domingo, fevereiro 12, 2012

Mexer no Código - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 12/02/12


O governo reuniu ministros e líderes do PT e do PMDB, para pedir que os dois maiores partidos da Câmara chancelem o texto do Código Florestal aprovado pelo Senado. O governo não quer reabrir o debate, porque teme a radicalização da articulada bancada ruralista. Seu desejo não será atendido. O relator, deputado Paulo Piau (PMDB-MG), está convencido de que é preciso limpar da redação os elementos subjetivos e que são passíveis de interpretação pelo Ibama e pela Justiça.

As divergências no Código Florestal
Os consultores da Câmara consideram que a redação do inciso III do artigo 1º é genérico e poderá dar margem a interpretação pelo Ministério Público e o Judiciário. O texto diz que é "função estratégica da produção rural a recuperação e manutenção das florestas e demais formas de vegetação nativa". Eles sustentam que a principal função é produzir alimentos, fibra, carnes e energia. No parágrado 14 do artigo 62, eles temem que a criação da figura da "bacia crítica" pode dar margem subjetiva para ampliar as áreas de proteção às margens de rios para além das APPs. Sobretudo, porque a decisão será dos

GUERRA NA MONTANHA. 
Os aliados do ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) em Minas estão elegendo delegados, em Belo Horizonte, defendendo a tese de "primazia na aliança pela reeleição do prefeito Márcio Lacerda" (PSB). Não adotaram o "apoio a Lacerda", pois isso mataria o PT na negociação. Se perderem para ala do vice Roberto Carvalho, a favor da candidatura própria, pretendem lançar candidato às prévias.

Show do Garibaldi
A bancada do PMDB quer que o ministro Garibaldi Alves (Previdência) convoque uma rede de TV para explicar o Funpresp. Alega que as reformas no setor passam a imagem de serem contra aposentados, pensionistas e servidores.

Risco zero
A Fifa está usando o tumulto em um jogo de futebol no Egito para pressionar a União a contratar seguradora para arcar com indenizações por eventuais danos físicos, mortes ou danos à propriedade na Copa. O governo não aceita.

Lavando as mãos
Integrante do Parlamento do Mercosul, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) teve uma audiência com o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, para se inteirar da situação dos brasiguaios. Requião passou a defender o Paraguai. "Os colonos brasileiros são verdadeiros paraguaios: é a segunda, terceira geração de colonos nascidos lá", disse ele, para quem o conflito agrário em curso é "uma questão de soberania do Paraguai".

Na contramão
Com exceção da tributária, nenhuma das reformas defendidas pelo PT onte, em sua festa de aniversario, está na pauta do governo Dilma. Foram citadas as reformas política, sindical e agrária, além da "democratização" da comunicação.

Prestígio
Ministras Maria do Rosário (Direitos Humanos), Ana de Hollanda (Cultura) e Luiza Bairros (Igualdade Racial) escolheram a Bahiapara lançar, quinta-feira, campanha contra a exploração sexual de crianças e adolescentes no carnaval.

INTERESSES CONTRARIADOS. 
Integrantes do PMDB do Rio e do PT de São Paulo se uniram para tentar derrubar o presidente da CEF, Jorge Hereda.

RUMO À COPA. 
Depois da concessão dos aeroportos de Guarulhos, Brasília e Viracopos, o governo prepara plano para o desenvolvimento da aviação regional.

POTÊNCIA. 
A nova ministra de Política para Mulheres, Eleonora Menicucci, e sua antecessora, Iriny Lopes, são de Lavras (MG).

ESTOU saindo de férias. Até o dia 26, a coluna ficará sob a responsabilidade de Fernanda Krakovics.

Incoerente da Silva - DORA KRAMER


O Estado de S.Paulo - 12/02/12


A tardia, mas benfazeja privatização dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília, que abre ainda o caminho para a entrega do Galeão (RJ) e Confins (MG) à administração do setor privado, atordoou o PT e pareceu revigorar por alguns momentos o PSDB.

O ato deveria encerrar a questão, excluindo-a da agenda não digamos política, mas eleitoral porque o PT só volta ao tema quando interessa infernizar o adversário ruim de defesa.

Mas, como avisou o presidente do partido, Rui Falcão, "a guerra continua".

A depender de quem ganhe a batalha da comunicação com a sociedade, continuará na agenda com vantagem para os petistas. Os tucanos riram muito, divertiram-se em provocações nas redes sociais, no Congresso, em artigos e entrevistas.

Muitas (não todas) repletas de razões consistentes explicando diferenças e semelhanças entre o processo iniciado no governo Fernando Henrique, constatando a evidência: o que caracteriza a concessão é o controle e se o controle foi passado à iniciativa privada o nome do jogo é privatização.

