Afrontas à lei não se tornam aceitáveis em função do momento em que são praticadas. O presidente Lula praticamente não desceu do palanque no segundo mandato, mas é agora, à medida que se aproxima do calendário eleitoral de 2010, que o descaso do Planalto com as regras de regulação de campanhas políticas fica mais gritante.
Até porque, como hoje há um candidato oficial definido pelo método mexicano do dedazo presidencial, à espera apenas da unção pelo PT, o atropelamento dos prazos legais pela movimentação da ministra Dilma Rousseff não é mais questão de interpretação, mas um fato indiscutível.
Tanto quanto isso é inaceitável que a indicada de Lula para disputar a ocupação do gabinete dele a partir de 1º de janeiro de 2011 já esteja em campanha e continue em cargo público, custeado pelo contribuinte.
Além das normas e regulamentos, há limites éticos comezinhos que deveriam levar o Palácio a pensar duas vezes antes de usar de maneira desabrida o Erário para viabilizar a candidatura de Dilma.
Não há, porém, indícios de qualquer consciência pesada no Planalto, nem no PT. O próprio Lula já analisa sem rodeios a provável conjuntura político-eleitoral dos estados no ano que vem sem preocupação em sequer dissimular que a ministra já é a candidata chapabranca.
Pelo contrário: leva-a a tiracolo em viagens ao exterior e decidiu escalá-la como chefe da delegação brasileira ao encontro de Copenhague sobre meio ambiente, assunto reconhecidamente fora da agenda de preocupações da ministrachefe da Casa Civil, notabilizada por seu viés pró-desenvolvimento a qualquer custo — inclusive os ambientais.
Por distorções da política brasileira, Copenhague virou mais um palanque para o projeto lulista de 2010. Esses desvios não são de hoje.
Há 50 anos, o jornal, na edição de 8 de outubro de 1959, analisava o fato de Lott, candidato à sucessão de JK, manter-se no governo: “Mais de uma vez tem O GLOBO estranhado que o marechal Teixeira Lott ainda se conserve à frente da Pasta da Guerra, e que sua sensibilidade pessoal e cívica não lhe denuncie a impossibilidade moral de acumular o cargo de ministro com sua candidatura à sucessão de Sr. Juscelino Kubitschek.” Ontem quanto hoje, a candidatura cumpria os prazos legais de desincompatibilização — no caso atual, em abril do ano que vem —, mas atropelava a ética de forma irredutível.
Um dos problemas dos usos e costumes da vida político-partidária brasileira é nela a história se repetir, e não como farsa |
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