Quanto mais ou enquanto a crise amaina, mais distante fica a ideia de reformar e vigiar o sistema financeiro
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"C ÚPULA TERMINA em impasse" ou "fracasso" deve ser um dos títulos jornalísticos mais desgastados, embora em geral corretos. Nas páginas e nas telas do noticiário econômico, parecem não ser mais frequentes apenas que "tal ou qual coisa bate recorde" (se os recordes são tão frequentes, qual a importância de recordá-los?). Raramente rendem mais do que "impasse" as mortalmente enfadonhas rodadas Doha, as cúpulas sino-americanas, discussões internacionais sobre câmbio, sobre emissão de carbono, patentes, Palestina, camarões, Banco do Sul, pesca de baleias, barreiras comerciais argentinas, matança de focas, sanções da ONU, investimentos chineses no Brasil ou cúpulas "Gs" (G8, G20 etc.). Apesar de tanto "impasse", que significa rua ou beco sem saída, em francês, as cúpulas seguem caminho. Um regabofe na noite de hoje, em Londres, vai inaugurar mais uma reunião do G20 (reunião de ministros de economia). O último encontro de chefes de Estado do G20, em abril, até que teve lá sua utilidade. Serviu de palanque para os "líderes do mundo" proclamarem que haveria dinheiro bastante para tapar buracos nas contas dos países da periferia financeira, como os do Leste Europeu, o que ajudou a acalmar a banca, em especial a europeia. Mas, apesar de Lula ter proclamado que "saiu a regulação [das finanças mundiais]", no G20 de novembro de 2008, nada foi formalmente regulado. Quanto mais a crise amainar, menos incentivos para criar normas internacionais haverá. Nos jornais de seus países, autoridades econômicas matraqueiam sobre rendimentos de banqueiros e executivos, o que é um problema, mas nem de longe o essencial. Ou preparam terreno para conversas sobre como reduzir o gasto de dinheiro público ou quando começar a elevar juros -a tal "estratégia de saída", que convém ser coordenada entre os grandes países. É algum avanço. Mas politicamente circunstancial. Vai "sair a regulação"? Timothy Geithner, secretário do Tesouro dos EUA, apareceu ontem com um documento interessante sobre como aumentar a segurança, o capital e o controle sobre instituições financeiras grandes demais. Trata-se de novos padrões de controle de risco da atividade bancária (e interbancária). Mas havia padrões e limites quantitativos para a pirotecnia financeira de bancos antes do colapso de 2007/8. Os bancões do mundo, porém, fraudaram as normas, escondendo suas operações mais arriscadas. Na verdade, esconderam e fraudaram as normas nas fuças das autoridades financeiras, quando não com o apoio delas. Nem se mencionem os roubos puros e simples, à moda Madoff, que desmoralizaram a SEC, entre outras agências dos EUA e do planeta. Não se ouve muita conversa a respeito de jogar a conta da lambança em quem a provoca ou dela se aproveita. Os governos subsidiaram bancos, que ficaram com os lucros obtidos nos dias de loucura financeira. Os governos cobriram ou evitaram, na prática, prejuízos de grandes credores. E a finança mundial não paga o preço do seguro que acaba recebendo, do público, seguro que julga merecer, com a prepotência de costume. Que começa a brotar de novo, com a "normalização" econômica.
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