Iniciamos o novo século com muitas esperanças e sonhos.
Pensávamos que o mundo tivesse chegado a um amadurecimento tal que pudéssemos conviver com o diferente e no respeito mútuo. Entre tantos acontecimentos intolerantes em todos os cantos do mundo, um deles foi simbólico: em março de 2001 foi destruída uma das maiores estátuas de Buda já esculpidas pelo homem. Ficava a 240 km de Cabul, no Afeganistão, e era do século V da era Cristã.
Era patrimônio da humanidade. Os “donos do poder” da época acharam que não poderiam tolerar tal “idolatria” e não fazia parte da “cultura” do momento. Os governantes passaram e os responsáveis de hoje estão procurando reconstruir o que um dia foi destruído.
Em nosso país há cer ta confusão com relação ao “Plano Nacional de Direitos Humanos”.
Um dos objetivos do plano é o de “desenvolver mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União”, além de outras ideias e conceitos que mereceriam ser ainda mais discutidas.
Ficaremos apenas com esta questão. A decisão de não ter símbolos já é uma opção por um dos segmentos religiosos.
Um país laico é aquele que respeita todas as religiões e sabe acolher a cultura de seu povo. Ditaduras intolerantes são aquelas que impõem ou uma única religião ou apenas o ateísmo. Na democracia todos podem se manifestar e são chamados a respeitar as ideias dos outros.
A cultura cristã e católica integra a história de nosso país. Temos nomes de cidades, ruas, locais e até mesmo em nossa bandeira ideias e símbolos ligados a diversos grupos que fazem parte de nossa nacionalidade.
Trata-se, antes de tudo, de uma questão de preservação da memória de nossa história e das raízes culturais da nossa identidade brasileira.
Querer coibir a ostentação dos símbolos da cultura que berçou e construiu a nossa história é, isto sim, um verdadeiro sinal de intolerância.
O papel do Estado não é o de promover uma ideologia laicista, como se o laicismo não fosse também uma forma de religião. A função do Estado laico, longe de ser a de provocar o desenraizamento cultural e religioso ou coibir a manifestação pública de símbolos religiosos é a de garantir a liberdade religiosa à sociedade e a seus membros, em suas múltiplas manifestações, preservados a justa ordem pública e o respeito devido à diversidade.
A Igreja sempre procurou e procura estar em defesa dos direitos e valores humanos, porém, os dúbios caminhos ora escolhidos são realmente comprometedores e não ajudarão na construção de uma nação mais justa e solidária, que é o sonho comum de todos nós.
A estátua do Cristo Redentor, que, do cume do Corcovado, é um símbolo não só do Rio de Janeiro, mas do Brasil, que a ninguém ofende, seja para todos nós um anúncio de alegre acolhimento na construção da paz e da fraternidade e que dá a todos as boas-vindas de um povo feliz, livre e que quer viver e construir a paz!
D. ORANI JOÃO TEMPESTA é arcebispo metropolitano do Rio de Janeiro |
Nenhum comentário:
Postar um comentário