O "cara" cansou?
FOLHA DE SÃO PAULO 30/08/09
SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva emite crescentes sinais de que está cansado da pirotecnia verbal de seus pares latino-americanos. Mais de uma vez, em atos públicos ou entrevistas coletivas dessa turma, o presidente me olha com um sorriso maroto no canto da boca e uma cara de "eu-não-mereço".
Até aí, podia ser apenas leitura equivocada do gesto. Mas é a segunda vez em poucos meses em que Lula reclama publicamente do excesso de discursos de seus pares. Primeiro, na Cúpula das Américas (abril), em que ironizou o tempo que o nicaraguense Daniel Ortega gastou em sua fala, aliás uma peça patética.
Agora, em Bariloche, generalizou a crítica: "A gente vir para uma reunião como chefe de Estado e cada um ficar falando para seu público não dá certo".
Entendo Lula. Vai à cúpula do G20, que reúne grandes e emergentes, e faz sucesso. Vai aos Brics, os futuros grandes, segundo uma firma financeira interessada em lucrar com eles, e também faz sucesso. Aí, volta para o Sul, em que deveria mais ainda ser "o cara", e não consegue arrumar a casa. Não conseguiu convencer Álvaro Uribe de que não funcionou até agora o acordo Colômbia/Estados Unidos, e que, portanto, é preciso mudar de rumo.
Não consegue, nunca aliás, convencer Hugo Chávez a seguir a ordem do rei da Espanha ("porque no te callas", lembra-se?) e aceitar que a preservação da Unasul é o grande objetivo, que suplanta todos os demais, como diz Marco Aurélio Garcia, o assessor de Lula para temas internacionais.
Antes, já dissera ao presidente boliviano Evo Morales que não aceitava negociar "com uma espada no pescoço", em referência à nacionalização do gás.
Nesse ritmo, não demora e Lula também acabará proclamando o seu "cansei".
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