A mosca do Planalto gosta de redes de TV
ELIO GASPARI
O GLOBO - 14/11/10
Aquilo que pareceu uma má notícia no mercado financeiro virou uma novidade do mundo das comunicações. O empresário Silvio Santos, com um rombo de R$ 2,5 bilhões no banco PanAmericano, contou à repórter Monica Bergamo que uma das maiores redes de televisão brasileira está à venda.
Vale relembrar que, no início do governo de Nosso Guia, chegou ao Planalto um boato segundo o qual haveria empresários interessados no SBT e ele disse: "Não dá pra gente comprar?".
Quem é "a gente", não se sabe, mas é possível que "a gente" tenha influenciado a Caixa na compra, por R$ 1,4 bilhão, de um buraco de R$ 2,4 bilhões do PanAmericano.
Silvio Santos frustrou as intenções de atravessadores que gorjeavam soluções capazes de contornar o problema do PanAmericano.
Na manhã de quinta-feira, o empresário Eike Batista anunciou que poderia estar interessado no SBT. À tarde, desmentiu.
A ideia de que "a gente" precisa controlar uma rede de televisão está nas asas das moscas que vivem no Planalto. Em 1981, depois da falência da Rede Tupi, a Editora Abril habilitou-se para comprar a emissora e estava na reta de chegada quando foi abatida pelo tiro da desconfiança política. Ele partiu do general Otávio Medeiros, chefe do Serviço Nacional de Informações. Silvio Santos levou a Tupi.
Rezando pra Xangô, o Enem de 2011 irá bem
Nosso Guia disse bem a respeito da catástrofe do Enem: "Se for necessário fazer uma prova, faremos. Se for necessário fazer duas, faremos. Se for necessário fazer três, faremos, mas o Enem continuará a ser fortalecido".
No seu sentido literal, Lula fez mais uma bravata. O Inep e seus educatecas não têm capacitação para organizar uma prova, muito menos três. Para fortalecer o Enem, a doutora Dilma precisa aprender a lição: um MEC de burocratas-companheiros que mandam "A" fazer uma coisa, sabendo que disso resultará uma ordem para "B" e outra para "C", só produzirá novos desastres.
O MEC comprou a aposta do fracasso em abril do ano passado, um mês depois de lançar o Enem/Vestibular, quando anunciou que só realizaria uma prova. Prometera duas. Os educatecas sabiam que com isso mantinham os estudantes sob a velha tensão do vestibular. Se as provas fossem duas, a tensão seria diluída. Esqueceram-se de que concentravam a probabilidade do próprio fracasso.
À época, disseram que em 2010 as provas seriam duas. Recuaram e repetiram o erro.
Para apressar a prova de 2009, o Inep reduziu todos os prazos de elaboração e impressão das provas. Neste ano, apressaram o treinamento dos fiscais.
Em maio do ano passado, o MEC disse que a Polícia Federal cuidaria da segurança do exame. Isso foi feito à la educateca: o Inep mandou um ofício à PF, recebeu de volta outro, informando que ela não estava capacitada nem autorizada para a tarefa. Em vez de ligar o alarme, arquivaram o ofício da PF.
Nenhum dos dois exames naufragou por conta de orientações pedagógicas. Todas as ruínas decorreram de erros logísticos, porque "A" (o MEC) deu uma ordem para "B" (o Inep), que contratou "C" (os consócios Connasel e Cespe/Cesgranrio), e todos acharam que o assunto estava resolvido.
O erro básico de 2009 foi o abandono da segunda prova. Agora, juntaram outro, que continua encravado. A realização da prova em papel é arriscada, megalomaníaca e anacrônica. Se o MEC e o Inep começarem a trabalhar amanhã, em 2011 poderão ser realizados no mínimo dois exames, on-line. Basta copiar o sistema do exame TOEFL americano e expandir o banco de questões de 10 mil para no mínimo 100 mil.
Para isso, será necessário seguir a "oração pra Xangô" proposta por Carlos Lyra e Vinicius de Moraes:
"Pra pôr pra trabalhar gente que nunca trabalhou".
Demofobia
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, continua desconfortável com o povo da cidade em que vive.
Criou um Bilhete Único de ônibus com duas horas de validade e descobriu-se que o benefício é inútil para pessoas que consomem o tempo da tarifa numa só perna da viagem. É impossível ir de Bangu ou de Realengo ao Centro em duas horas quando há muito trânsito.
A primeira reação do doutor Eduardo foi de ensinar: "Às vezes, a pessoa está acostumada a pegar uma determinada linha. Ela tem que ver que pode pegar outras linhas que a levarão ao mesmo destino".
Ou seja, a lentidão do trânsito do Rio é um problema irrelevante e o prazo exíguo do cartão é despiciendo, pois o problema está numa patuleia que não sabe andar de ônibus.
Em São Paulo, o Bilhete Único dura três horas, serve para quatro viagens e tem uma tarifa integrada à rede de trilhos. No Rio, a prefeitura ainda não conseguiu se entender com a SuperVia nem com o Metrô, joias da privataria dos anos 90.
Clero e fardão
Com a morte do padre Fernando Bastos de Ávila, abriu-se uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Ele foi antecedido por dois religiosos, e um setor tradicionalista sustenta que o novo acadêmico deveria sair dos quadros da Igreja. O cardeal Eugenio Salles seria o herdeiro da honraria.
Como a Academia não tem cadeiras cativas para corporações, um dos conhecedores de sua etiqueta teme que o tradicionalismo estimule duas outras candidaturas saídas do clero: o ex-franciscano Leonardo Boff ou frei Betto.
No voto, as chances de ambos seriam nulas, mas, na bibliografia, cada um deles já publicou dezenas de livros, alguns de grande valor.
Aloprados
Há aloprados no entorno do planejamento político do governo de Dilma Rousseff.
Três dias depois de sua eleição, a doutora perfilhou uma proposta de aumento da carga tributária, com a ressurreição da CPMF.
Passou-se uma semana e acrescentaram um novo item ao programa da doutora: o aumento do próprio salário.
Madame Natasha
Madame Natasha adora acrobacias verbais da malandragem e concedeu uma de suas bolsas de estudos aos doutores que explodiram o Banco PanAmericano.
Descoberto um buraco de
R$ 2,5 bilhões no banco, a turma do PanAmericano informou que "inconsistências contábeis não permitem que as demonstrações financeiras reflitam a real situação patrimonial da entidade".
Não quiseram dizer que o ervanário sumiu.
EUA humilhados
A truculência e o mau humor dos funcionários da segurança aérea e da imigração dos Estados Unidos cobraram seu preço. A SkyTrax, empresa que avalia a qualidade dos serviços de 165 aeroportos, colocou os americanos numa situação humilhante. No item da qualidade de atendimento pelos serviços de segurança, só o de São Francisco entrou num ranking de 165 aeroportos, em 38º lugar.
O melhor do mundo é o de Beijing. Entre os dez mais amigáveis, oito estão na Ásia e dois na Europa.
Os brasileiros não foram avaliados.
Costura
O governador eleito Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), sonham com uma fusão dos dois partidos.
Como nem os doidos acham que o DEM quer levar o PMDB para a oposição federal, resta só uma possibilidade: a turma do ex-PFL, ex-PDS, ex-Arena quer mais uma vez mudar de nome para entrar no governo.
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