terça-feira, fevereiro 16, 2010

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Baile dos mascarados

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/02/10


SÃO PAULO - Dilma Rousseff se deixa fotografar com a pequena Mercy no colo. A cena da ministra-candidata segurando a filhinha adotiva e negra de Madonna no camarote oficial do governador do Rio é imbatível em matéria de pop-populismo pré-eleitoral-carnavalesco.
A ministra ainda desceu do camarote para dançar no chão do sambódromo com um gari que varria a passarela do samba entre uma escola e outra. Dilma, a vassoura e seu gari brilharam diante dos flashes, ensaiando passos como se fossem mestre-sala e porta-bandeira.
No Carnaval, disse a ministra, as pessoas "se libertam" de opressões do dia a dia. Dilma tenta se libertar da armadura tecnocrática, sua língua natural. Vestiu a fantasia da foliã e investe na gramática da demagogia sem vacilações.
"Vilma", como o povão a chamou recentemente num ato público, procura aprender com Lula as artes da política palanqueira.
Ela e José Serra estiveram nos últimos dias no Galo da Madrugada, em Recife, e nos desfiles de bloco de Salvador. O tucano e o Carnaval não se bicam, parece óbvio. Mas não é esse o pior problema. Na Bahia, Serra fazia questão de se explicar: "Não vim aqui como palanque eleitoral, vim para curtir pessoalmente".
E era tanta a curtição no cercadinho demo-tucano soteropolitano que Ivete Sangalo, ao avistar o governador do alto do trio elétrico, disparou ao microfone: "Ali está José Serra. Está com os olhos cansados, meu filho. Olhinhos de sono. Bota um energético pra dentro, meu filho, se não você não segura".
Pode-se deduzir desse constrangimento carnavalesco que Serra também faz demagogia, mas ao contrário. É candidato, mas diz não ser. Talvez até goste de Carnaval, mas dá a impressão de fazer um esforço imenso para se distrair com a alegria dos outros.
Os tucanos vivem dias de aflição. Se fosse marqueteira, Ivete Sangalo poderia ter dito ao governador: "Bota o candidato pra fora, meu filho, se não você não segura".

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