Ou agora, ou nunca
FOLHA ON-LINE - 06/05/09
Só se Lula perder o juízo --e ele é bastante pragmático para algum dia perder o juízo--, o governo vai obrigar a Infraero (estatal que administra os aeroportos) de recuar na demissão de dezenas de apadrinhados políticos que transformaram a estatal num dos mais cobiçados e conhecido cabides de emprego da capital.
O objetivo do Planalto, da Defesa, da Fazenda, do BNDES, de Marte e de Saturno é sanear a Infraero para, num primeiro momento, abrir seu capital em Bolsa. E, num segundo, pensar seriamente em privatização. Uma privatização que começaria (até já há alguns passos nesse sentido) pela concessão de pistas de aeroportos.
Alguém aí pode me dizer como é possível abrir capital, fazer concessões públicas e pensar em privatizar sem sanear a empresa? Impossível.
Então, o brigadeiro Cleonilson Nicácio, que não é político, arregaçou as mangas e começou o saneamento aprovando um novo estatuto que, entre outras coisas, enxuga os cargos de confiança de 109 para 12, tira os apadrinhados da base aliada ao governo e põe para trabalhar o pessoal concursado, de carreira.
Seria absurdo reclamar de uma medida assim tão elementar, mas tudo é possível. O PMDB deu pulos de raiva e correu no Palácio do Planalto para tentar salvar irmãos, ex-mulheres, amigos e quetais nas suas boquinhas na Infraero. E o PT por enquanto está quietinho, mas também tem lá os seus apadrinhados.
Como o brigadeiro Nicácio tem vontade e boas intenções, mas não tem força política, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, entrou na história para garantir que não haja recuos. Defendeu em reunião com Lula e com três ilustres peemedebistas, Michel Temer, Romero Jucá e Henrique Eduardo Alves, que estatuto é estatuto e que não dá para voltar atrás. Depois, disse claramente, ainda no Planalto, que um recuo seria "a desmoralização".
Lula já fez festa para Fernando Collor, prevendo que o antigo adversário (que ajudou a derrubar da Presidência, aliás) faria um "mandato extraordinário". Lula também defendeu Renan Calheiros, transformou Jader Barbalho em conselheiro político, achou muito natural o governador Cid Gomes contratar jatinho para uma farra em família na Europa com dinheiro público e, por último, acaba de considerar "hipocrisia" a avalanche de críticas ao Congresso pela farra das passagens aéreas.
Agora, só falta o presidente se sujeitar à pressão do PMDB hoje e, quem sabe, do PT amanhã, e desautorizar o processo de moralização da Infraero. Sinceramente, seria o fim da picada. Ele chegaria a tanto? No governo, juram que não. A conferir.
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