesquitas são previamente censurados. Mas nem o fechadíssimo mundo árabe consegue escapar do instrumento mais globalizado da história da humanidade - a internet. Mark Zuckerberg, do Facebook, é o maior revolucionário do planeta.
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