quinta-feira, agosto 20, 2009

AUGUSTO NUNES

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Eles fugiram da escola, escaparam da cadeia e agora mandam no Senado


Parece que foi há muitos séculos, e no entanto faz menos de 20 anos. No começo de 1990, já não era numericamente desprezível o bloco dos senadores que merecem longas temporada na cadeia, em regime de estudos forçados. Mas havia vida inteligente e homens de bem no Senado. Os melhores e mais brilhantes conseguiam, simultaneamente, enquadrar os imbecis sem remédio, manter os delinquentes sob estreita vigilância, conduzir a instituição e garantir-lhe a independência. Sobretudo, cuidavam de erradicar de imediato tumores que ameaçassem valores morais irrevogáveis. Nada a ver com a Casa do Espanto que Lula criou em parceria com o clube dos cafajestes.

É improvável que o presidente tentasse fazer em 1990 o que anda fazendo há meses com um Senado em estado de decomposição. Mesmo que tivesse atingido os 103% de popularidade prometidos pelos institutos de pesquisa, logo saberia com quem estava falando. O mais loquaz dos governantes perderia a fala no segundo minuto de conversa com Afonso Arinos ou Roberto Campos. O capitão-do-mato não iria além da primeira ordem se o aliado fosse Darcy Ribeiro. O palanqueiro debochado não se atreveria a insultar oposicionistas como Mário Covas ou Franco Montoro.

É por saber com quem está falando que Lula humilha antigos companheiros. Sabujice não inspira respeito. Ofende adversários por ter certeza de que o merecido revide não virá. É por conhecer os novos amigos de infância que abençoa toda a base alugada com salvo-condutos, absolvições, agrados retóricos e presentes em dinheiro. Não existem acordos políticos entre partidos distintos. Existe um acerto a ser cumprido pelas partes, um contrato verbal entre o chefe do Executivo e parlamentares que enxergam na aliança com o governo o caminho mais curto e seguro para o enriquecimento criminoso.

Quem acompanhou na terça-feira o depoimento de Lina Vieira e, nesta quarta, a sessão do Conselho de Ética viu em ação um bando fora-da-lei, esbanjando truculência e cinismo no cumprimento de missões determinadas pelo chefe. Os vilões dio faroeste se apoderaram do lugarejo. O presidente honorário é José Sarney. Paulo Duque comanda o Conselho de Ética. Romero Jucá lidera a bancada do governo e é o relator da CPI da Petrobras presidida pelo suplente amazonense. Renan Calheiros chefia a base alugada. Fernando Colllor comanda uma comissão. Abjeções como Wellington Salgado e Almeida Lima aceitam qualquer encomenda. Tudo parece dominado.

O PT foi reduzido por Lula a duas consoantes descartáveis. A líder do governo no Congresso é Ideli Salvatti, um berreiro à procura de uma idéia. O líder da bancada é Aloízio Mercadante, promovido a Herói da Rendição por sucessivas demonstrações de coragem em atos de covardia. Nesta semana, constatou-se que aprendeu com Eduardo Suplicy a fazer de conta que acha intragável o que não para de engolir.

Simulando descontentamento com a absolvição sumária de Sarney, colocou o cargo à disposição da bancada. O cargo sempre está à disposição da bancada. Quem finge que não sabe disso está implorando para ficar. Quem quer sair se demite ─ e em caráter irrevogável. Por acharem que a cafajestagem passou dos limites, os senadores Flávio Arns e Marina Silva deixaram o partido. Todos os que permanecerem submissos à quadrilha serão responsabilizados pelo assassinato do Senado.

A contemplação do Congresso ensina que, além dos cretinos fundamentais, só farsantes dividem o Brasil em esquerda e direita, povo e elite. O que se vê é um país decente ameaçado pela ofensiva do bando que junta socialistas de araque e conservadores gatunos, casos para psiquiatra e casos de polícia, todos convencidos de que só é imoral perder o poder.

É hora de bloquear o caminho. O general parece invencível? A tropa parece crescer em tamanho e agressividade? A maioria parece satisfeita com a vida não vivida? Nada disso importa. Movimentos de resistência nunca tomam forma no ventre da multidão. Não é preciso nascer grande para ter força. Basta ter razão.

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