Não faz muito, Lula festejava, como uma conquista do país, a ausência de "trogloditas de direita" entre os prováveis candidatos à sua sucessão. De fato: Dilma Rousseff, José Serra, Ciro Gomes, Marina Silva... inclua-se Aécio Neves na lista. Nenhum deles caberia no perfil do "troglodita". Quer dizer que não existe direita no Brasil? Ou, talvez, que a direita não esteja representada na política nacional? Talvez seja útil separar "direita" de "trogloditas". Estes continuam por toda parte, fazendo valer seus interesses. A turma do velho patrimonialismo, por exemplo, encontra-se arrebanhada à sombra do lulismo, protegida e bem alimentada. Sob os tucanos também era assim, de modo menos despudorado. O Brasil, FHC costuma dizer, é mais atrasado do que conservador. Pode-se pensar em termos de direita e esquerda, mas a política real se explica melhor pelo parasitismo do Estado do que pelo crivo ideológico. A não ser da boca para fora, o país desconhece a figura do empresário liberal. O capitalismo aqui sempre foi anfíbio, patrocinado pelo Estado -sirva de exemplo o caso caricato das privatizações financiadas pelo BNDES. Bancos e empreiteiras nunca faturaram tanto como agora, na gestão "progressista" do PT. Com Lula, voltou ser de bom-tom mamar no Estado, basta invocar algum "interesse estratégico". Mas e a direita, onde está? Se por isso entendermos o ideário liberal clássico, para o qual o Estado constitui um entrave à realização do indivíduo e a vida social deve ser regulada pelo mercado, então Lula tem razão: essa direita está politicamente órfã. O antigo PFL tenta ocupar o espaço, mas até mesmo a bandeira pela redução da carga tributária é uma impostura nas suas mãos. O amálgama da direita é o antipetismo, sobretudo nas classes médias do Sul e do Sudeste. Além da aversão à figura de Lula, essa direita se imagina espremida entre a farra dos ricos e a esmola dos pobres. E culpa o lulismo pela frustração de seus sonhos de exclusividade social. Se hoje vota em Serra, é menos por gosto do que por falta de opção. |
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