quarta-feira, outubro 10, 2012

Porto Alegre – Belém: 4 mil quilômetros - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 10/10


É comum ressaltarem a distância que existe entre o sul e o norte do país. Já estive em algumas capitais do Nordeste, mas, por seu apelo turístico, essas cidades dão uma sensação de inclusão, nem que seja inclusão dentro de um cartão-postal. Mas agora conheci Belém do Pará, e isso sim é estar longe de casa.

A começar pelo vocabulário gastronômico. Cupuaçu, tacacá, tucupi, tambaqui, maniçoba, pupunha. Nunca vi tanta variedade de sabores. Me rendi ao delicioso peixe filhote e ao arroz de jambu, e provei o sorvete de bacuri achando graça, já que para nós bacuri não é fruta, e sim o jeito que chamamos a molecada. Sorvete de bacuri. Mais estranho que isso, só mesmo bombom de queijo. Voltei de lá quase com o mesmo shape da Gaby Amarantos, pois uma entre tantas cordialidades do paraense é presentear com chocolates. Vivi por quatro dias uma Páscoa fora do calendário.

Só que agora é época de celebração ainda mais importante: o Círio de Nazaré, que acontece no próximo domingo. A religiosidade do povo é atávica. Diziam: “Fique pra ver, você não pode imaginar o tamanho da festa”. São 2 milhões de pessoas na rua, acompanhando a procissão agarrados a uma corda de sisal de 400 metros de cumprimento, todos grudados em sua fé. E grudados também pelo calor.

De madrugada os termômetros marcam 24 graus, a temperatura mínima deles. Às 8h, já se está perto dos 30, e daí pra frente, só com ar-condicionado ou vira-se mingau. Invariavelmente, chove no meio da tarde. E não chove pouco, cai uma água decidida. Pode-se acertar o relógio pela pontualidade da enxurrada.

A cidade tem lindas edificações portuguesas, principalmente em torno da Praça do Relógio, mas podia ser mais limpa. O centro de compras mais concorrido é o famoso mercado Ver-o-Peso, onde se encontram frutas, verduras, peixes, ervas, amuletos, artesanato e muitos visitantes – menos a visita da Vigilância Sanitária, ouvi dizer. Pitoresco.

O que fui fazer nesse fim de mundo? Participar da Feira Pan-Amazônica do Livro, e ao entrar no Hangar, o moderno Centro de Convenções da cidade, ficou evidente: fim de mundo é não ler. Eram inúmeros expositores reunidos em uma megaestrutura, e um vasto público adolescente prestigiando não só os livros, mas as apresentações de música, dança e teatro que aconteciam sem parar.

Um evento grandioso e agregador, o quarto mais importante do Brasil. Não esperava tanta efervescência, e menos ainda que minhas linhas fossem populares junto à linha do Equador. A receptividade foi a mesma que costumo ter no Sul. Lembrei que sou gaúcha de sangue índio, e me senti em casa.

Só a dona de uma loja de discos é que não foi com a minha cara. Tentou me empurrar a Banda Calypso, mas acabei levando um CD de jazz. Pareceu provocação. Espero que ela tenha me perdoado. Falta de molejo, sim, é que é tecnobrega.

“Fim de mundo é não ler” não é sacada minha, e sim o genial slogan do último Salão do Livro do Piauí, que também fica longe à beça.

Oi, oi, oi - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 10/10

"Avenida Brasil” a novela-sensação, chegou às festas infantis, acredite.
Uma moradora do Golden Green, condomínio de bacanas na Barra, no Rio, encomendou à empresa Animason uma festa para a filha de 12 anos cujo tema é a trama de Tufão, Carminha, Nina etc. As meninas vão de Suellen. Os meninos, de Max.

Calma, gente
Uma rede de salas de cinema retirou do ar o comercial da edição 73 da revista "Piauí”,’ que vinha sendo exibido no intervalo das sessões.
Alegou ter recebido reclamação de uma cliente, incomodada com o anúncio de uma reportagem sobre a intenção do presidente uruguaio José Mujica de liberar... a maconha.

Chávez é inocente...
Segundo a distribuidora Movie Mobz, a tal cliente teria ameaçado ir à Justiça, "pois achou absurdo o filho dela, menor, receber este tipo de informação no cinema’!
Na reclamação, a mulher confunde Mujica com Chávez e critica a "Piauí” por citar "a liberação da maconha pelo presidente da Venezuela’! Assista ao comercial no site da coluna.

‘Leitebras’
Graça Foster, a presidente da Petrobras, mostrou ontem, no voo 3024 da TAM (Rio-Brasília), que, além de petróleo, entende de... leite.
Socorreu um pai de 20 anos com um bebê que não parava de chorar. Fez até mamadeira. Não é fofa?

A inflexão de ‘MTB’

Do CEO de uma megaempreiteira, sobre o julgamento do mensalão, numa roda de colegas, em São Paulo:
— O MTB (Márcio Thomaz Bastos) tem dito às empresas para as quais presta assessoria jurídica que o verdadeiro ponto de inflexão é o fato de o STF ter mudado a maneira como encara provas...

A MORTE DE TRÊS ÁRVORES
A Rua Ramon Franco, na Urca, está menos verde. É que funcionários da Comlurb cortaram três amendoeiras. Veja o cotoco que sobrou de uma delas. Todas tinham mais de 40 anos. Moradores, chateados, contam que receberam aviso da prefeitura “apenas sobre uma poda nas árvores”. Agora, lamentam pelo fim das sombras doadas pelas frondosas e reclamam que a degola mudou a paisagem da rua. A Comlurb, em nota oficial, diz que as amendoeiras “estavam mortas, conforme laudo dos engenheiros florestais””. Há controvérsias •

Brasil é o destino

Veja como o Brasil, com a Copa de 14 e os Jogos de 16 cada vez mais perto, cresce no ranking dos principais destinos turísticos.
A American Airlines anuncia hoje que terá 111 voos semanais para cá na alta temporada, um aumento de quase 40.

Segue...
Em dezembro, os voos da companhia de Brasília e Belo Horizonte para Miami passarão a ser diários. Salvador e Recife também terão cinco semanais para lá.
O Rio ganhará mais quatro voos diretos para Dallas, que passarão a ser diários, e um segundo diário para Miami.

Hilda, o musical

"Hilda Furacão”' a minissérie exibida pela TV Globo em 1998, vai virar musical.
O MinC autorizou a produtora carioca Borges & Fieschi a arrecadar R$ 4.726.000.

Rei Leão, o musical

O musical "O Rei Leão” poderá captar R$ 11.702.454,79 via Lei Rouanet.
A produtora paulista T4F Entretenimento já recebeu autorização do MinC.

Corredor do Fórum
O juiz Afonso Barbosa, da 1? Vara de Fazenda Pública do Rio, determinou que o governo do estado pague uma prótese de quadril para um dos 57 feridos no acidente do bondinho de Santa Teresa, em agosto de 2011, além de uma pensão mensal até seu restabelecimento.
A decisão pode beneficiar outros feridos no acidente, que matou cinco.

‘Welcome to Rio’

Pesquisa da ABIH-RJ mostra que já é de 89% a ocupação hoteleira no Rio para o Dia de N. S. Aparecida (sexta), que este ano formará um feriadão com o Dia do Comércio (segunda).
O percentual supera em mais de 40 pontos a ocupação da data em 2011.

Legião estrangeira

Acredite: 7.700 estrangeiros já se inscreveram como voluntários para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio.

Rock in Rio
O Rock in Rio 2013 terá sete dias, um a mais em relação ao ano passado.
Serão postos à venda 85 mil ingressos por dia, ao invés dos 100 mil de 2011.

Células-tronco
Segunda, no mesmo dia em que foi anunciado o Nobel de Medicina para pesquisadores de células-tronco, a médica carioca Verônica Vianna, do Into, tornou-se PhD por descobrir uma maneira de fazer crescer células de um osso doado para transplante.
A descoberta foi sua tese de doutorado na UFRJ.

Saravá, patrão
O juiz Leonardo Pacheco, da 76?
Vara do Trabalho do Rio, condenou um cidadão a indenizar em 40 salários mínimos sua ex-empregada doméstica, por tê-la demitido por justa causa sob a acusação de que ela fazia... magia negra na casa dele.
O patrão não conseguiu provar e ainda terá de pagar férias, 13° e aviso prévio.

Trilha sonora do passado - DIANA CORSO

ZERO HORA - 10/10


No táxi, o rádio submete à vontade do motorista. Como o assunto era futebol, dissociei. Mas despertei do devaneio por força de um som inusual: a narrativa histérica, em espanhol, de um gol, reproduzida por um programa de comentários desportivos. Escutar um gol em minha língua mãe abriu um arquivo esquecido de lembranças e sentimentos ligados a esse som.

Vivia no Uruguai na década de 1960. Seguidamente ia almoçar na casa de uma espécie de tio, cujo filho, ao crescer, tornou-se juiz de futebol. Eles acompanhavam as partidas com paixão, os gols eram praticamente uivados pelo locutor. Eu brincava por ali, à escuta dessa trilha sonora que mais de 40 anos depois me tomou de assalto.

O gol em espanhol reavivou a memória de todo um cenário: a imagem borrada da TV preto e branco, um maravilhoso aparelho de fazer soda, a detestável sopa fria de frutas, meu amigo Muki, o cachorro da casa.

São Paulo, para onde me levaram um tempo depois: devo aprender português. Repita: João perdeu o balão, João é um chorão. Lição impossível. Quem chorava era eu: “Nunca vou conseguir falar isso!”. Aprendi, crianças são permeáveis ao som das línguas, deixam-se colonizar. Agora, como canta Caetano em língua, “Adoro nomes / nomes em ã / de coisa como rã e ímã”. O português gaúcho que tive que falar depois me soava rude, hoje é meu tom. Minhas pátrias são os sons das minhas línguas.

