Outra carta da Dorinha
O GLOBO - 14/02/10
“Caríssimo! Beijíssimos. Escolhe um lugar decente. Sim, tenho pensado muito no que nos aconteceu nestes últimos anos. Lembro das vezes em que eu e o Mario Amato nos encontrávamos, nos abraçávamos e chorávamos, aterrorizados, ele com o que esperava o empresariado nacional com a eleição do Lula, eu com os horrores que passaríamos a ver em matéria de moda, em Brasília. (Eu não tinha dúvida de que Lula tomaria posse de macacão). Ambos temíamos o que nos reservava o futuro sob uma ditadura do proletariado, e não adiantava tentar pensar no gulag como um spa para emagrecimento involuntário. Meu marido na ocasião, cujo nome me escapa no momento, chegou a construir um abrigo anti-PT, onde nos refugiaríamos, com nossa prataria, alguns enlatados e águas Perrier e San Pellegrino até que chegassem os americanos. Finalmente apareceu uma força política capaz de nos salvar do PT – o próprio PT! O governo Lula não foi nada do que a gente imaginava e nem as roupas da dona Marisa chegaram a assustar, muito. E preciso dizer uma coisa: foi bom o Fernando não propor ao Lula que comparassem guarda-roupas em vez de governos, pois o Lula, no quesito passeio completo, quem diria, venceria. Não se tem notícia de uma transformação tão radical na política brasileira desde que o Zé Dirceu perdeu o seu ‘r’ de Passa Quatro.
Enfim, me preparo para o Carnaval, com vitaminas, meditação e líquidos, muitos líquidos. Não, este ano não serei madrinha de nenhuma bateria. Tive um sonho em que meu salto ficava preso no asfalto, eu morria atropelada por trezentos ritmistas e era retirada da pista pelos garis dentro de um tonel de lixo, triste fim para uma mulher que, como disse alguém, justificou o século. Não pergunte qual! Da tua precavida
Dorinha”.
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