Ofendidos, petistas reagiram com um discurso artificial segundo o qual lá houve roubalheira e entreguismo enquanto cá os procedimentos foram corretos, lucrativos e, sobretudo, "mezzo" estatal.

Fato é que os aeroportos terão gestão privada e o PT está com vergonha disso. Tanto que considera necessário se defender das "acusações" e já preparou uma cartilha de munição à militância.

Para explicar que o que fizeram não foi bem isso que dizem ter sido feito. Mesmo eivada de sofismas, uma ideia que aos tucanos jamais ocorreu: traduzir um tema de difícil compreensão de forma inteligível e repetir seus argumentos com convicção sem se deixar intimidar.

Mas parece que em geral políticos tratam como algo vergonhoso o ato da transferência para o setor privado, mediante quantias de dinheiro fabulosas, serviços com os quais o Estado não pode arcar.

Ocorre que ganham todos. Ganha o Estado e o público se as coisas são feitas direito como na incontestável - mais ainda muito contestada, desnecessário dizer por qual partido - privatização do setor de telecomunicações.

Não será surpresa se na próxima campanha aparecerem comparações entre as privatizações de um e as "concessões" de outro governo mostrando como a do PT foi bem melhor.

Surpreendente é o partido reagir ao ser apontado como incoerente. A privatização dos aeroportos é só um pilar no monumento à incoerência que o PT vem construindo há quase dez anos, ao adotar como sua a agenda que combateu durante a vida toda.

Excetuada a ampliação dos programas sociais, onde resolveu fazer do seu "jeito" saiu-se mal.

Desarticulou as agências reguladoras, não fez andar programas anunciados com pompa, convive com a paralisia em obras do PAC, "concedeu" rodovias pelo critério de menor tarifa prejudicando o andamento do processo e atrasou em pelo menos cinco anos a privatização dos aeroportos.

Para não dizer que não falamos de política, consolidou o modelo do feudo na ocupação de ministérios e transformou em cardinalato o baixo clero do Congresso.

Modo de fazer. Abissal a diferença entre os governadores Jaques Wagner, da Bahia, e Sérgio Cabral, do Rio, na condução das greves de policiais. Entre outros, por um detalhe: Cabral mandou prender grevistas no primeiro dia e Wagner passou dois dias dando entrevistas para dizer que a greve não existia.

Um preservou a autoridade sem conversar. Outro conversou demais e desgastou seu poder.

De coração. Capitão da PM da Bahia conta a seguinte história: o general Gonçalves Dias confraternizou com o grevista de quem ganhou um bolo de aniversário enquanto comandava o cerco aos amotinados porque os dois haviam servido juntos, anos atrás, em Sergipe.

Explica, mas não justifica.

Perigo nas contas externas - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 12/02/12


As contas externas vão piorar neste ano, segundo todas as previsões, e uma luz amarela já se acendeu em Brasília. Mais uma vez a economia nacional vai ser puxada pelo mercado interno, isto é, pelos gastos do governo, pelo consumo das famílias e pelo investimento das empresas - se nenhum grande susto levar a um adiamento dos projetos. Autoridades têm chamado a atenção para o mercado interno como uma das vantagens do Brasil em relação a muitos outros países. É esse o mais importante ativo econômico brasileiro, já disseram alguns ministros em momentos de grande entusiasmo. Mas esse tipo de crescimento envolve riscos. Quando a demanda avança bem mais velozmente que a oferta doméstica, é preciso importar mais para compensar a diferença. Sem isso, o resultado é mais inflação. Mas há limites para a capacidade de importar e é preciso administrar com prudência as transações com o exterior. O governo sabe disso, mas deu pouca importância - até agora, pelo menos - à expansão do déficit na conta corrente do balanço de pagamentos.

As principais projeções para as contas externas variam amplamente, mas todas apontam para uma deterioração. Segundo o Banco Central (BC), o superávit comercial vai diminuir este ano dos US$ 29,8 bilhões do ano passado para US$ 23 bilhões. As exportações aumentarão apenas 4,3%, para US$ 267 bilhões, enquanto as importações crescerão 7,9%, para US$ 244 bilhões. Como o déficit em serviços continuará em expansão e as transferências pouco deverão mudar, o buraco na conta corrente se ampliará de US$ 52,6 bilhões para US$ 65 bilhões - de 2,1% para 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Economistas do mercado financeiro e de consultorias são um pouco mais pessimistas. Projetam um superávit comercial de US$ 19,5 bilhões neste ano e um déficit em conta corrente de US$ 67,9 bilhões. Além disso, já arriscam projeções para 2013 - superávit de US$ 14,5 bilhões na conta de mercadorias e um rombo de US$ 70 bilhões nas transações correntes.

