A comparação entre as versões inicial e final do programa a ser apresentado no congresso do PT, de quinta a sábado, mostra que o texto, depois de passar pelo crivo do Planalto, ganhou tom mais reverente em relação ao atual governo. Antes, falava-se no "sucesso da transição que Lula realizou", como se a "verdadeira" gestão do partido estivesse por vir. Agora, a referência é simplesmente ao "sucesso alcançado por Lula".
A versão anterior pregava "melhor gestão dos programas de transferência de renda, que perderão importância na medida em que o crescimento acelerado provoque mais empregos". A nova, mais cautelosa, quer "aprimoramento permanente dos programas".
Marca registrada. Menções genéricas a sucessos administrativos contidas na primeira versão do programa do PT agora são sempre acompanhadas de crédito explícito para o "governo Lula".
Questão de gênero. Antes, as referências ao futuro falavam no "próximo presidente". Alguém cuidou de alterar para "presidenta".
Sossega-Fiesp. O texto inicial era direto na defesa da jornada de trabalho de 40 horas", contra as 44 atuais. O novo defende "a construção de consenso para lograr a jornada de trabalho de 40 horas".
Cláusula Marina. No trecho sobre infraestrutura, quando se fala em "construir novas hidrelétricas para fazer frente aos desafios da aceleração do crescimento", foi incluída a observação de que isso deve ser feito "com respeito ao meio ambiente".
Focalizado. Por fim, em sintonia com o discurso que Dilma fará no encerramento do congresso, foi incluído no programa um trecho sobre a necessidade de "reconhecer a dimensão estratégica da juventude para o desenvolvimento do país e, assim, garantir, por meio de políticas específicas, o desenvolvimento integral dos jovens brasileiros".
Rebolation. Ontem, no "Café com o Presidente", o aconselhamento de Lula aos carnavalescos em geral foi além do "se beber, não dirija": "Se tiver dançando também, dance com responsabilidade, evite qualquer confusão".
Pela boca. Advogados enxergaram nas palavras de Marco Aurélio Mello, que em entrevista manifestou a intenção de votar novamente contra a concessão de habeas corpus a José Roberto Arruda, uma antecipação que pode embasar eventual pedido de impedimento do ministro quando o caso for julgado pelo plenário do Supremo.
Fazer o quê? Para evitar a pecha de defensora de Paulo Octávio, a ala do DEM antes resistente ao pedido de expulsão do governador em exercício do DF agora admite resolver o assunto no voto.
DNA. Em pesquisa encomendada por entidade empresarial para avaliar a repercussão do Arrudagate, 49,5% dos entrevistados em Brasília associam o escândalo a Joaquim Roriz (PSC), antecessor do governador preso e candidato declarado a voltar ao cargo no ano quem vem.
Melhor esperar. O enroscado premiê italiano, Silvio Berlusconi, que deveria chegar a Brasília nesta quinta, adiou a visita para março.
Nova Anac 1. O governo fechou os nomes para as três vagas abertas na cúpula da Anac. Carlos Pellegrino, atual superintendente da agência de aviação civil, será o diretor de Infraestrutura Aeroportuária. Sílvio Holanda, assessor técnico da presidente, Solange Vieira, cuidará de Operações de Aeronaves.
Nova Anac 2. Por fim, Marcelo Guaranys será reconduzido ao cargo de diretor de Regulação Econômica da agência. As indicações, todas elas de civis, representam vitória de Solange. Ela conseguiu afastar pressões da FAB, que queria indicar militares para esses postos.
Tiroteio
"O Arruda é problema do DEM, da Polícia Federal e da Justiça."
Contraponto
ET Em "A Rotativa Parou - Os Últimos Dias da Última Hora de Samuel Wainer", Benicio Medeiros conta que certa vez um fotógrafo conhecido como Cai-Cai -"tão feio, desenxabido e mal ajambrado que chegava a dar pena"- foi cobrir uma solenidade no Palácio das Laranjeiras durante o governo do marechal Castelo Branco (1964-1967).
Ao passar diante dele, o presidente parou e perguntou:
-O senhor é daqui?
-Sou da "Última Hora"- informou Cai-Cai, desafinado.
Castelo insistiu:
-Não, perguntei se o senhor é daqui.
E, apontando para o chão:
-Daqui, do planeta Terra!
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