EUA põem "reequilíbrio" do comércio mundial na pauta, mas demais grandes PIBs não tendem a se comover muito
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"NÃO VAI TER FMI monitorando nada", diz uma autoridade brasileira que participa da reunião do G20, nos EUA. O assessor de Lula refere-se a um dos zum-zuns em torno da ideia lançada pelos americanos de "reequilibrar" o crescimento das maiores economias do mundo. Isto é, trata da participação do FMI no "monitoramento" desse "acordo", digamos, sobre a "nova ordem econômica mundial". Tudo entre aspas, dada a grandiloquência ridícula das palavras e o fato de que tais ímpetos de reforma da natureza murcham logo após o bafafá tedioso das cúpulas. Esse "reequilíbrio" seria uma coordenação internacional de políticas de modo a fazer com que os americanos se endividem e consumam menos, poupem mais, importem menos capital e exportem mais bens e serviços; chineses e cia., além de alemães, deveriam consumir mais e reduzir seus superavit comerciais (vender no exterior mais do que compram). Isso para ficar no resumo "pop" de um problema bem enrolado e que foi um dos fundamentos da crise de 2007-2009. A autoridade brasileira diz que, no resumo final do encontro do G20, o "comunicado", o FMI aparecerá um tanto como Pilatos num credo meio vago, no máximo como fornecedor de estatísticas e pareceres sobre "desequilíbrios". Não que houvesse alguma possibilidade de que países como Estados Unidos, China, Japão e Alemanha alterassem políticas econômicas por "recomendação" do Fundo, uma ridicularia grotesca. Também é meio tola a ideia de que governos, mesmo o chinês, tenham a capacidade de modelar economias complexas a torto e a direito, muito menos se tal dirigismo depende de acordos internacionais politicamente difíceis e instáveis. Mudar o padrão de gasto público, incentivar ou não investimentos, tentar interferir no câmbio, tudo isso pode influenciar o caráter "poupador" ou "consumidor" de uma economia, mas está muito longe de bastar. Não se trata, porém, de uma impossibilidade: "acordos" de fato puseram certa e provisória ordem na economia mundial depois da Segunda Guerra, por exemplo, mas a garantia de tais ordenamentos são canhões ou dinheiro grosso: a predominância de uma potência. A persistência dessa conversa de "reequilíbrio", muito enfatizada por Barack Obama, indica porém preocupações sérias. Primeiro, e mais óbvio, os EUA precisam arrumar sua casa; exportar mais pode dar impulso à recuperação econômica. A China, por sua vez, discute a ideia de "crescer para dentro" (consumir mais) desde antes da crise, dizem os entendidos no país -no mínimo, por correr o risco de uma crise devida a excesso de investimento. Na crise, porém, os chineses abriram a porteira do crédito e investem pesado a fim de evitar sua "recessão" (crescer "apenas" 6% ao ano). O interesse maior, porém, é americano. A resistência maior à "coordenação" vem de Brasil, Índia, Alemanha e Rússia, segundo a autoridade brasileira. Os chineses fazem pouco barulho. Podem assinar um papel qualquer sobre "cooperação" -não custa nada. Vão continuar a fazer o que lhes der na telha e vão ignorar apelos externos, como o fazem com as críticas a sua política cambial ou ao seu autoritarismo.
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