Ao falar, letra e música são uma só. Ao ler, recitamos para nós mesmos com ritmo, emprestamos cadência ao texto. A memória auditiva é uma linha direta para o passado. Uma vez reencontrados, os acordes das palavras produzem arrebato, emoção, memórias, como naquele gol. Pelos ouvidos, somos sequestrados para um tempo que não pensávamos que ainda podíamos sentir.

Mesmo que não se tenha mudado de país, de língua, possui-se uma “língua mãe”, constituída pelas vozes dos parentes, pelas propagandas antigas, as músicas da época. As expressões verbais da infância e da adolescência soam mais eloquentes.

Somos datados: o som da língua é nosso Carbono 14, só as vozes do passado são sentidas como próprias, autênticas. Essa é uma das dificuldades da longevidade de que nos beneficiamos hoje: como viver tantos novos tempos, que soam tão diferente, sem sentir-se estrangeiros?

Dias atrás, uma amiga falou ao telefone uma expressão em ídiche que não escutava desde que perdi minha avó. Outra avalanche de memórias, arrematadas por mais um som: a gargalhada gostosa daquela senhora que nunca terminava as piadas. Ríamos era dela, que ria às lágrimas e sufocava o final.

Fundos de pensão: a escolha de Sofia - FÁBIO GIAMBIAGI

Valor Econômico - 10/10


A queda da taxa Selic era uma antiga aspiração nacional, por várias razões, pelo fato de estimular a produção, melhorar o nível de emprego, mitigar a apreciação da taxa de câmbio e reduzir a despesa de juros.

Contudo, é necessário atentar para o outro lado da moeda, associado a aspectos em relação aos quais a redução da Selic pode causar problemas potenciais, como resultado da inércia dos agentes negativamente afetados por esse fenômeno. Um desses aspectos, com repercussões significativas sobre a economia, é a saúde dos fundos de pensão. Para entender isso, peço ao leitor um pouco de paciência para desenvolver um raciocínio matemático, ainda que simples.

Imaginemos uma situação em que não haja inflação, a taxa de juros real seja nula e um homem solteiro autônomo comece a trabalhar aos 20 anos, aposentando-se aos 55 anos e vivendo até os 80 anos de idade. Se ele separar todos os meses R$ 500 de contribuição, no final de 35 anos terá na sua conta o valor de R$ 500 x 12 x 35 = R$ 210 mil. Esse valor acumulado, gasto posteriormente ao longo dos últimos 25 anos de vida da pessoa (300 meses) possibilitará a esta uma renda mensal de R$ 210 mil / 300 = R$ 700. No mundo real, porém, a taxa de juros costuma ser positiva, de modo que com seus depósitos sendo remunerados, o juro faz parte do trabalho que, na ausência de remuneração financeira, seria feito apenas pelo esforço de poupar.

É arriscada a ideia de que a redução dos juros pode ser compensada com uma exposição maior na renda variável

Em outras palavras, para um assalariado que quiser ter uma aposentadoria complementar, quanto maior for a taxa de juros, menor precisará ser a parcela poupada do salário. Pela mesma razão, dada uma taxa de juros que gera uma necessidade de contribuição para ter uma certa aposentadoria complementar, quanto maior for a queda dos juros, maior terá que ser o aumento da contribuição.

Com Felipe Vilhena Amaral, tentamos mensurar as consequências de uma redução dos juros sobre a alíquota de equilíbrio de planos de pensão. O artigo, bastante técnico, publicado na Revista Brasileira de Direito Previdenciário (número 6, 2011), refere-se aos planos de Benefício Definido (BD), mas o pano de fundo é o mesmo que afeta os planos de Contribuição Definida (CD), com a diferença de que aquilo que nos planos BD gera a necessidade de medidas compensatórias para preservar o benefício, nos planos CD implica uma redução deste.

Em qualquer caso, uma menor remuneração das aplicações afeta os participantes, aumentando a alíquota requerida para o plano continuar equilibrado ou exigindo uma redução dos benefícios ou ainda um aumento do período contributivo, para que o plano não se torne insolvente. É uma escolha difícil.

Na tabela, extraída do citado artigo, apresentam-se as alíquotas de contribuição sobre o rendimento para o caso de um indivíduo solteiro que começa a trabalhar com 20 anos de idade, contribui 35 anos e se aposenta com 55, recebendo uma renda complementar igual ao último salário por outros 25 anos, renda essa indexada à inflação. A tabela apresenta resultados para diferentes combinações de taxas de desconto e de incremento da remuneração real na data-base.

A flexibilidade para escolher a taxa de desconto pode permitir inicialmente que alguns fundos agravem a situação futura dos mesmos caso resolvam "driblar" a necessidade de medidas corretivas (como aumento da contribuição ou elevação da idade de aposentadoria), mas não há dúvidas de que todos os participantes terão que se ajustar, cedo ou tarde. É bom ressaltar que quanto mais demorar o ajuste, mais drástico ele terá que ser depois.

A simples redução da taxa de desconto de 6% para 5% gera uma necessidade de elevação da alíquota de equilíbrio entre 4 e 6 pontos percentuais. A ideia de que a redução dos juros poderá ser compensada mediante uma maior exposição na renda variável é arriscada, porque é improvável que tenhamos outro ciclo de prosperidade da Bolsa como o do pós-Real ou o de 2003/2008. Os fundos serão obrigados a se adaptar à realidade de juros menores e fazer a sua "escolha de Sofia".

Condenação de Dirceu - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - 10/10


Em julgamento histórico, o Supremo Tribunal Federal condenou ontem o mais ilustre réu do processo conhecido por mensalão, o ex-ministro José Dirceu, pelo crime de corrupção ativa, considerando-o mentor e partícipe do esquema de compra de apoio político para o governo no Congresso Nacional. Também foram condenadas outras lideranças do Partido dos Trabalhadores.

Embora os ministros ainda não tenham concluído a votação, a decisão da maioria não apenas coincide com o clamor da opinião pública como também aponta perspectivas de menos tolerância da Justiça e da sociedade com as deformações da atividade pública.

É inegável que o julgamento do ex-poderoso chefe da Casa Civil era o mais esperado momento da apreciação pública da ação penal 470, que trata do envolvimento de políticos com grupos articulados no sentido de corromper parlamentares da base de apoio ao governo anterior. A expectativa com o destino de José Dirceu no processo se justificava plenamente por vários fatores.

O mais influente de todos os réus tinha, no início do governo Lula, em 2003, poderes tão amplos, que chegou a ser apresentado como um primeiro-ministro informal. Foi assim que coube a Dirceu, pela sua capacidade de transitar pelos labirintos das articulações políticas, a tarefa de construir a base parlamentar de sustentação ao governo.

Era na Casa Civil que ganhavam forma, pelo talento de seu ocupante e pela tradição das atribuições da pasta, as conexões entre governo e Congresso. Consagrou-se que Dirceu montou as bases do governo, com a anuência do presidente, e assim ganhou reconhecimento dentro e fora do Planalto.

Tanto poder nas mãos de uma única pessoa foi levado em conta pelo STF para apontar que o ex-ministro, pelo alcance de suas prerrogativas e pelos indícios juntados aos autos, chefiava o esquema do mensalão.

Prevaleceu, para a maioria dos ministros, o entendimento de que os operadores do mensalão se submetiam ao comando da Casa Civil para negociar empréstimos bancários fraudados, misturá-los a recursos públicos, montar um caixa de compra de apoio e corromper os parlamentares que aceitavam dinheiro em troca da submissão aos interesses do governo.

Por coerência com a identificação dos corrompidos, os ministros que condenaram Dirceu, José Genoino, ex-presidente do PT, e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, apontaram também os corruptores. Foram reconhecidos pelo Supremo os delitos cometidos pelo chamado núcleo político do esquema. Líderes que até 2005 eram considerados incontestáveis por seus pares veem suas trajetórias interrompidas por um julgamento histórico.

Como ocorreu até aqui diante de resoluções anteriores referentes à ação 470, também o desfecho do processo contra o ex-chefe da Casa Civil deve ser visto com naturalidade, para que não se confundam eventuais sentenças políticas, contra ou a favor dos réus, com as decisões fundamentadas em convicções de última instância pela mais alta corte do país.

O vírus da democracia - TUTTY VASQUES

O ESTADÃO - 10/10


Os comentaristas políticos internacionais - ô, raça! - estão à beira de um ataque de nervos com os inesperados sintomas de democracia na Venezuela! Onde já se viu Hugo Chávez moderado, falando em governar para todos, chamando o candidato derrotado para o diálogo, semeando a paz social, reconhecendo seus erros, prometendo ser "um presidente melhor"...? 
"Aí tem!" - comenta-se nas entrelinhas dos jornais de todo o planeta! Bem ou mal, a oposição reconheceu a legitimidade do processo eleitoral, os chavistas comportaram-se bem nas comemorações de rua, a presidente Dilma telefonou para elogiar o "processo democrático exemplar" e, ao contrário de todos os prognósticos da imprensa mundial, Hugo Chávez parece estar bem de saúde para governar. 
Se alguma coisa deu errado no tratamento em Cuba, teme-se tão-somente em Havana que o vírus oportunista da democracia possa ter se aproveitado da baixa imunidade do líder bolivariano para atacar seu discurso político. 
O mais provável, entretanto, é que ele esteja só zombando de quem apostou na derrota do caudilhismo na Venezuela, daí a justa irritação dos comentaristas políticos internacionais! 

