Morrendo na praia
JORNAL DO BRASIL - 20/04/09
O Emerson chutou com tamanha precisão (cirúrgica) que devia estar se imaginado na área do Flamengo. Fez o gol da vitória dos rubros-negros que venceram com todos os méritos (parabéns, Cuca!). O Flamengo correu mais, esteve mais bem distribuído em campo e dominou como quis aquele espaço onde se ganha jogo: o meio de campo. Desde os primeiros minutos, passeou pela intermediária do Botafogo – um deserto de camisas alvinegras – com a tranquilidade de uma comissão de frente na Sapucaí.
Um time que pretende ser campeão não pode ceder aquele latifúndio todo ao adversário. O Botafogo só conseguia parar o Flamengo com faltas. Em apenas oito minutos de jogo fez quatro faltas na sua intermediária. Estava na cara que, mais cedo ou mais tarde, o Flamengo faria seu primeiro gol. Teve um monte de escanteios a seu favor, ao passo que o Botafogo só foi conseguir o seu primeiro depois dos 30 minutos do segundo tempo. Escanteios que o Maicosuel bate com o vigor de quem cobra um tiro de meta (já repararam?).
Respirei aliviado no intervalo, certo de que Ney Franco faria alguma coisa para tirar a bola da sua defesa. O treinador, no entanto, só estava preocupado com os acertos dos passes e o jogo continuou na mesma toada. Tanto que até o gol – aos 17 minutos do segundo tempo – o Flamengo tinha 62% de posse de bola, diferença impensável para uma decisão. Somente a partir daí o Botafogo chegou um pouquinho mais para frente, mas sem oferecer qualquer perigo.
A bem da verdade, o Botafogo teve duas chances no primeiro tempo e jamais levou qualquer ameaça na etapa final. Aproveitando que seu presidente é dentista, diria que o Botafogo esqueceu a dentadura no vestiário e desse modo não pôde morder o Flamengo. O que se viu foi um jogo de ataque contra defesa.
Depois do gol Ney Franco acordou. E deve ter acordado indisposto, porque tirou o Leo Silva, único jogador que ainda circulava pelo meio de campo e botou um tal de Renato – que, com sua cabeleira, só serviu para abrilhantar a variedade de penteados pelo gramado. Também tirou o Fahel, que nunca deveria ter entrado nem nessa nem em partidas anteriores. Uma vez fez um gol de cabeça contra o Fluminense e nada mais. É lento, não se apresenta para o jogo (a bola parece queimar nos seus pés) e só dá passe lateral (e nem sempre acerta!). O lado esquerdo do Botafogo é de chorar. Thiaguinho, em campo com um cabelo estilo "caminho de rato", é outro que cisca mais que galinha carijó mas não acerta um passe de mais de cinco metros. Ninguém, no entanto, foi pior do que o Reinaldo, um mero figurante que quando perde a bola sai andando com ares de prima-dona (correu atrás de uma única bola, fez falta e recebeu cartão amarelo).
É bom o Botafogo tirar algum coelho da cartola nas finais do campeonato se não quiser virar uma espécie de Osasco do vôlei feminino – que nada, nada e morre na praia. O Osasco perdeu quatro finais seguidas para o Rexona do Bernardinho. Que o Ney Franco – que devia estar cochilando quando nos falamos de madrugada – bote gente naquele meio de campo. O Botafogo ainda não morreu na praia – ainda tem direito a duas braçadas – mas, se continuar nadando desse jeito, é certo que vai afundar que nem o Titanic.
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