Andam dizendo por aí: Brasil
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/11/10
"Risco fiscal" no governo Dilma, controle de capitais, real forte, nada afeta ânimo de bancões com o Brasil
A "GUERRA FRIA" das moedas continua? Não houve acordo nenhum no G20? A Irlanda é o novo Portugal? O contágio irlandês vai derrubar o euro em relação ao dólar? A China pode apertar a política monetária e abalar a especulação altista com commodities que o Brasil vende? A política monetária expansionista dos Estados Unidos não vai funcionar? Decisões importantes nos EUA vão subir no telhado devido ao impasse político, Barack Obama vs. republicanos?
Sabe-se lá; pode ser que sim. Uma saraivada de relatórios de bancões estrangeiros sobre o final de 2010 e início de 2011 observa os "riscos", "as incertezas", o blá-blá-blá de costume. Mas está difícil de encontrar uma avaliação pessimista sobre o Brasil e sobre os mercados financeiros dos países ditos emergentes. Ou, na prática, parece haver mais otimistas do que pessimistas até em relação ao mercado financeiro do mundo rico. Desemprego? Governos hiperendividados? Esse é outro departamento. Desde agosto, há animação geral na praça do mercado.
"Muito riso, pouco siso", diziam as mães e avós de antigamente.
Crédito crescendo a 20% ao ano, China comprando commodities como sempre e o efeito do "bônus demográfico" sobre o mercado de trabalho devem manter o Brasil crescendo entre 4,5% e 5% em 2011, com inflação em torno de 5%. Parece tudo óbvio, decerto, mas são eles que estão dizendo, administradores e consultores do dinheiro grosso.
Há "risco político" na indefinição da política fiscal (de gastos do próximo governo)? Há, dizem. Mas não estão ligando muito ou acreditam mesmo que Dilma Rousseff vai entregar um resultado fiscal razoável. Muitos levaram a sério as declarações de Mantega na semana passada a respeito de contenção de gastos público e de crédito estatal.
Há risco de mais intervenções no câmbio, controle de capitais? Há, nada radical, dizem, talvez mais compra de reservas e alguns controles adicionais a fim de evitar valorizações agudas do real. Mas isso importa quase apenas para quem vai fazer operações financeiras talvez afetadas por novas medidas de limitação à entrada de capitais. Não muda em nada o panorama geral da economia. Não muda também a perspectiva de investimentos de estrangeiros na Bolsa. É futurologia, claro, mas são eles que estão dizendo -os economistas dos bancões.
Os ativos financeiros estão caros? A Bolsa, pelo menos, não está, dizem. Sugerem comprar ações de bancos e de incorporadoras.
Tumulto na Europa? Pode ser desagradável, mas haveria poucos estilhaços por aqui. O risco de confusão na Europa agora se chama Irlanda, que pode ter de gastar mais com seus bancos quebrados. Por causa disso, o custo de financiamento da dívida da Grécia, de Portugal e da Irlanda, claro, foi às alturas. Ou seja, há o risco de nova gripe financeira, tal como a causada pelo vírus grego, embora o vírus irlandês vá encontrar a Europa mais vacinada por mundos e fundos reunidos para combater o contágio helênico.
O final do ano nos mercados emergentes, Brasil inclusive, pode ser mais agitado por "realização de lucros", quedas temporárias nos mercados, mas a perspectiva para 2011 é que tanto os mercados de dívida como as ações ainda serão muito mais interessantes aqui do que nos países do Ocidente rico.
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