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) tem previsões muito mais sombrias: exportações de apenas US$ 236,6 bilhões - menores, portanto, que as do ano passado - e importações de US$ 233,5 bilhões, 3,2% maiores que as de 2011. O saldo, pouco superior a US$ 3 bilhões, será o menor em dez anos.

Apesar da ampla diferença entre os números, todas as projeções são baseadas em pressupostos comuns: a Europa continuará em grave crise, a situação pouco deverá melhorar nos Estados Unidos e o crescimento chinês, embora ainda exuberante, será menor do que foi nos últimos anos. A estagnação geral, agravada com a perda de impulso da economia chinesa, resultará em preços menores para os produtos básicos, tanto agrícolas quanto minerais. Como as commodities - matérias-primas e produtos com baixo grau de processamento - têm representado mais de 60% da receita comercial brasileira, o valor das exportações será muito afetado, se as previsões de baixa das cotações se confirmarem.

O temor de um desempenho comercial muito fraco neste ano já contamina os formuladores da política econômica. No Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a projeção do superávit na conta de mercadorias está na faixa de US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões. O cenário inclui tanto um aumento de importações causado pelo excesso da demanda interna quanto uma expansão medíocre das exportações, por causa do arrefecimento da economia chinesa e da queda de preços das commodities.

Todos os cenários apontam para um déficit maior na conta corrente. Quanto maior esse déficit, piores deverão ser as condições de seu financiamento, mais dependente de endividamento e de capitais especulativos. O sinal ainda é de alerta e é bom agir antes de se acender alguma luz vermelha. O governo dará um bom passo adiante se reconhecer, afinal, a insuficiência de seu Plano Brasil Maior e começar a pensar seriamente em como fortalecer a indústria para competir em todos os mercados. Para isso, precisará confiar menos em remendos fiscais e em barreiras protecionistas e cuidar mais da produtividade e dos custos.

As correntes corrompidas - LUIS FERNANDO VERISSIMO


O ESTADÃO - 12/02/12
A indolência da justiça daquele tempo já fazia as pessoas pensarem em suicídio

Na lista que faz de coisas das quais a morte o livraria, Hamlet inclui the laws delay, a demora da lei. A indolência da justiça daquele tempo já fazia as pessoas pensarem em suicídio, portanto não sejamos tão impacientes com a nossa.

Hamlet, na sua dúvida entre ser ou não ser, só não se mata de medo do que encontraria no país desconhecido da morte, do qual nenhum viajante jamais voltou. Prefere não trocar desgraças conhecidas por pavores novos.

Outro personagem da peça, o rei usurpador Claudius, também teme o que o espera do outro lado, mas por outra razão. Ele matou o irmão e ficou com as suas duas coroas – seu reino e sua viúva – e sabe que a justiça que certamente receberá no céu não é tão maleável quanto a da Terra. No solilóquio em que prevê a condenação da sua alma, Claudius lamenta que ela não terá o mesmo privilégio que ele tem em vida, e faz um resumo deste seu poder:

“Nas correntes corrompidas deste mundo

A mão cheia de ouro do ofensor compra a justiça

E muitas vezes é o produto da ofensa

Que a paga. Mas não é assim lá em cima.”

Para Claudius, no Além não tem arreglo. E a justiça não se corrompe.

Nem Hamlet nem Claudius duvidam que exista algo depois desta vida. Hamlet imagina a morte como um longo sono, e o que detém sua adaga é a perspectiva de que tudo que atormenta sua vida voltará a atormentá-lo em pesadelos intermináveis. O que mais assusta Claudius na morte é a perspectiva de uma justiça rápida, e incorruptível, lá em cima. No fim é o solilóquio de Claudius, o seu ser ou não ser castigado depois da morte, sem recurso à propina e à sentença comprada, o mais relevante e atual dos dois. No Brasil dos juízes sob suspeita e por onde mais passam as correntes corrompidas deste mundo.

ESTE AMBIENTE

Dizem que existem gravações feitas no período em que se escolhia qual seriam as novas sete maravilhas do mundo que comprovam ter havido compra de votos e coação de eleitores, com alguém identificado apenas pelas iniciais CR ameaçando fazer greve caso não for o escolhido.

Trecho de um dos grampos:

– Diz aí pro pessoal que eu vou cruzar os braços. Eu vou cruzar os braços!

– Peralá, CR.

– Eu sou de pedra mas não sou de ferro...

– Por que você não pede a Deus para ser o escolhido?

– Não quero o Velho envolvido nisto. E não seria democrático. Prefiro o voto comprado.

– E como a gente explica a origem do dinheiro?

– Ué, eu não tenho um rebanho enorme? Pecuaristas e empresários milionários? E nota fiscal fria eu multiplico na hora.

– Pô, CR. Até você metido em maracutaia.

– Eu sei, eu sei. É este ambiente!

