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Tomarei emprestado o título de uma obra de Mario Vargas Llosa para intitular o meu comentário. Foi criada, na passada reunião do Grupo do Rio, no México, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), com a finalidade de incomodar o presidente Barack Obama, que tem deixado claro que os latino-americanos devem encarar os seus próprios problemas, sem pretender que os Estados Unidos ou os demais países desenvolvidos os equacionem. É uma atitude imatura de quem não quer abrir mão das vantagens da casa paterna, mas deseja fazer uso da sua liberdade, evidentemente, quando lhe convém. A proposta de criação de tal organismo foi do presidente mexicano, Felipe Calderón, sendo aceita imediatamente pelos mandatários presentes. A primeira nota da nova organização consistiu em deixar do lado de fora os Estados Unidos e o Canadá. Qual teria sido o critério dessa exclusão? A meu ver, de pura e simples retaliação e de complexo de inferioridade. Não podem participar de um foro que abrigue as Américas os países que tenham chegado ao Primeiro Mundo. O único a se opor a essa maluca exclusão foi o presidente colombiano, Álvaro Uribe. Mas ficou em minoria e ainda teve de responder com firmeza aos grosseiros ataques de Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia. O Brasil, como é de praxe no atual governo, assumiu uma posição ambígua, pois em outros foros quer aparecer como membro dos países que deixaram para trás o subdesenvolvimento. Mas, nessa oportunidade, Lula não perdeu a chance de aparecer na foto como um dos que apregoam o discurso terceiro-mundista. A retórica do mandatário brasileiro foi lamentável. Centrou as suas reivindicações na solidariedade à presidente argentina, Cristina Kirchner, diante da questão das Ilhas Malvinas. Como se tal reclamação tivesse algum sentido, justamente quando o governo de Buenos Aires afunda na corrupção do enriquecimento ilícito, praticado à luz do dia pelo casal presidencial. Lula dançou o ridículo tango orquestrado pela Casa Rosada em período de crise. Algo bem diferente da sóbria atitude da diplomacia brasileira quando o bebum Leopoldo Galtieri, 28 anos atrás, afundou o seu país numa guerra suicida, como saída para a corrupção e a ingovernabilidade em que naufragou o regime militar argentino. Um organismo paralelo à Organização dos Estados Americanos (OEA), mas sem contar com os países mais desenvolvidos do Hemisfério. Os quais, diga-se de passagem, garantem aos latino-americanos boa parte das compras dos seus produtos. No caso das relações do Canadá com Cuba, os canadenses abriram as portas ao comércio com a ilha, permitindo ao regime dos irmãos Castro superar de forma limitada o bloqueio estadunidense. Neste último aspecto, ao excluir o Canadá, foi desastrosa a participação dos cubanos na criação do organismo paralelo. É explicável a raiva de alguns governos da região em face dos Estados Unidos: estes pagam 60% das contas da OEA. Raiva típica de adolescente imaturo. Vamos ver como os fundadores da nova entidade vão pagar as contas da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos. Pois, ao que tudo indica, alguns deles não gostam de arcar com os gastos desses organismos. Só mostram interesse quando podem auferir vantagens imediatas. É claro que a posição da OEA ficou muito enfraquecida ao longo da insossa gestão de José Miguel Insulza, que se dobrou ao critério do politicamente correto a fim de não desagradar aos "progressistas" Chávez e dueto Castro. Nos episódios que tiveram lugar em 2008, diante do bombardeio, pelo Exército colombiano, do acampamento das Farc no Equador, a OEA foi praticamente nula. O secretário-geral Insulza não queria desagradar, de jeito nenhum, aos dois governos que estavam cercando a vizinha Colômbia, ao homiziar incondicionalmente os traficantes-guerrilheiros nos seus respectivos territórios. Desaparecerá a OEA? Possivelmente, não. Respondo alegando três razões. Em primeiro lugar, porque a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos é apenas em esboço e a OEA, apesar dos pesares, é uma entidade que funciona há várias décadas e presta serviços aos seus membros nos terrenos educacional, cultural, jurídico, de saúde pública e de obras de infraestrutura. Em segundo lugar, porque, cedo ou tarde, os vários países fundadores da nova comunidade vão perceber a necessidade de lhe dar rumos positivos, a fim de não deixá-la cair nas garras dos ditadores comunistas que querem alastrar o seu regime às restantes nações latino-americanas e caribenhas. Refiro-me aos irmãos Castro e a Chávez. Não há dúvida de que o modelo pelo qual este optou, na sua "revolução bolivariana", é o comunismo. O fanfarrão de Caracas já o tem anunciado de forma clara. E tanto ele quanto os tiranos cubanos preferirão ver reduzida a cinzas a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos se perceberem que não a podem dominar hegemonicamente, como é do gosto dos dirigentes marxistas-leninistas. Em terceiro lugar, porque os Estados Unidos e o Canadá continuarão negociando os seus tratados bilaterais de livre-comércio com os países da região, como já fizeram com o Chile e o Peru e estão fazendo, em fase final de negociação, com a Colômbia e vários países centro-americanos, ademais da vinculação do México ao Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), que ainda permanece em pé, apesar da crise financeira internacional. Conclusão: a criação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos tem mais a aparência de uma "utopia arcaica", construída olhando pelo retrovisor da História de protecionismos, preconceitos e autoritarismo, herdada da nossa ancestral tradição contrarreformista. Ricardo Vélez Rodríguez é coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) |
quarta-feira, março 10, 2010
RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ
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