Vasto mundo A nova classe média brasileira está eufórica: já não precisa mais de visto para visitar Letônia, Malta, Chipre e Estônia! 

Dúvida cruel A condenação de José Dirceu é boa ou ruim para as pretensões do PT no segundo turno das eleições? Antes de responder, pense no seguinte: uma absolvição do ex-ministro seria melhor para o partido nas urnas? Há controvérsias! 

A fila andou A Interpol suspendeu os mandados de prisão contra guerrilheiros das Farc colombianas. Paulo Maluf continua na lista de procurados! 

Queda livre O paraquedista austríaco Felix Baumgartner adiou de ontem para hoje, no Novo México, Estados Unidos, sua tentativa de bater o recorde de Celso Russomanno em queda estratosférica. Vai saltar de uma altura estimada em 36 mil metros. 

Poder misterioso Se o candidato a prefeito apoiado pelos Sarney em São Luís (MA) terminou o primeiro turno em quarto lugar, por que diabos a família continua mandando em alguma coisa no Brasil? 

Poluição Máxima Tinha camelô ontem à tarde vendendo ar puro em spray na região da 25 de Março. 

Basta de intermediários! Só um debate entre Lula e FHC pode salvar o 2º turno das eleições em SP de uma chatice total. Se eles deixarem o tradicional confronto PT x PSDB por conta de Serra e Haddad, já viu, né? O eleitor vai acabar sentindo falta do Levy Fidelix! 

Efeito colateral Qual a relação do desenvolvimento de células-tronco com o penteado do biólogo Britânico John Gurdon, vencedor do Nobel de Medicina de 2012? Só se fala disso no meio científico internacional!

Hora da reforma - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 10/10


Nem só de julgamento do mensalão e segundo turno eleitoral vive a política nesses dias de outubro. A preparação para as votações intensas no Congresso e também a eleição do presidente da Câmara e do Senado começam a despontar na agenda. Os senadores, por exemplo, chegam do primeiro turno de ressaca. Dos cinco que decidiram disputar eleições municipais, só dois passaram ao segundo turno: Vanessa Grazziotin (PCdoB), em Manaus, e Cícero Lucena (PSDB), em João Pessoa. Esse desempenho fez com que os líderes do governo levassem o seguinte recado ontem ao Planalto: o Senado atendeu o governo quando da votação da Emenda 29, da Saúde, mas não quer arcar com o desgaste de tirar os 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a área de Educação.

Esse raciocínio tem a ver com o resultado eleitoral. Afinal, Inácio Arruda (PCdoB-CE), Wellington Dias (PT-PI) e Humberto Costa (PT-PE) tiveram resultados fracos nas capitais de seus estados. Esse é, hoje, o ingrediente visível, mas não o principal motor do desejo dos senadores de não mudar o texto que veio da Câmara. Atrás desse cenário estão, por exemplo, os senadores da base aliada de Dilma tentando fazer com que ela veja o quanto eles são importantes, em especial, o PMDB.

Os peemedebistas sabem que Dilma não dispensará o vice-presidente Michel Temer na primeira curva da estrada. Aliás, vale lembrar que o PT precisa da voz de Gabriel Chalita (PMDB) neste segundo turno em São Paulo e deseja conquistar também Geddel Vieira Lima (PMDB), para ajudar no combate a ACM Neto (DEM) em Salvador. Os peemedebistas sabem que não será fácil convencer Geddel a apoiar Nelson Pelegrino (PT), porque, como maior nome do PMDB baiano, Geddel prefere apoiar Neto para, assim, aproximar um antigo desafeto para ser seu aliado numa eleição de governador daqui a dois anos, quando Jaques Wagner (PT) não será candidato à reeleição.

Para completar os problemas entre PMDB e PT, depois que o PSB dobrou seu número de prefeituras, há quem considere ser melhor o PMDB fazer uma espécie de “seguro eleitoral” para evitar surpresas no futuro. Afinal, justo em São Paulo, onde Lula fez tantos pedidos para que Chalita apoiasse Haddad logo no primeiro turno, o PMDB não atendeu a demanda. Para evitar mais disse-me-disse e desacertos nesse campo, os presidentes do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), e o do PT, Rui Falcão, marcaram um encontro para amanhã, quando tentarão acertar os ponteiros sobre as eleições municipais.

Por falar em seguro…

As desconfianças mútuas entre PT e PMDB, o crescimento do PSB e a perspectiva de voo solo de Eduardo Campos em 2014 formam o caldo para que os peemedebistas queriam demonstrar sua importância ao governo. A hipótese de o Senado simplesmente chancelar os 10% do PIB para a Educação não deixará de ser um desgaste para a presidente Dilma Rousseff, já que o governo insiste em chegar no máximo a 8% do PIB para o setor. A proposta original era de 7% do PIB. Os estudantes fizeram barulho ao longo da tramitação do projeto na Câmara e vão repetir a dose no Senado. Ou seja, se Dilma vetar os 10%, será um baile para a oposição. E, para não repetir a dose, ela terá que garantir todo o apoio da base aliada.

Nessa perspectiva, os aliados vislumbram uma reforma ministerial até o fim do ano para Dilma Rousseff começar 2013, quando não haverá eventos eleitorais, com força total para aprovar projetos importantes no Congresso, como os royalties do petróleo, o marco regulatório da mineração e a propalada reforma tributária. Enquanto 2013 não chega, o PT pretende aproveitar os próximos meses para curar as feridas das condenações do mensalão, tentar reavivar o partido e reorganizar o governo. Essa batalha começa no fim de outubro.

Enquanto isso, no blog do Dirceu…

A carta aberta que José Dirceu postou ontem em seu blog logo que o placar do STF indicou sua condenação mostra que ele não ficará calado nesse segundo turno eleitoral. “Minha sede de justiça, que não se confunde com o ódio, a vingança, a covardia moral e a hipocrisia que meus inimigos lançaram contra mim nestes últimos anos, será minha razão de viver”, diz ele, ao encerrar o texto. Parte do PT não gostou. Preferia que ele esperasse passar outubro para anunciar que se sente vítima de uma injustiça. Há um receio de que esse barulho levante mais a poeira do mensalão e turve a campanha de seus partidários nos próximos dias, em especial, a de Fernando Haddad em São Paulo.

Um ano decisivo no meio do caminho - ROSÂNGELA BITTAR

VALOR ECONÔMICO - 10/10


A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula tratam em perfeita dobradinha da eleição presidencial de 2014, a partir de agora. Para o segundo turno das eleições municipais, a estratégia posta é conhecida e em execução: será a mesma da primeira etapa. Dilma se empenhará em São Paulo, porque é um posto estratégico para o PT e ela própria. E, como no primeiro turno foi a Belo Horizonte, também estratégica, por vontade e escolha, tendo ali um adversário da disputa sucessória, no segundo vai a Salvador e a Manaus, pelo critério nacional: são cidades onde o PT não disputará com partidos aliados e terá como adversários o PSDB e o DEM, oposicionistas federais.

Longe ficará a presidente de localidades onde os aliados se chocam, como ficou, no primeiro turno, da disputa em Porto Alegre. Fugiu de Recife, de onde se afastou também o ex-presidente Lula, como revelam só agora alguns petistas tirando do ex-presidente responsabilidade naquela confusão. Lá, como no extremo Sul, Dilma e Lula ainda não teriam entendido o que houve com o PT que perdeu a chance de ficar com os candidatos vitoriosos para imporem nomes que sequer desejavam entrar na disputa. Adão Villaverde, em Porto Alegre, poderia ter sido vice de José Fortunati (PDT), ex-petista ainda querídíssimo no partido, mas Tarso Genro, o governador, empurrou-o à disputa solitária. Maurício Rands poderia ter sido candidato em Recife, com apoio de Eduardo Campos, mas o PT não quis e impôs Humberto Costa. Colocou como vice dele o nome mais popular do partido na cidade, ex-prefeito, e achou que ia dar um passeio.

Nas hostes de Dilma nada se atribui, no cômputo dessas dificuldades para o PT, ao voluntarismo do ex-presidente Lula. Estão juntos e os acertos mais substantivos com a imensa base de apoio da presidente ocorreram antes da primeira votação.

Três Ms e um P na embolada da reeleição

Assim, o segundo turno vai repetir o modelo e ela não se sente pressionada a premiar aliados que se integrem às candidaturas petistas porque os acordos políticos foram todos feitos antes do primeiro turno. Por exemplo, foi dado um ministério para o bispo Marcelo Crivella, aliado de Russomano, e um posto de comando para um indicado de Paulo Maluf, todos na empreitada da conquista da Prefeitura de São Paulo. O PMDB manteve a candidatura de Gabriel Chalita que, agora, seguirá com o candidato Fernando Haddad, do PT. Sem ganhar ministério no governo Dilma.

A negociação com o PMDB também ocorreu antes do primeiro turno. Dilma já deu seu apoio, e portanto a adesão de sua ampla aliança, ao domínio do partido em um dos Poderes da República, o Legislativo, onde vai presidir as duas casas do Congresso. Retirou obstáculos à eleição de Renan Calheiros para a presidência do Senado e avisou ao PT, que estava resistente, principalmente ao atual presidente Marco Maia, que apoiará o cumprimento do acordo para eleger Henrique Eduardo Alves presidente da Câmara. Portanto, tudo amarrado antecipadamente com o presidente de honra do partido, o vice-presidente Michel Temer. Se Dilma entregar algo mais ao PMDB será uma surpresa, inclusive para seus mais próximos.

Dilma irá a palanques, programas de TV e comícios contando que os aliados se juntarão ao partido no segundo turno sem exigências adicionais. Até porque, entre conselheiros da presidente, as condições de realização das disputas municipais, nesta fase, são mais políticas e menos pragmáticas.

