segunda-feira, abril 20, 2009

GEORGE VIDOR

Vida reavaliada


O GLOBO - 20/04/09


O ajuste das finanças públicas foi a viga mestra do processo de recuperação da economia brasileira nos últimos dez anos. O governo Lula teve o mérito de intensificar esse ajuste iniciado por seu antecessor, ainda que tenha sido eleito com um discurso de oposição ao que vinha sendo feito. Mas, efetivamente, tal ajuste é que abriu espaço para a retomada dos investimentos no país. Por isso, agora que as autoridades econômicas anunciam uma redução das metas de superávit primário, os mercados deveriam se mostrar apreensivos, o que, de fato, não está acontecendo. Ou, pelo menos, ainda não.

A razão para essa aparente tranquilidade é que, ao refazer as contas, os analistas financeiros não estão projetando uma deterioração da dívida pública. Os analistas não chegam a endossar o cenário otimista que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, traçou ao apresentar as premissas em que a equipe econômica se baseou para reduzir (ou sacramentar algo que seria consumado de qualquer maneira) as metas de superávit primário. Mas também não acenderam luzes amarelas. O governo trabalha com a expectativa que o Produto Interno Bruto cresça 2% e o déficit público total não passe de 2,1% do PIB em 2009. Se tal cenário se concretizar podemos soltar foguetes, já que, nesse caso, a relação dívida pública/PIB se manteria ao fim de 2009 no mesmo patamar de dezembro do ano passado. E em 2010 haveria condições de esse porcentual voltar a diminuir.

Qual a equação capaz de possibilitar uma redução do superávit primário simultaneamente a uma queda do déficit público e à estabilização da dívida? A resposta parece estar na expectativa que os ministérios da Fazenda e do Planejamento têm em relação à trajetória das taxas básicas de juros a partir da reunião do Comitê de Politica Monetária (Copom) na semana que vem. Um corte de um ponto percentual na Taxa Selic em abril e mais outro de meio ponto em junho ou julho certamente aumentarão a chance de o cenário otimista do governo se materializar.

Esse jogo precisa ser definido antes que o calendário político-eleitoral do país comece a atropelar o quadro econômico.

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A crise atingiu em cheio o setor de papel e celulose no mundo todo e o Brasil não ficou imune, embora em situação mais confortável que a dos principais concorrentes. O Brasil exporta mais de 70% da celulose e 20% do papel que produz. Os maiores importadores da celulose brasileira estão nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, e, no caso do papel, na América Latina. Em volume, os embarques de celulose já estão se recuperando, mas os preços caíram, e a perda de receita foi da ordem de 8% nos primeiros meses do ano (nas exportações de papel, a redução chegou a 25%). O principal problema para as vendas externas é a dificuldades de obtenção de crédito em moeda estrangeira.

Ainda assim, a percepção do setor é que o Brasil sairá da crise mais fortalecido no mercado internacional. Praticamente toda a produção brasileira usa como matéria-prima madeira de florestas plantadas. O país domina a tecnologia da clonagem de árvores apropriadas para a fabricação tanto de celulose quanto de papel. São árvores de crescimento muito rápido (que precisam ser plantadas de forma intercalada com florestas de espécies nativas), que levam o setor a se destacar no esforço para a captura de carbono na atmosfera. Ou seja, para cada 1 de emissão pelas indústrias e transporte de produtos, captura-se 3. nquanto no exterior fábricas estão fechando, por causa da queda das cotações internacionais, no Brasil os projetos de expansão e instalação de novas indústrias foram apenas postergados ou tiveram seus cronogramas ajustados ao ritmo projetado de crescimento futuro da demanda. Este ano, com uma capacidade de produção de mais de 13 milhões de toneladas, o Brasil deverá ocupar a quarta posição entre os fabricantes mundiais de celulose, atrás dos Estados Unidos, do Canadá e da China (quando os projetos de expansão forem concretizados, o país ocupará o terceiro lugar).

No papel, a situação não é tão confortável. Embora a indústria tenha condições de atender a quase toda a demanda doméstica, as importações são relevantes (chegando a atingir 50% do consumo doméstico de papel de imprimir e escrever). Segundo a presidente executiva da Bracelpa (entidade que representa as empresas do setor), Elizabeth de Carvalhaes, há concorrência desleal nessa área. Grandes quantidades de papel são importadas como produto isento de impostos — destinado à impressão de livros e revistas — mas acabam tendo outro destino. O Brasil também é grande importador de papel de imprensa. Só há um fornecedor nacional (que é uma empresa norueguesa), que se queixa da falta de condições para compensar os créditos tributários que acumula no processo de fabricação.

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A região de Barra de Guaratiba, no Rio, além de concentrar grande número de restaurantes (das chamadas tias) especializados em peixes e frutos do mar, já é hoje o segundo polo produtor de plantas ornamentais, atrás somente da Holambra, em São Paulo. Há cerca de 300 produtores, que se dedicaram ao ramo induzidos pelo exemplo do Sítio Roberto Burle Marx.

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