Ontem a cotação do dólar resvalou para abaixo de R$ 1,70 e agora deve escorregar em direção a R$ 1,60. Aflitos com o tombo inexorável, empresários e economistas pedem uma nova política cambial, como se fosse uma operação simples, algo como tirar o paletó e vestir uma jaqueta.
Querem, por exemplo, que o Banco Central (BC) assuma uma atitude mais agressiva na compra de moeda estrangeira para sustentar determinado piso nas cotações, digamos de R$ 2.
Há nessa pressão pelo menos uma posição correta: a de que o objetivo é conseguir uma maior demanda de moeda estrangeira. E compras agressivas do BC iriam nessa direção.
O problema começa quando se tenta definir o que seja essa atitude "mais agressiva". Até agora, toda política de intervenção foi realizada com esterilização de reais. Ou seja, cada compra de dólares no câmbio interno é casada com venda de títulos públicos com o objetivo de retirar do mercado os reais injetados nas operações de compra. Com isso, o BC evita que mais reais no mercado produzam inflação. Não é verdade que a operação aumente o endividamento porque cada R$ 1 mil em títulos públicos empurrados para o mercado correspondem a R$ 1 mil em créditos em moeda estrangeira incorporados às reservas.
O problema está em que a esterilização monetária restabelece a relação anterior de oferta e procura entre o real e o dólar, e a tendência do câmbio se perpetua. Se é mesmo para inverter a tendência, então seria preciso que a procura de dólares aumentasse bem mais. Daí porque, ao reivindicar "maior agressividade", esses analistas querem, no fundo, que não haja enxugamento de reais por meio da colocação de títulos públicos.
O problema é que, ao sustentar determinado piso nas cotações do dólar sem retirar os reais despejados por ocasião das compras, o BC estaria subvertendo sua política monetária (política de juros). Ela deixaria de ser usada para ancorar os preços (controlar a inflação) e passaria a ser usada para ancorar o câmbio.
Em outras palavras, além de destruir o câmbio flutuante (porque a cotação do dólar seria o piso agora perseguido pelo BC), a mudança unilateral da política cambial destruiria outro pilar da atual política econômica, que é o sistema de metas de inflação.
Em termos práticos, a tal agressividade do BC na formação de reservas deixaria a inflação ao deus-dará - que é o que hoje acontece na Argentina.
Alguns economistas ainda retrucam: essa operação teria de vir acompanhada de rigoroso controle das despesas públicas e de aumento do superávit primário (sobra de arrecadação para amortização da dívida), de maneira que o governo não precisasse emitir moeda e, portanto, não fosse criada inflação.
Mas, se é por aí, então por que não levar às últimas consequências a proposta de rigoroso controle orçamentário de forma que a carga tributária e os juros na ponta do crédito pudessem ser reduzidos e, nessas condições, permitissem a queda do custo Brasil? Se isso acontecesse, o setor produtivo teria melhores condições de garantir competitividade sem que a valorização do real fosse obstáculo insuperável para o aumento das exportações e o aumento das vendas no mercado interno.
CONFIRA
Um a um, os grandes bancos americanos estão apresentando lucros acima do esperado. E, no entanto, há apenas um ano estavam quase todos praticamente quebrados.
Qual foi o milagre? Em alguma proporção, foi o socorro oficial que impediu o afundamento. Em outra, foram os aumentos de capital que lhes deram condições de sustentar empréstimos de qualidade duvidosa.
Mas a maior parte daquilo que há meses foi chamado de ativos podres continua lá, nos balanços dos bancos, ou até mesmo fora deles, contabilizado por um valor arbitrado pelos próprios bancos. |
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