A avaliação que faz o Planalto, e não poderia ser diferente em se tratando de integrantes do governo, é que Dilma foi bem no seu primeiro teste eleitoral. Cumpriu à risca o que determinou previamente, a decisão de não trombar com os partidos da base, e pesou a mão em São Paulo e Belo Horizonte, pelo convencimento de que eram eleições estratégicas.

Agora, é tratar da nova meta, o ano de 2014. A eleição municipal, para o governo, desfez o que aliados de Dilma estão chamando de falso dilema: o conflito entre o PT de Lula e o PT de Dilma, um trabalhando para um lado e outro para o outro. Na análise que apresentam, eles pensam o mesmo e agem em conjunto. Funcionou bem nas eleições municipais e o modelo será agora permanente para o próximo objetivo: manter o poder federal do PT, na Presidência da República, e conquistar governos estaduais.

Nesse caminho da reeleição, em 2014, tem o ano de 2013, em que a candidata Dilma Rousseff e seus mais próximos conselheiros políticos reputam fundamental principalmente para a definição dos adversários dentro do mesmo campo político. Cenário em que se distingue a expectativa em torno de uma definição de suas relações e as relações do ex-presidente Lula com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Não se considera necessária uma definição agora do governador, nem para barganhar espaço de poder nem para ter melhor posição na aliança. Ele apoia a presidente Dilma, continua integrando o governo e o próprio Lula já disse, a mais de um petista exaltado de seu staff, que passadas as eleições tudo se restabelecerá com Eduardo Campos.

O que se imagina é, se Dilma estiver bem em 2013, com seus 70% de popularidade, e o Brasil impermeável à crise internacional, que Eduardo Campos pode simplesmente decidir permanecer do tamanho que está e seguir rumo a 2018. Se a presidente se enfraquecer, Campos tanto pode querer mexer na chapa, tomando a vice do PMDB, ou ganhar musculatura maior lançando-se candidato. Porém, candidato do lulismo. Não se admite, nem como hipótese, a saída de Eduardo Campos desse espectro.

Outra equação que se desenrolará também em 2013 é a definição da candidatura do PT ao governo de São Paulo. O partido vai mostrar se continuará fazendo da disputa interna sua destruição ou se Lula terá força para determinar. Estão na disputa os três EMES - Marinho, Marta e Mercadante - o primeiro reeleito prefeito com o suor do ex-presidente Lula e os dois outros ministros de Dilma em postos avançados, ideais para uma campanha eleitoral. Até aqui, tudo igual. Há quem ainda coloque um P entre eles, o também ministro Padilha. Se o partido sobreviver a essa ameaça de torrencial tempestade, Dilma poderá seguir em segurança para 2014.

A história das dívidas públicas - MARTIN WOLF

Valor Econômico - 10/10

O que acontece se uma grande economia de alta renda, sobrecarregada por altos níveis de endividamento e com uma taxa de câmbio fixa e sobrevalorizada tentar reduzir as dívidas e reconquistar competitividade? A questão é relevante na atualidade porque esse é o desafio diante da Itália e Espanha. No entanto, como demonstra um capítulo no mais recente Panorama Econômico Mundial do Fundo Monetário Internacional (FMI), também há experiências relevantes na história: as do Reino Unido entre as duas grandes guerras mundiais.

A história prova que a interação entre as tentativas de "desvalorizações internas" e as dinâmicas das dívidas são potencialmente letais. Além disso, os apuros da Itália e Espanha são, sob muitos aspectos, piores do que os do Reino Unido que, no fim das contas pôde abandonar o padrão-ouro; sair da região do euro é bem mais complicado. E o Reino Unido tinha um banco central capaz de e disposto a reduzir as taxas de juros. O Banco Central Europeu (BCE) pode não estar disposto nem ter capacidade para fazer o mesmo com a Itália e Espanha.

O Reino Unido saiu da Primeira Guerra Mundial com uma dívida pública equivalente a 140% do Produto Interno Bruto (PIB) e com preços mais de duas vezes maiores do que antes da guerra. O governo resolveu voltar ao padrão-ouro pela paridade anterior à guerra, o que efetivou em 1925, e pagar a dívida pública, para preservar sua capacidade creditícia. Ali estava um país sob medida para o "Tea Party".

Há alto risco de que a combinação de políticas fiscais apertadas e condições monetárias rigorosas empurrem a Itália e a Espanha para uma armadilha de endividamento, por meio da interação de altas taxas de juros e baixo crescimento.

Para atingir seus objetivos, o Reino Unido apertou suas políticas monetária e fiscal. O superávit fiscal primário (sem contar o pagamento de juros) ficou perto de 7% do PIB ao longo dos anos 20. Isso, por sua vez, foi conseguido pelo "Machado de Geddes", como ficaram conhecidos os cortes determinados pela comissão presidida por Eric Geddes. A comissão recomendou reduzir os gastos públicos precisamente da forma indicada pelos atuais defensores da "austeridade expansionista". Paralelamente, o Banco da Inglaterra elevou as taxas de juros a 7% em 1920. O objetivo disso era respaldar a volta à paridade existente antes da guerra. A elevação, combinada com a consequente deflação, trouxe como resultado taxas de juros reais extraordinariamente altas. Essa, portanto, foi a forma como os tolos pretensamente virtuosos do "establishment" britânico receberam os pobres sobreviventes da terrível guerra.

No que resultou esse compromisso com a carestia fiscal e necrofilia monetária? Em 1938, a produção real mal estava acima do nível de 1928, após um crescimento médio de 0,5% por ano. Isso não se explicou apenas pela Depressão. A produção real em 1928 também estava abaixo da que se observava em 1918. As exportações estavam persistentemente baixas e o desemprego, persistentemente elevado. A alta desocupação foi o mecanismo que derrubou os salários reais e nominais. Os salários, contudo, nunca se tratam apenas um preço a mais. O objetivo era derrubar o trabalho organizado. Essas políticas resultaram em uma greve geral em 1926 e disseminaram um clima de insatisfação que se estendeu por décadas depois da Segunda Guerra Mundial.

Além de seus imensos custos sociais e econômicos, essas políticas fracassaram sob o ponto de vista de seus próprios termos. O país saiu do padrão-ouro de vez em 1931. Pior, o endividamento público não caiu. Em 1930, a dívida havia alcançado 170% do PIB e, em 1933, 190% do PIB (esses números dão outra perspectiva ao pânico com as porcentagens de hoje, bem menores). Na verdade, o Reino Unido voltou a exibir os níveis de endividamento anteriores à Primeira Guerra Mundial apenas em 1990. Por que o Reino Unido não teve sucesso em reduzir as dívidas em relação ao PIB? Resumidamente, o crescimento foi muito baixo e as taxas de juros, muito altas. Como resultado, mesmo um superávit fiscal primário enorme não conseguia restringir o quociente de endividamento.

A história é relevante para a região do euro de hoje. Para reconquistar competitividade rapidamente, em vez de ajustar-se a duras penas em dez anos ou mais, os salários precisam cair. Para isso, o desemprego precisa estar muito alto. No caso da Espanha, está. Mesmo com o desemprego em 25%, no entanto, os salários nominais subiram pouco menos do que os da Alemanha desde a crise. Ao mesmo tempo, o PIB real da Espanha está em queda. Os esforços para apertar a política fiscal certamente o reduzirão ainda mais.

Tudo isso ameaça colocar a Espanha em uma armadilha de endividamento, no caso, uma que ameaça tanto o setor privado como o público. A Itália, país com déficit fiscal menor, mas com dívidas públicas maiores, corre o risco de cair em uma armadilha parecida, se as taxas de juros continuarem altas e o PIB, debilitado. É por isso que o plano do Banco Central Europeu (BCE) para reduzir as taxas de juros que incidem sobre as dívidas públicas desses países é condição necessária para escapar do desastre de uma inadimplência fiscal simultânea a quebras bancárias.

O FMI avalia vários outros casos interessantes. A redução da dívida pública dos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial é um deles. Outro é a experiência do Japão nos últimos 20 anos, que tem paralelos com o Reino Unido dos anos 20 e 30, particularmente, no que se refere à deflação. Outros casos são os da Bélgica na década de 80 e os do Canadá e Itália na de 90.

A conclusão mais importante é que a consolidação fiscal é impossível sem um ambiente monetário que a sustente, com taxas de juros reais ultrabaixas e uma economia aquecida. O Japão não teve sucesso com isso nos anos 90 e 2000, da mesma forma que o Reino Unido não teve nos 20 e 30. A ineficácia da política monetária em países com setores privados alavancados, entre os quais o Reino Unido e os EUA de hoje, cria restrições similares, como o governo do Reino Unido está aprendendo.

Minha crítica ao capítulos do estudo é que não coloca os esforços de redução da dívida fiscal dentro do contexto do que está acontecendo com o endividamento privado. É muito mais complicado controlar os déficits fiscais quando o setor privado também deseja reduzir seu próprio endividamento excessivo: menos gastos de um lado significam menos renda para o outro. Na ausência de uma demanda externa forte, o provável resultado, portanto, é uma desalavancagem via inadimplência e depressão. Esse é o pior resultado imaginável.

O Reino Unido, pelo menos, tinha controle sobre as condições monetárias: no fim das contas, saiu do padrão-ouro e reduziu as taxas de juros. Os países-membros da região do euro não têm essas opções indolores. A austeridade fiscal e os esforços para reduzir salários nos países que sofrem de estrangulamento monetário, no entanto, poderiam quebrar governos, sociedades e até Estados. Sem uma maior solidariedade, é improvável que a história termine bem.

