A ENERGIA dos ventos deixou ontem de ser um exotismo marginal na produção de eletricidade no Brasil. O governo contratou em leilão projetos de usinas eólicas com capacidade de gerar 1.805 MW, pouco mais de um quarto da potência instalada de uma usina do rio Madeira, em Rondônia. A energia estará disponível a partir de 2012. Hoje, todas as usinas de eletricidade movidas a vento no país são capazes de produzir cerca de 600 MW. Para começar pelas boas notícias, o preço médio da energia do leilão foi muito competitivo, R$ 148,39 por MWh. O governo havia fixado um teto de R$ 189 por MWh (megawatt-hora). No mercado, que sempre chora, dizia-se que alguns projetos seriam capazes de se sujeitar ao limite de preço do governo, mas que não haveria propostas próximas de R$ 140 por MWh. Mas houve até propostas entre R$ 130 e R$ 140, embora algumas empresas gigantes, como a portuguesa EDP, tenham desistido do leilão (a EDP tem um parque eólico de 2.500 MW nos EUA). O teto do preço para o leilão "normal" de energia elétrica marcado para este mês era de R$ 144 MWh (o leilão foi cancelado, pois a oferta majoritária era de energia "suja" e, porque, por ora, sobra energia devido à crise). A energia eólica ainda é tida como cara. Tanto que a associação do setor, Abeeólica, insiste em que a energia dos ventos seja leiloada apenas em certames "especiais", sem concorrer com outras fontes. Mas, pelo leilão de ontem, talvez a energia eólica não precise tanto de disputas "café com leite". "Talvez", ressalte-se. Apesar de racional e simpático, no médio e longo prazos, a adesão aos ventos tem problemas. Há grande potencial de energia eólica em locais remotos do Nordeste, isolados das redes de transmissão. Custa caro fazer rede de transmissão. Faltam coisas simples como boas estradas. Sim, é preciso transportar pás de 30 metros e torres de 90 metros dos geradores, que demandam carretas e guindastes especiais. Faltam engenheiros e técnicos especializados. Investidores estrangeiros que ontem acompanhavam o leilão observam ainda que se sentiriam mais seguros em investir no país (em parques eólicos e fábricas de equipamentos) se houvesse uma espécie de "programa de metas" para o setor, infraestrutura melhor e leis mais claras (no caso, incentivos fiscais garantidos por mais tempo, pelo que se pôde depreender das conversas). Na sexta-feira passada, o setor se irritou com a decisão do Confaz que prorrogou apenas até o final de janeiro de 2010 a isenção de ICMS para equipamentos de energia eólica e solar, desconto que já dura 12 anos. Mas na quarta-feira da semana passada o governo federal desonerou os aerogeradores do IPI. Há ainda gente no governo de má vontade com o projeto de eólicas, pois a produção de energia pelos ventos é instável e não pode ser estocada. Mas as novas hidrelétricas do país também padecem desse defeito. São usinas de "fio d'água" (que, grosso modo, geram energia na proporção da vazão do rio, não podendo estocar a água para tempos mais secos). Mas o pessoal da EPE, estatal de pesquisa e planejamento energético, argumenta que, no caso brasileiro, as eólicas têm um papel complementar importante -venta mais quando chove menos. |
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