FOLHA DE SÃO PAULO - 06/05/09
Após o colapso de dezembro, a indústria cresceu um tico, mas cresce cada vez mais devagar e ainda está muito no vermelho |
O CURUPIRA é um gênio dos matos do Brasil -ou era. Às gerações de hoje, pode-se dizer que parece um "hobbit", aqueles rapazes nanicos de pés grandes dos filmes da série "O Senhor dos Anéis". Mas tem os pés virados para trás, cabelos vermelhos, dentes verdes e é peludo. Cria ilusões a fim de enganar os caçadores e proteger os animais da floresta: as pegadas dos pés virados criam pistas falsas. Parece estar indo para a frente, mas recua -ou o contrário. A indústria brasileira parece andar no passo do Curupira, a julgar pelos dados divulgados ontem pelo IBGE. Não se sabe bem se a atividade industrial parece recuar, mas progride, ou se parece progredir, mas volta a recuar.
No catastrófico dezembro de 2008, a produção industrial encolheu 12,7% (em relação a novembro). Então havíamos chegado ao fundo do poço, para recorrer a essas metáforas que causam o torpor único do enfado. Esqueça-se, por ora, que a produção industrial no primeiro trimestre de 2009 caiu quase 15% em relação ao início de 2008, ou quase 17% no semestre passado até março, coisa inédita deste 1990.
Pois bem. A indústria cresceu 2,1% de dezembro para janeiro. Pouco, mas ao menos parecia escapar do risco de depressão. Cresceu algo menos de janeiro para fevereiro: 1,9%. Um tremelique estatístico, digamos. Ontem, soube-se que o crescimento de fevereiro para março foi de 0,7%. Ao menos no trimestre inicial do ano, vamos nos recuperando cada vez mais devagar. Tendendo a zero?
Pois é, os números acima são relativos ao total da indústria. No caso da indústria de transformação (exclui a extrativa), já voltamos ao zero, no mês a mês. A produção industrial cresceu 2,1% em janeiro, 1,4% em fevereiro e 0,06% em março. Zero vírgula zero alguma coisa é zero.
Pode se tratar apenas das manhas da estatística, da coleta de dados, de defasagens e outros ruídos que fazem um dado pontual se comportar de maneira esquisita. Alguns indicadores que permitem antecipar o comportamento presente e futuro da indústria têm também algo do passo do Curupira. Medidas de confiança de consumidores e empresários indicam melhora, mês a mês. Mas a demanda de eletricidade caiu de novo em abril, segundo dados preliminares do Operador Nacional do Sistema (é um nome orwelliano, mas trata-se apenas da empresa que cuida de despachar a energia elétrica pelo país). A venda de automóveis voltou a recuar no mês passado, mas ainda não sabemos da produção.
O comércio exterior deu algumas notícias boas. Até fevereiro, pelo menos, eram ainda comuns análises sobre o risco de que o déficit externo (em conta corrente) tenderia a crescer demais, talvez até estimulando desvalorização extra do real, o que provocaria inflação (parece uma avaliação ridícula e jurássica, mas, recordar é viver, isso era tópico vivo de debate faz menos de um bimestre). O saldo comercial, porém, tem crescido além da conta de todo mundo. Mas o saldo, a diferença de exportações e importações, é apenas parte da história. O saldo aumenta porque as importações despencam -25%, na média do primeiro trimestre. Despencam porque produzimos e consumimos menos. E as vendas do comércio crescem cada vez mais devagar, mês a mês.
No catastrófico dezembro de 2008, a produção industrial encolheu 12,7% (em relação a novembro). Então havíamos chegado ao fundo do poço, para recorrer a essas metáforas que causam o torpor único do enfado. Esqueça-se, por ora, que a produção industrial no primeiro trimestre de 2009 caiu quase 15% em relação ao início de 2008, ou quase 17% no semestre passado até março, coisa inédita deste 1990.
Pois bem. A indústria cresceu 2,1% de dezembro para janeiro. Pouco, mas ao menos parecia escapar do risco de depressão. Cresceu algo menos de janeiro para fevereiro: 1,9%. Um tremelique estatístico, digamos. Ontem, soube-se que o crescimento de fevereiro para março foi de 0,7%. Ao menos no trimestre inicial do ano, vamos nos recuperando cada vez mais devagar. Tendendo a zero?
Pois é, os números acima são relativos ao total da indústria. No caso da indústria de transformação (exclui a extrativa), já voltamos ao zero, no mês a mês. A produção industrial cresceu 2,1% em janeiro, 1,4% em fevereiro e 0,06% em março. Zero vírgula zero alguma coisa é zero.
Pode se tratar apenas das manhas da estatística, da coleta de dados, de defasagens e outros ruídos que fazem um dado pontual se comportar de maneira esquisita. Alguns indicadores que permitem antecipar o comportamento presente e futuro da indústria têm também algo do passo do Curupira. Medidas de confiança de consumidores e empresários indicam melhora, mês a mês. Mas a demanda de eletricidade caiu de novo em abril, segundo dados preliminares do Operador Nacional do Sistema (é um nome orwelliano, mas trata-se apenas da empresa que cuida de despachar a energia elétrica pelo país). A venda de automóveis voltou a recuar no mês passado, mas ainda não sabemos da produção.
O comércio exterior deu algumas notícias boas. Até fevereiro, pelo menos, eram ainda comuns análises sobre o risco de que o déficit externo (em conta corrente) tenderia a crescer demais, talvez até estimulando desvalorização extra do real, o que provocaria inflação (parece uma avaliação ridícula e jurássica, mas, recordar é viver, isso era tópico vivo de debate faz menos de um bimestre). O saldo comercial, porém, tem crescido além da conta de todo mundo. Mas o saldo, a diferença de exportações e importações, é apenas parte da história. O saldo aumenta porque as importações despencam -25%, na média do primeiro trimestre. Despencam porque produzimos e consumimos menos. E as vendas do comércio crescem cada vez mais devagar, mês a mês.
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