Uma hipótese para o baixo investimento - CRISTIANO ROMERO

VALOR ECONÔMICO - 10/10


A taxa básica de juros (Selic) está no menor patamar da história, o real se desvalorizou mais que outras moedas nos últimos meses, o governo adotou uma série de estímulos à produção e ao consumo e, mesmo assim, a economia brasileira parece patinar. Cresceu 2,7% em 2011 e neste ano deve avançar apenas 1,6%, de acordo com projeção do Banco Central (BC).

Há sinais de que, em termos anualizados, o Produto Interno Bruto (PIB) pode ter crescido 4% no terceiro trimestre, mesma taxa esperada para 2013 pela maioria dos analistas de mercado. As dúvidas que já começam a brotar aqui e acolá dizem respeito a 2014. Há quem acredite em expansão medíocre no último ano do mandato da presidente Dilma Rousseff.

Há várias hipóteses sobre a perda de dinamismo da economia brasileira. Uma delas é a de que, entre 2004 e 2010, o Brasil se beneficiou do boom de commodities provocado pelo forte crescimento da economia chinesa. Desde então, a China tem moderado o crescimento e, consequentemente, o apetite por produtos primários.

Flexibilização do tripé pode ter abalado confiança

Outra tese difundida é a de que o modelo de crescimento baseado em expansão do crédito e do consumo está perto do esgotamento, uma vez que os consumidores se endividaram excessivamente no último ciclo econômico, perdendo a capacidade de tomar novas dívidas. Outra possibilidade levantada é a de que as incertezas criadas pela crise mundial abalaram a confiança dos empresários nacionais.

De fato, o comportamento da taxa de investimento, medida pela Formação Bruta de Capital Fixo (FCBF), indicador que reflete os gastos das empresas com máquinas, equipamentos e construção civil, é uma das principais explicações do baixo desempenho recente do PIB. Depois de crescer a dois dígitos entre o primeiro e o terceiro trimestres de 2010, a FBCF vem caindo sucessivamente.

No primeiro momento, o investimento pode ter moderado porque ficou claro para o setor privado, no segundo semestre de 2010, que o PIB estava crescendo muito acima (7,5%) das possibilidades do país e que o BC reagiria com um novo ciclo de aperto monetário, o que de fato ocorreu. Os juros subiram, o crédito recuou e o resultado foi a queda da atividade econômica, que deixou muitas empresas com estoques elevados.

O aperto monetário foi revertido a partir de agosto do ano passado. Hoje, a taxa de juro é a menor da história. De acordo com o Valor Data, a Selic real está em 1,9% ao ano. Se o juro caiu tanto, por que o investimento não se recuperou?

A hipótese de que a confiança empresarial foi afetada pela turbulência internacional explica uma parte do problema. No entanto, o risco de deterioração da crise europeia, rumo a um evento extremo como o fim do euro, já foi muito maior. Hoje, o que se sabe é que a Europa deve crescer muito pouco por um bom tempo.

Há uma possibilidade, porém, da qual pouco se fala: a confiança dos empresários na economia pode ter sido abalada pelas mudanças no tripé de política econômica que vigora no país desde 1999. Os pilares desse tripé são a geração de superávits primários suficientes para reduzir a dívida pública líquida, o regime de câmbio flutuante e o sistema de metas para inflação.

A observância dessas políticas derrubou inflação e juros, amorteceu choques externos (como ficou comprovado na crise de 2008), encolheu a dívida líquida como proporção do PIB, diminuiu a volatilidade do produto e criou condições para o Brasil acelerar o crescimento. O tripé deu previsibilidade.

Os números são convincentes. Depois da adoção do tripé, a inflação anual média caiu de 8,75% no período 1999-2002 para 5,77% entre 2003 e 2010. O juro nominal (a taxa Selic efetiva) recuou de 26,7% ao ano no período 1995-2002 para 14,72% ao ano entre 2003 e 2010. A Selic real média caiu de 15,95% para 8,43% ao ano. O PIB, por sua vez, saltou de um crescimento médio anual de 2,47% para 4%.

O que se observa é uma forte correlação entre investimento e o bom funcionamento do tripé. De julho de 1994, quando o real foi lançado, a junho deste ano, o Brasil viveu, grosso modo, cinco ciclos de investimento. O primeiro, entre o terceiro trimestre de 1994 e o segundo de 1995, foi impulsionado pelo Plano Real, que derrubou drasticamente a inflação.

O segundo ciclo ocorreu entre o terceiro trimestre de 1996 e o terceiro de 1997. Foi interrompido por uma sucessão de crises: asiática, russa e a do próprio Brasil, em setembro de 1998. O terceiro já ocorreu sob a égide do tripé de política econômica adotado em 1999. Foi abortado em 2001 pelo apagão de energia elétrica e o contágio da crise argentina. Em 2002, os investimentos tiveram forte recuo em meio à sucessão presidencial - os investidores viram na possibilidade de eleição de Lula um risco de ruptura que não se concretizou.

O quarto ciclo de investimento foi o mais longo. Começou no segundo trimestre de 2004 e só terminou no terceiro de 2008 - foram 18 trimestres no azul, com taxas de dois dígitos em dez. Nesse período, o PIB avançou a taxas expressivas - 5,71% em 2004, 3,16% em 2005, 3,96% em 2006, 6,09% em 2007 e 5,17% em 2008, uma média de 4,81%. O ciclo foi interrompido pela crise mundial. Terá sido coincidência o fato de esse período luminoso da economia brasileira ter se dado na fase de vigência plena do tripé de política econômica? Provavelmente, não.

O último ciclo de investimento foi igualmente forte. Veio depois da crise de 2009, mas foi breve, pelas razões mencionadas. Depois, a inflação mudou para uma patamar acima de 4,5% e o PIB caiu para outro, abaixo de 3%.

O governo flexibilizou o tripé, sob a justificativa de que a crise mundial recrudesceu, derrubando o crescimento da economia global e, ao mesmo tempo, criando uma oportunidade para o Brasil baixar juros de forma estrutural. Isso é um fato, mas pode estar aí a explicação para a resistência do empresário em abrir o bolso e investir, afinal, a previsibilidade - já prejudicada pelo ambiente externo - diminuiu.

O país pode estar numa fase de transição que, uma vez superada, dê aos empresários o horizonte necessário para investir. Não se deve subestimar, entretanto, o efeito que as mudanças recentes podem estar tendo sobre a confiança. O câmbio não flutua mais e a meta de inflação de 4,5% não é perseguida pelo BC, segundo suas próprias sinalizações. O cumprimento da meta fiscal também está em xeque. A política mudou.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 10/10


Preço de energia industrial volta a crescer
O preço da energia vendida no curto prazo entre grandes consumidores no mercado livre, como algumas das maiores indústrias do país, está em alta, segundo a gestora e comercializadora Comerc.

Na segunda semana de outubro, o preço, conhecido como PLD, superou R$ 200/MWh, resultado que não acontecia desde outubro de 2010 nos submercados Nordeste e Norte.

Nas regiões Sudeste/Centro-Oeste e Sul, o PLD acima de R$ 200 havia ocorrido pela última vez em fevereiro de 2008, de acordo com análise da Comerc, com base em dados da CCEE (câmara de comercialização).

O volume de chuvas, inferior à expectativa para o período, manteve o nível de água dos reservatórios baixo e provocou os altos preços, segundo Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc.

Os números devem ser avaliados além dos grandes consumidores do mercado livre, pois a partir de 2014 as oscilações do PLD serão sentidas também pelos consumidores cativos, segundo o executivo.

"Toda vez que o PLD ultrapassar R$ 100/MWh, será acrescido à tarifa cativa um valor de R$ 15 por MWh. Quando o PLD ultrapassar R$ 200/MWh, haverá acréscimo de R$ 30 por MWh para o consumidor cativo", afirma.

"Isso foi determinado pela Aneel a partir do terceiro ciclo de revisão tarifária para dar um sinal ao consumidor cativo de que a energia é cara e que economizar é uma necessidade", diz Vlavianos.

"Outro objetivo é recompor o custo das distribuidoras pelo fato de elas terem de pagar valores maiores para as distribuidoras contratadas devido ao uso de geração térmica."

"O recorde no preço se deve ao volume de chuvas, inferior à expectativa para o período"

"A partir de 2014, oscilações do preço serão sentidas também pelos consumidores cativos"

CRISTOPHER VLAVIANOS

presidente da Comerc Energia

MÓVEIS PARANAENSES
O grupo paranaense MM, de eletrodomésticos e móveis, irá investir R$ 20 milhões na construção de um centro de distribuição em Santa Catarina, na cidade de Piçarras.

O empreendimento terá 27 mil m2 de área construída. Apenas 10 mil m2 serão utilizados pela rede de varejo. O restante será locado, segundo Emílio Glinski, diretor-geral de lojas.

No ano que vem, a empresa deve abrir 20 unidades -hoje são 165 no Paraná e em Santa Catarina. O aporte destinado às novas lojas será de R$ 6 milhões.

A companhia também se prepara para entrar nos mercados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

"A partir de 2014, abriremos dez lojas em cada Estado e avançaremos naquele que oferecer o maior retorno", diz o sócio da rede, Marcio Pauliki, que espera faturar R$ 600 milhões neste ano.

NA MESA
Para ganhar mercado no exterior, a Seara Foods lança neste mês duas novas categorias de produtos no Reino Unido. Os itens foram desenvolvidos exclusivamente para o mercado britânico.

A China também está entre as metas da empresa, com mais 70 produtos comercializados no país.

