A política de acumulação de reservas do Banco Central é feita de olho em 2010. O Banco Central quer estar preparado para qualquer incerteza criada pelo ano eleitoral. Hoje o país tem US$ 223 bilhões. Elas continuarão subindo. O governo acha que a demanda pode retomar de forma mais forte do que se imagina.
Os empresários não estão tão certos disso, mas parte está zerando as perdas neste terceiro trimestre.
Aqui na coluna Bruno e eu conversamos com pessoas do governo e das empresas para sabermos como anda a economia neste início da reta final de um ano difícil. Os dois lados passaram uma avaliação positiva da economia, mas os empresários continuam preocupados com a demanda externa e o câmbio.
O setor automotivo foi um dos primeiros a sentir os efeitos da crise. Com o mercado interno congelado e as exportações em queda, montadoras cortaram produção e empregos. O setor entrou em recuperação, com incentivos de IPI e volta do crédito. O presidente da Fiat na América Latina, Cledorvino Belini, afirma que as vendas continuam em crescimento neste terceiro trimestre e que o setor fechará o ano em alta de 4%.
— O problema continua nas exportações, em queda de 40% no acumulado do ano até agosto — diz Belini.
A taxa de câmbio já está sendo, de novo, motivo de reclamação dos exportadores, mas é resultado da entrada de capitais. Uma delas é a operação de emissão de ações do Santander. A avaliação no governo é que não é comum uma empresa achar que tem mais condições de atrair capital na emissão de ações num país onde tem uma subsidiária do que no país sede. Isso mostraria a atratividade do Brasil.
A entrada forte de dólar derruba a cotação, mas pode ser uma poderosa aliada no fortalecimento das reservas.
Para que tantas reservas? O Banco Central percebeu que a velocidade de saída de capitais numa crise é muito maior agora do que já foi no passado. São inúmeros agentes, fundos, hedge funds, bancos, empresas, investidores remetendo recursos para portos supostamente seguros durante episódios de alta de aversão a risco. Por isso será mais confortável para o país ter bastante munição em caixa para atravessar o ano de 2010 quando, no calor do debate eleitoral, muitas incertezas podem se formar.
Os empresários estão olhando de forma mais imediata para seus problemas.
Afinal, muitas empresas só agora começam a ver a recuperação da demanda. Muitos setores foram turbinados pelo gasto público, através das políticas de incentivos fiscais.
Elas custaram aos cofres públicos preciosos R$ 17,3 bilhões em queda de arrecadação de janeiro a agosto.
O setor de eletrodomésticos foi um dos beneficiados pela desoneração tributária do governo. Dona de marcas como Brastemp e Consul, a Whirlpool previu no pior momento da crise que chegaria ao final deste ano com crescimento zero.
Nos três primeiros meses do ano, a empresa vendeu 6% a menos do que no mesmo período de 2008. E entrou no segundo trimestre prevendo uma nova queda de 20%.
Mas o mercado melhorou, o crédito voltou e a empresa vendeu 15% a mais.
— Neste terceiro trimestre crescemos mais 20%. Recuperamos as perdas da crise — diz Armando Valle Junior, diretor da Whirlpool.
O IPI reduzido para geladeiras, fogões e máquinas de lavar termina em 30 de outubro. O setor não espera uma extensão da medida, mas não está preocupado.
— Temos o Natal pela frente, e esperamos agora fechar o ano com crescimento de 6% nas vendas — afirma.
O setor químico teve grande oscilação de demanda, em parte ocasionada pelo câmbio. Uma das gigantes do mercado, a Quattor espera recuperar neste terceiro trimestre as perdas de 27% dos três últimos meses do ano passado. Calcula crescer 10% no mercado interno de julho a setembro frente ao trimestre anterior. Para Vitor Mallmann, presidente da empresa, com a recuperação já ocorrida no primeiro semestre, a empresa terá até um pequeno crescimento no acumulado do ano.
— O mercado acumulou estoques no pior momento da crise, mas já fez o ajuste.
Empresas voltarão a comprar mais resinas. Por isso, teremos um discreto crescimento neste ano.
Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, foi apanhada pela crise no meio de um ousado plano de abertura de lojas. O varejo foi menos atingido que a indústria, mas Luiza admite que o setor poderia estar melhor. Ainda sem números fechados do trimestre, a empresária acha que os dados vão mostrar crescimento das vendas.
— Esperamos um quarto trimestre melhor do que o do ano passado, que aliás foi o pior do ano — diz Luiza, mais esperançosa sobre 2010.
No governo acredita-se que as empresas erram quando mantêm arquivados seus planos de investimento. O país, na visão deles, terá forte aumento de demanda daqui para frente. Mas as empresas ainda estão preocupadas em curar as feridas do enorme tombo de um ano atrás.
É o caso do setor siderúrgico, que suspendeu bilhões em investimentos. Parte das feridas cicatrizou. Quatro altos-fornos foram religados.
Mas as perspectivas permanecem ruins: o consumo interno de aço bruto deve cair 19% neste ano.
— O governo nos cobra investimento, mas nosso uso de capacidade ainda está em 70%, abaixo da média histórica de 80% — afirma Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente executivo do Instituto Aço Brasil.
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