sexta-feira, setembro 04, 2009

LUIZ GARCIA

Chamem o Casé

O GLOBO - 04/09/09

Por alguma razão nunca explicada, o Brasil é um país de importantes arquitetos.

Vai ver, é porque não falta espaço. Ou porque a natureza ajuda: tantos cenários tão bonitos estimulam ao mesmo tempo que desafiam a imaginação do pessoal.

É verdade que, quando se pensa em arquitetura, a plateia pensa principalmente em Oscar Niemeyer, esse fenômeno de artista e profissional que não parou de trabalhar, aqui e lá fora, mesmo depois de chegar aos cem anos de idade. No artista, não se estranha a longevidade.

Mas no arquiteto, que precisa combinar a criatividade com o rigor técnico, seria natural esperar-se que aposentasse o lápis na idade com que outros profissionais se resignam a descansar, vendo o resto da vida passar.

O Rio certamente tem muita construção bonita convivendo, sem medo do confronto, com o trabalho de alto nível do Criador. É claro que também não nos faltam crimes arquitetônicos e de engenharia como, por exemplo, as muralhas de concreto que enfeiam Copacabana.

A passarela e o obelisco do Bar Vinte, obras de Paulo Casé, provocaram um episódio inédito na história de nossa arquitetura. Pela primeira vez, houve quase unanimidade na opinião popular sobre elas: o veredicto era de que simplesmente não deram certo.

Principalmente, a danada da passarela, principalmente porque nela ninguém passava: não levava a lugar algum e, segundo moradores, poderia servir de escada para ventanistas (se alguém não ainda não sabe, ou já esqueceu, são ladrões especializados em entrar pela janela da gente). O obelisco não é ilógico: até ajuda a separar as mãos do trânsito.

Mas o pessoal também não gosta, e parece que também está condenado.

Casé tem algum direito à indignação que tem demonstrado contra a limpeza da área. Nunca antes um governo se atrevera a meter a picareta em obra de um arquiteto de sua reputação.

Mas também é verdade que o atrevimento — se a expressão é correta — teve ibope altíssimo.

Há uma solução inteligente para tudo isso. Primeiro, atende-se à vontade popular, e o obelisco também vai por terra. Depois, chama-se um dos bons arquitetos da cidade, para propor uma solução igualmente estética e racional para aquela área de fronteira entre Ipanema e Leblon. Não seria absurdo que o convocado fosse o muito bom arquiteto Paulo Casé.

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