A JBS, por sua vez, também tem novidades no Reino Unido. A Novaprom, unidade de negócios responsável pela produção de colágeno, recebeu, nesta semana, o selo britânico BRC (British Retail Consortium) de qualidade, certificação que possibilitará a entrada do produto em mercados como Reino Unido, Alemanha, França e EUA.

A empresa produz atualmente 300 toneladas por mês em sua unidade instalada em Lins (SP). O produto destina-se à indústria de alimentos, em produtos lácteos, de panificação e outros.

Mercado... 
A Contém 1g Make Up, rede de produtos cosméticos, vai inaugurar 22 pontos de venda até o final deste ano. Serão 11 lojas e 11 quiosques, todos em novo formato que oferece serviços como cursos de automaquiagem.

...de beleza 
A rede pretende chegar a todas as capitais brasileiras, com a inauguração de uma loja em Tocantins, ainda neste ano, e unidades em Roraima e no Piauí, no início de 2013. Atualmente, a rede tem 97 lojas e 67 quiosques.

ESTANTE EM EXPANSÃO
A Livrarias Curitiba planeja entrar no mercado do interior de São Paulo no ano que vem com uma unidade em Sorocaba (a cerca de cem quilômetros da capital).

A rede costuma abrir duas lojas por ano. A localização da segunda livraria de 2013 ainda não foi definida. Em 2012, serão em Florianópolis e Maringá (PR).

"Preferimos estar em cidades de médio porte, em mercados com pouca concorrência, pois o retorno é mais seguro", afirma Marcos Pedri, diretor do grupo.

A empresa, no entanto, tem uma loja na cidade de São Paulo. "Ela fica em um shopping na zona leste, que é uma região com características semelhantes às de um município."

As unidades da rede estão todas em shoppings, pois a maioria das compras em suas livrarias ocorrem por impulso, segundo Pedri.

Receita... 
A Ferrero, que acaba de anunciar o lançamento do chocolate Raffaello no Brasil, estima que o doce coberto de coco venha a representar em dois anos 25% do negócio de bombons da empresa italiana no país.

...nova 
Quarta maior companhia do segmento do mundo, a Ferrero tem fábrica em Poços de Caldas (MG) desde 1997. Entre outras marcas, a empresa produz os chocolates Ferrero Rocher e Kinder Ovo, além de Tic Tac e Nutella.

EMBARQUE
Os passageiros do setor aéreo veem com bons olhos ofertas de autoatendimento, segundo pesquisa da Sita, empresa especializada em soluções de TI para o setor.

O check-in automático de bagagens é um dos serviços de maior destaque para 68% dos entrevistados.

Cerca de 65% afirmaram que gostariam de receber informações atualizadas sobre voos em seus celulares.

A pesquisa foi realizada com 2.526 passageiros de mais de 70 países nos aeroportos internacionais de São Paulo, Pequim, Atlanta, Abu Dhabi, Mumbai e Frankfurt.

Câncer, formicida e leite condensado - ROBERTO DaMATTA


O Globo - 10/10


À sentença shakespeariana que o mundo é palco e todos somos atores, pode-se acrescentar que os papéis recebidos e escolhidos, comprados ou obtidos por mérito ou eleições, devem ser honrados. No julgamento do mensalão eu pensava assistir a um "E o vento levou", mas estou testemunhando uma narrativa de Machado de Assis. O mesmo sentimento cerca as eleições cujo resultado vai ser formicida para uns e leite condensado para outros. Mas eu não tenho dúvida que estamos vivendo um momento de consolidação da igualdade. Há uma virada em curso.

Ele pensava nisso quando se descobriu com um câncer no pulmão. A doença, explicou o médico, atingira o pulmão direito e também o esquerdo simultânea e fulminantemente. A gravidade do caso veio na forma de uma daquelas palavras de raiz grega incompreensíveis e deu um estranho toque de normalidade para o anormal. Os pulmões iam tergiversar, pedir vista e, em 90 dias!, parar. Como é que o meu corpo, esse corpo fiel que eu tanto amei, vira-se contra mim? Em vinte minutos e 500 reais, passei de monstro saudável a doente com três meses de vida. E o pior é que, afora uma tossezinha boba, nada sentia. Mais ainda: o leite condensado com o qual sua saudosa mãe resolvia todos os problemas não funcionava. Leite condensado parava choro, mas não curava câncer. Calculou e viu que ele jamais saberia o desfecho do mensalão e da eleição.

Saiu do consultório focado na morte prevista. Esse oposto da vida. A vida termina, é claro, mas não se sabe quando. Era bizarro viver sabendo a data da morte. De agora em diante, a última vez seria companheira. Até o cafezinho ou um humilde aperto de mão poderia ser um grande gesto. Diante da vida em processo de liquidação, chorou com pena de si mesmo. Mas tramou uma vingança - um golpe para golpear a vida que o havia traído.

Fez um enorme empréstimo consignado que o governo facultava aos professores das escolas federais. Sendo professor e celibatário, tinha um belo cadastro. Um burocrático gerente fez-lhe um aporte de dois milhões de reais para serem pagos, como disse sorrindo, "a perder de vista..." Jamais serei julgado ou condenado, ria ele pela primeira vez depois do diagnóstico.

Vamos encontrá-lo agora numa viagem por três cidades do exterior, onde passeia como um vagabundo, morando nos melhores hotéis e comendo nos restaurantes mais caros. Oxford (onde havia sido um estudante pobre), Londres (onde raramente se distraía entre suas pesquisas sobre a antiestrutura das ordens estruturais) e Paris, onde entretinha longas conversas com um colega famoso cuja condescendência ele tomava por cordialidade. A visita a esses lugares como um homem rico datado pela morte trazia-lhe de volta um passado envolto em estudo e no tempo que gastara para mesquinhamente demolir o trabalho dos seus colegas mais estabelecidos. Movia-lhe mais a inveja do que o avanço científico, constatou bebericando com indiferença uma taça do melhor champanhe. E, nos jantares com os velhos professores e ex-colegas, percebeu como as mais sólidas teorias se desfaziam não apenas no ar, mas na perspectiva da morte prejulgada.

Numa visita ao Instituto onde havia obtido o diploma, encontra uma ex-colega. Saem para um almoço planejado para ser frugal mas que se transformou num tórrido banquete carnal e espiritual. Seguiram para um cruzeiro no qual faziam amor e discutiam os problemas mais sérios do seu próprio trabalho: as antiestruturas que, vistas de longe, se transformam em estruturas; e, em seguida, em processos. E os processos que, vistos de perto, gravitavam em torno de duras e, às vezes, turgescentes estruturas, retomando o ponto inicial.

No balanço do navio e da gangorra do amor, a doença era esquecida e o julgamento da morte dava lugar à vida que, imprevisível, retornava. Os sintomas mais graves jamais surgiram. Foram-se os três meses e ele estava mais forte do que nunca.

Recebi notícias dele nesses dias. Está excitado com o julgamento do mensalão, que acompanha religiosamente. Mas não sabe como vai dar conta da dívida. Estou dividido pelo amor e pela dívida, diz inseguro. Agora era a morte quem lhe dava uma rasteira. Sofria a angústia da normalidade dos que não sabem quando vão morrer e têm dívidas incomensuráveis com bancos, com pessoas, com rotinas e com o mundo.

Atormentado, comprou uma lata de leite condensado (que, como dizia sua mãe, resolvia tudo no Brasil) e um pote de formicida (que também faz o mesmo). Em casa, pôs lado a lado o doce e o veneno.

Nesse exato momento toca o telefone despertando-me da história. Era um jornalista solicitando uma entrevista. Coisa simples, professor: estamos fazendo uma matéria isenta sobre o mensalão e queremos saber a sua opinião antropológica sobre a propensão brasileira para o roubo público. Marquei a entrevista para o fim do dia. Afinal, nada mais ordinário do que responder a essas questões triviais que os jornalistas fazem o tempo todo.

Tentei retomar o meu personagem dividido entre o leite condensado e o formicida, mas havia perdido o contato mediúnico. E, sem ele, o herói simplesmente desvaneceu-se da minha mente. De modo que não tenho como terminar a crônica. Sugestões são mais do que bem-vindas, pois, se minha mediunidade literária foi subitamente suspensa, rogo a Deus e à realidade que ela não tenha acabado.

Quatro vitórias em São Paulo - FERNANDO RODRIGUES


FOLHA DE S. PAULO - 10/10



BRASÍLIA - Apenas um será o prefeito da cidade de São Paulo, mas os quatro primeiros colocados na disputa de domingo acumularam expressivo capital político. Cada um a seu modo decidirá agora como utilizar esse ativo adquirido nas urnas.

José Serra (PSDB), aos 70 anos, foi durante semanas dado como possível ausente no segundo turno.

Teve um de seus piores desempenhos entre os paulistanos. Enfrentou a má vontade de parte de seu partido, inclusive do governador Geraldo Alckmin. Acabou indo para a rodada final como primeiro colocado.

O tucano pode fracassar no dia 28. Ainda assim, terá se mantido em evidência. Continuará influente sobre parcela grande do PSDB. É improvável que a legenda escolha seu candidato a presidente em 2014 sem ouvir Serra, sendo ele prefeito ou não de São Paulo.

Fernando Haddad teve a terceira pior votação histórica do PT entre os paulistanos. Só que foi também o candidato petista menos conhecido do público em todas as eleições locais. Sua arrancada para ir ao segundo turno é uma das maiores já vistas entre petistas numa reta final.

Se ganhar, Haddad torna-se a nova opção do PT para o governo paulista e para voos mais altos no futuro. Mesmo numa eventual derrota, ao ter ido para o segundo turno, já está credenciado para novas disputas.

Celso Russomanno teve 21,6 % dos votos válidos. Há dois anos, em 2010, sua marca na capital foi de 6,7% ao disputar o governo paulista. Triplicou sua votação. Apesar de pertencer a um micropartido (PRB), marcado por influência religiosa, ganhou relevância como ator político na maior cidade do país.

Por fim, Gabriel Chalita e seus 13,6% deram ao PMDB o que mais faltava ao partido: votos. A renovação oxigenou a sigla detentora de um curioso paradoxo: é gigante no Brasil e nanica em São Paulo.

Tudo somado, houve quatro vitoriosos na eleição de São Paulo.

Crescimento medíocre - JOSÉ MÁRCIO CAMARGO


O Estado de S.Paulo - 10/10



Após um ano de políticas expansionistas, a taxa de crescimento da economia brasileira insiste em decepcionar. Enquanto, em 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,7%, a expectativa para 2012 é de minguado 1,4%. Apesar da forte desaceleração, a taxa de inflação caiu de 7,5% ao ano, em setembro de 2011, para 5,3% ao ano, em setembro de 2012, bem acima do centro do intervalo de metas para a inflação (4,5%). E as expectativas para a inflação em 2013 permanecem teimosamente elevadas.

Com esses números, o Brasil tem um dos piores trade-offs entre inflação e crescimento no mundo emergente. As incertezas geradas pela crise europeia e o baixo crescimento do mundo desenvolvido não explicam o fraco desempenho relativo do Brasil, se comparado a seus pares.

Depois de cinco trimestres de queda, a indústria reagiu no 3.º trimestre, mas o setor produtor de bens de capital cresceu anêmico 0,3%, sinalizando fraqueza do investimento. Esses resultados surpreenderam muitos analistas. Os incentivos estão demorando a ter os efeitos esperados, principalmente no que se refere ao investimento, e a queda na taxa de inflação foi muito menor do que se poderia esperar para uma economia crescendo supostamente abaixo de seu potencial, que muitos estimam estar próximo de 4% ao ano, por dois anos consecutivos.

Um candidato "natural" a justificar esse comportamento é que o potencial de crescimento do País seja menor do que os analistas estimam. E muitos são os sintomas que apontam nessa direção. Primeiro, a baixa e declinante taxa de investimento, apesar de as taxas de juros dos programas do BNDES estarem negativas, em termos reais. Segundo, os gargalos da infraestrutura, que encarecem os custos de produção, são visíveis a olho nu: estradas mal conservadas e engarrafadas, aeroportos superlotados, telecomunicações precárias, trânsito caótico, etc.

Terceiro, com a taxa de desemprego já muito baixa e a taxa de crescimento da População Economicamente Ativa (PEA) em 0,7% ao ano, apesar da medíocre taxa de crescimento do produto e da queda na geração de empregos, o desemprego continua caindo. Com isso, os salários reais crescem sistematicamente acima da produtividade do trabalho, aumentando o custo real do trabalho. Sem ociosidade no mercado de trabalho, seria necessário um forte aumento da produtividade para sustentar uma taxa de crescimento próxima de 4% ao ano.

Porém, com a baixa qualidade do sistema educacional público e legislação trabalhista que incentiva relações de trabalho de curto prazo e pouco investimento em treinamento e qualificação, a produtividade do trabalho no Brasil cresce pouco há décadas, e está em queda desde 2007.

Para completar, a capacidade ociosa nos países desenvolvidos e asiáticos impossibilita o repasse dos aumentos dos custos do trabalho e da infraestrutura aos preços dos bens industriais. Sem competidores internacionais, os aumentos de custos do setor serviços são repassados a seus preços, o que valoriza a taxa de câmbio real, reduz as taxas de lucro da indústria, deteriora as expectativas, desincentiva os investimentos e diminui o potencial de crescimento da economia.

Como, em razão do cenário externo, as pressões inflacionárias devem permanecer restritas aos bens não comerciáveis, mais incentivos à demanda vão intensificar as pressões sobre o mercado de trabalho e a infraestrutura, que já estão trabalhando além de sua capacidade. Afinal, aumento da demanda implica estradas mais congestionadas, aeroportos mais cheios, telecomunicação mais precária, trânsito mais caótico, menor desemprego, maiores salários sem ganhos de produtividade e preços dos serviços mais altos. Enfim, aumento do custo de produzir no País, valorização real da moeda, redução da competitividade, menos investimento e menor potencial de crescimento da indústria. E sem aumentar a competitividade do setor industrial, o crescimento vai permanecer medíocre.

Sem trégua - SONIA RACY

O ESTADÃO - 10/10

A guerra por causa do polêmico projeto da nova Lei Orgânica da AGU não tem fim. Advogados públicos federais entraram com ação no Supremo para tentar barrar a proposta, enviada ao Congresso pela Casa Civil. 
Eles são contra a possibilidade de profissionais sem concurso assumirem postos de comando no órgão. O jurista Celso Antonio Bandeira de Mello e Carlos Velloso, ex-presidente do STF, apoiam a causa. 

Terceirização? Tony Blair- contratado pelo Movimento Brasil Competitivo para prestar consultoria ao Estado de São Paulo - sondou a McKinsey para ajudá-lo. 
O MBC acertou pagamento de R$ 12 milhões para tanto. 

AbstençãoO cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo metropolitano de SP, não votou no domingo. Foi a Roma, onde participa de encontro do qual é o organizador: o Sínodo dos Bispos - reunião do papa Bento XVI com bispos de todo o mundo. 

Sarney na ABLA ABL reforça segurança para visita de Sarney, amanhã. Quando abre a exposição em homenagem aos 80 anos do acadêmico Eduardo Portella. 

SuspenseEntra em pauta hoje, no Cade, a fusão entre Gol e Webjet. 

Para titiaNa segunda-feira, Serra fez questão de passar pela Mooca. Para visitar sua tia Teresa- que completou 92 anos. 
Tia Carmen também estava. 

Por que só eles? E a indústria está com inveja das novas regras tributárias para o mercado automotivo. 
Setores da linha branca e móveis querem também um “turbinador de crédito de IPI”. 

Haja glitterA T4F está lidando com um “congestionamento de divas”. Após receber Liza Minnelli, a empresa traz Lady Gaga, que se apresenta no mesmo dia (9 de novembro) de Joss Stone. A primeira, no Morumbi; a segunda, no Credicard Hall. 
Para fechar o duelo, Madonna chega em dezembro. 

Glitter 2O show de Madonna, aliás, vem impressionando bastante o público, por onde passa. A rainha do pop dança muito mais do que em sua última turnê. 
Pontos altos? Like a Virgin e Express Yourself - música em que provoca Lady Gaga. 

Bom filhoDireto da Polônia, onde a seleção brasileira está concentrada para os próximos dois amistosos, Andrés Sanchez manda recado: ouviu de Kaká que o craque está muito confiante nesta sua volta à equipe. 

“Só a criatividade salvará o mundo” 
Pouco antes do acordo na Justiça, que liberou o Grupo Allard, esta semana, a construir um “ trade art center” gigante no lugar do antigo Hospital Matarazzo (pelo qual pagou R$ 117 milhões), Alex Allard falou à coluna sobre seu sonho. Com direito a teatro no subsolo, lojas artesanais, hotel e escritórios. Tudo dentro de uma área de 4 hectares. 
“Conheci o Brasil há 23 anos, com um amigo que me apresentou de Toquinho a Chico Buarque, passando pela casa de Caetano Veloso, onde me hospedei. E me apaixonei pelo País. Desde então, tento fazer algo por aqui”, conta o empresário, nascido em Washington, criado na Costa do Marfim e radicado em Paris. Sua ambição não é pequena: o projeto, de R$ 1 bilhão, inclui até teatro subterrâneo, cercado de lojas artesanais, hotel e escritório. Desenho arquitetônico de Philippe Starck, sendo que a capela será reformada por… Jean Nouvel. 
Foram muitas idas e vindas até que a Previ acertasse os ponteiros da venda do imóvel, abandonado há quase 20 anos. 
A seguir, os principais trechos da conversa. 

O Grupo Allard tem negócios em boa parte do mundo…Tive muita sorte ao criar minha primeira empresa, ainda jovem. E hoje temos negócios na Rússia, nos EUA, na China, em muitos lugares. Mas sempre acreditei no potencial dos países do hemisfério sul, principalmente o Brasil. Queria fazer algo diferente aqui - porque acho que o Brasil pode fazer diferença no mundo. Tenho certeza de que o país será o que a Europa e os Estados Unidos foram nos anos 60. 

Isso é uma visão pessimista do primeiro mundo? Tem gente que me acha maluco - e eu sou mesmo (risos). Mas a realidade é que o planeta está morrendo. Temos democracia - falando de modo geral -, ela funciona, mas não está nos levando a lugar algum. Do ponto de vista religioso, a oposição entre islamismo e cristianismo nunca esteve tão grande. Politicamente, tem-se gastado mais dinheiro em suítes de hotel do que em ações que melhoram a vida das pessoas. No campo econômico idem: toda vez que se fala em reorganizar o sistema bancário, por exemplo, é uma grita. Estão levando o mundo para o colapso. A verdade é que o dinheiro manda, e estamos perdendo o respeito por quem trabalha. Estamos sendo governados por gente do sistema financeiro, que dita as regras. O mundo está ficando desumanizado. Estamos perdendo a noção de nossos cinco sentidos. Só que o mundo, para ser salvo, depende deles e da nossa criatividade. 

O que é a economia positiva de que você tanto fala? É uma economia que respeita o talento das pessoas - o capitalismo nos ensina (e talvez seja a única coisa boa que nos ensina) a respeitar o trabalho, respeitar mais quem trabalha mais. É a utilização da genialidade, do talento, em prol da coletividade, da sociedade. Isso representa valor para todos. 

E como fazer isso? Com projetos como este que vamos fazer aqui. Na França, por exemplo, temos um centro do tipo dedicado inteiramente à sociedade. Para fazer de Paris uma capital da arte. Lá, quando falei a respeito do projeto, encontrei muita gente conservadora. Aliás, eu sou um problema para pessoas conservadoras (risos). Só que o custo para o estado e para a sociedade é zero. Qual o retorno? Como o objetivo é dar oportunidade e liberdade às pessoas, essa iniciativa gera respeito, força, valor para as empresas. E a pessoa que recebe algo assim quer devolver o que ganhou - é um multiplicador de ações criativas e benéficas. Eis a economia positiva em ação. 

O que mais agrada no Brasil? No decorrer dos últimos cinco séculos, o Brasil criou uma comunidade (não digo perfeita, claro) que aprendeu a lidar com as diferenças. Fantástico. Por exemplo: aqui vocês têm uma imensa colônia libanesa. Nova York também tem. Mas lá, os libaneses falam árabe. Aqui, fui conversar com o prefeito, Kassab, e ele não sabe falar árabe. Isso demonstra algo importante: as pessoas que vivem no Brasil são brasileiras, apesar de pertencerem a diversas etnias. Essa característica, para mim, é um modelo para o mundo. 
E o ambientalismo? Embora as empresas brasileiras ainda não sejam um exemplo de boa gestão nesse aspecto, quando o Brasil fala sobre meio ambiente, o mundo ouve. 

E por que escolheu este lugar em São Paulo? Há cerca de seis anos, pedi a uma equipe na França para encontrar lugares para investir e criar o futuro. Lugares com passado, com raízes. Ah, e que fossem grandes, para que eu pudesse fazer centros culturais e de criação, para reunir gente do mundo inteiro.

Fabulações do mensalão - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 10/10


Para os petistas, o julgamento do mensalão representa um golpe da direita contra uma administração popular que, pela primeira vez na história deste país, promoveu mudanças de verdade.

Para seus adversários, se há uma revolução em curso, ela virá com a condenação dos principais réus, que romperá o ciclo da impunidade de políticos e lançará o Brasil numa nova era de moralidade
administrativa.

Ambas as versões, em especial a primeira, não passam de fabulações com fins políticos. Urdi-las faz parte do jogo democrático, que não bane a tentativa de influenciar magistrados e eleitores, mas reconhecer isso não implica que devamos acreditar nelas.

Se há algo notável e até certo ponto inesperado nessa história é que as instituições estão funcionando. A PF, subordinada a um ministro petista, investigou o caso, colheu provas e as levou ao Ministério Público. O procurador-geral, nomeado pelo próprio Lula, viu uma série de crimes e apresentou a denúncia. E o STF, de cujos 11 integrantes originais 8 chegaram ao cargo por indicação de presidentes petistas, vem, após análise individualizada de cada caso, condenando a maior parte dos acusados. Se, diante desse histórico, o PT ainda insiste na tese do golpe, em vez de acusar a direita, deveria procurar um sabotador em suas próprias fileiras.

Isso significa que o Brasil mudou, como quer o devaneio tucano? É claro que não. As instituições funcionaram aqui porque a situação era atípica, explosiva demais para ser ignorada. Só que boas instituições funcionam sempre, independentemente de quem sejam os envolvidos. E, nesse quesito, nossa Justiça é muito ruim, como o prova o caso do mensalão mineiro, cronologicamente anterior ao do PT, mas ainda não julgado.

Nesse contexto, os petistas poderiam queixar-se de estar pagando por ter agido como todos os outros. Pode ser, mas o mundo é muitas vezes cruel e, por definição, só podemos punir os que se deixam apanhar.

Lula, maior vencedor e maior perdedor do pleito - JOSÉ NEUMANNE


FOLHA DE SP - 10/10


Nunca antes na História deste país aconteceu o que se registrou nesta eleição municipal de domingo: um protagonista absoluto que nem sequer foi candidato e saiu das urnas como o grande vencedor. Mas pode vir a ser o maior perdedor, a depender do que ocorrer em São Paulo daqui a três domingos, no segundo turno. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu o que muitos, inclusive de sua grei, consideravam impossível: levou aos trambolhões o jejuno ex-ministro da Educação Fernando Haddad à disputa final contra o conhecido e experiente adversário tucano, José Serra. Se Haddad ganhar em 28 de outubro, a oposição será desalojada de seu penúltimo bastião de poder relevante, a Prefeitura de São Paulo, o que pode dificultar a reeleição de Geraldo Alckmin para o governo do Estado em 2014. Se perder, será retirado de Lula o condão de fazedor de reis.

Do êxito da "tucanada" desunida dependerá o futuro imediato do outro grande vencedor do primeiro turno dos pleitos municipais: o neto de Miguel Arrais, governador de Pernambuco e presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos, aliado federal de Lula e seu desafeto vitorioso em duas praças importantes. Pois o triunfo do petista em São Paulo poderá tirar das costas do padim Ciço de Caetés o peso representado pelos erros sesquipedais que ele e seus seguidores cometeram no Recife e em Belo Horizonte por soberba e ignorância. O que o eleitor paulistano decidirá é um mistério incapaz de ser constatado pelos institutos de pesquisa, conforme foi revelado na disputa deste domingo. Nunca antes houve divórcio tão grande entre pesquisas de intenção espontânea e por indução quanto na reta final da semana passada em São Paulo: dos eleitores entrevistados, quase 40% não tinham um nome para enunciar e terminaram queimando a língua das pesquisas. Os números recordistas de abstenção e de votos nulos e em branco superaram o total dos dados a Serra. Somados aí os votos dos candidatos retirados do pleito, os dois ponteiros tiveram 1,3 milhão de sufrágios menos.

Serra ficou com o tradicional terço do reduto do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), assim como Haddad se aproximou do terço do Partido dos Trabalhadores (PT), restando-lhes agora a árdua missão de convencer mais da metade do maior eleitorado municipal brasileiro a desalojar o adversário do posto cobiçado. Sim, porque mais do que nunca em São Paulo será escolhido o menos rejeitado, restando ao vencedor a glória do poder e também a tarefa de descascar as batatas que lhe cabem de tal forma a superar a barreira óbvia da desaprovação aos estilos de gestão e política adotados recentemente pelo partido no governo e pelo principal polo de oposição na União, nos Estados e municípios.

Numa óbvia demonstração de que o que lhe sobra em sorte falta em juízo e conhecimento de causa sobre o Estado onde nasceu, Lula patrocinou uma bobagem sem tamanho que jogou por terra anos de boa gestão administrativa e proveitosa parceria com o governador na prefeitura do Recife. O bem avaliado prefeito João da Costa ganhou a convenção do PT e foi impedido de disputar o cargo por uma intervenção brutal e pouco astuta dos dirigentes nacionais de seu partido. Do topo do recorde de preferência no Estado, o governador pernambucano simpatizava com a candidatura do deputado Maurício Rands, também retirada da disputa por decisão vinda do alto. Rands saiu do PT e Campos partiu para voo solo tirando do bolso do colete um candidato ainda mais jejuno do que Haddad em São Paulo, seu ex-secretário de Planejamento Geraldo Julio. Este venceu no primeiro turno e tudo indica que o aliado socialista livrou o PT de uma evidência vexaminosa: o candidato imposto por Lula, o ex-ministro Humberto Costa, também foi superado pelo poste tucano Daniel Coelho. O terceiro lugar do petista reafirmou a rebeldia do Recife, que o presidente nacional petista, Rui Falcão, cobrará do diretório municipal. Uau!

A vitória dos aliados PSB em Belo Horizonte e Partido Democrático Trabalhista (PDT) em Porto Alegre logo no primeiro turno ocultou uma constatação exata do tamanho dos desastres petistas em praças que dominava sem sustos na companhia de aliados. Adão Villaverde foi o primeiro candidato do partido da presidente Dilma Rousseff, que votou não se sabe em quem na capital gaúcha, a não disputar o turno decisivo do pleito. Mas este não haverá e, por isso, o fato histórico pode passar ao largo. Em Belo Horizonte a disputa dual não levaria a segundo turno mesmo, mas a presidente quis se aproveitar da condição de mineira para tirar da frente um tucano forte para enfrentá-la na eleição, Aécio Neves, que apoiava, juntamente com o PT, o prefeito Marcio Lacerda. Com gestão aprovada e a força tucana no Estado, o candidato do partido de Campos, e mais uma vez Campos, não tomou conhecimento do favorito da chefona, Patrus Ananias. Também é o caso de Lula e Dilma comemorarem a óbvia transformação da campanha em carne de vaca em 28 de outubro, quando os olhos da Nação só estarão voltados para São Paulo.

Eleições municipais não costumam alterar o panorama das estaduais e da federal, de dois anos depois. A trágica realidade da oposição, et pour cause da democracia no Brasil, é que, mesmo quando perdeu, o PT foi vencido por aliados. Principalmente Campos. E o PDT, ao qual não faz muito tempo a presidente era filiada. A maior vitória oposicionista foi do governista Marcio Lacerda. Resta Serra, que enfrentará uma rejeição monumental, a avaliação negativa do aliado Kassab e a invejosa indiferença dos companheiros de partido para garantir um local de onde alguma dissidência possa levantar a voz contra o aniquilante poder das bancadas de apoio ao governo federal. Se Serra vencer, os tucanos ficarão na trincheira, no aguardo do embate de daqui a dois anos pelo maior Estado da Federação. Se Haddad vencer, Dilma só poderá ser derrotada pela economia e Campos esperará a vez chegar à sombra e água fresca do poder.