FUGA

Não quero ser alarmista, mas as abelhas estão dando o fora. Não sei se você já leu. Começou nos Estados Unidos, onde as abelhas estavam saindo das suas colmeias e não voltando. Mas o fenômeno se repete no mundo todo. Ninguém sabe para onde vão as abelhas que não voltam. Não morrem, o que poderia ser atribuído aos agrotóxicos. Desaparecem. Se veículos espaciais estão vindo buscá-las (talvez os mesmos que as trouxeram), ainda não se viu nenhum.

As abelhas têm um apurado senso de orientação e poder de comunicação. Transmitem ao resto da colmeia as exatas coordenadas de um campo florido descoberto, através de uma dança. Talvez os apicultores já estivessem notando há tempo notado uma mudança nos movimentos das danças, e não dado a devida importância. Talvez as abelhas já estivessem dançando pavanas para um mundo em agonia há algum tempo.

A verdade é que elas parecem saber algo que nós não sabemos.

Debate tolo - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 12/02/12


Uma discussão ociosa surgiu depois da privatização dos aeroportos: quem privatiza melhor, PT ou PSDB? O PT, que usou eleitoralmente a privatização como sinônimo de roubo do patrimônio coletivo, fez o que condenava. Os processos foram parecidos, têm virtudes e defeitos. O Brasil tem muita necessidade de investimento em infraestrutura e está na hora de um debate mais maduro.

A ideia de que o governo Fernando Henrique fez privatização e o PT faz apenas concessão é tola. Uma siderúrgica se vende. Um serviço público se leiloa a concessão. Foi assim na telefonia, energia, estradas, aeroportos.

Houve erros em todos os leilões — de qualquer governo — e o mais recorrente é o dinheiro público ajudar a pagar o que o setor público está vendendo. Nas privatizações de FH, o BNDES financiou os compradores com dinheiro subsidiado. No leilão da última semana, os altos ágios serão pagos pelas Sociedades de Propósito Específico que serão criadas pelos consórcios vencedores com a Infraero. A estatal terá 49%. Como ela será parte da empresa que vai pagar a conta ficará na estranha situação de ter parte de suas receitas usada para pagar por um ativo que antes era 100% dela.

A maior virtude em todos os processos é o pragmatismo. Em vez de ter enormes prejuízos fabricando aço e usar dinheiro do Tesouro para capitalizar siderúrgicas, o governo passou a receber impostos sobre lucros crescentes de empresas que passaram a ser mais bem administradas. Em vez do absurdo atraso nas telecomunicações, vender as concessões para que novas empresas, mais ágeis, atendessem à explosiva demanda por telefone. Foi o que o governo FH fez, felizmente.

É a mesma esperança com os aeroportos. O Brasil está engargalado e precisa de novas empresas, inclusive internacionais, ajudando a remover os obstáculos ao crescimento. No caso dos aeroportos, o melhor era mesmo privatizar os mais rentáveis. É o que o governo Dilma está fazendo.

O Brasil precisa de uma montanha considerável de dinheiro para se tornar um país eficiente do ponto de vista logístico. O Instituto Ilos fez um estudo que divulguei esta semana no “Globo a Mais” mostrando que o país precisará investir R$ 900 bilhões para chegar ao patamar dos Estados Unidos em infraestrutura. O professor Paulo Fernando Fleury explicou que se o país investir 2% do PIB em rodovias, portos, aeroportos e ferrovias durante 25 anos conseguirá chegar ao nível de hoje dos americanos.

— Isso não é impossível porque em 1975 o Brasil investiu 1,8%. Atualmente está investindo 0,8% — disse Fleury.

Entre 2004 e 2010, o transporte de mercadorias por aviões aumentou 26%. Pelas rodovias, 23,6%; pelas ferrovias, 35%. O transporte aéreo de passageiro tem crescido a uma média de 10% ao ano. Temos exigido cada vez mais de todas as malhas de transporte do Brasil, e o Estado sozinho não consegue acompanhar.

O presidente da Infraero, Gustavo do Vale, me disse, em entrevista na Globonews, que a privatização foi feita dentro da equação financeira para que a empresa possa ter receitas para cuidar de outros aeroportos, grande parte deles deficitários, mas importantes para o país. A Infraero fez a projeção de crescimento da demanda para os próximos 30 anos e descobriu que só na região da Grande São Paulo será necessário um novo aeroporto com a dimensão de Guarulhos, para atender 30 milhões de usuários. A infraestrutura terá que crescer espantosamente nos próximos anos, e por isso o monopólio estatal da Infraero era insustentável.

O Galeão, explicou Gustavo do Vale, é tão velho que há dificuldade de encontrar peças de reposição. Tem 70 escadas rolantes, 65 elevadores, está sendo readequado e ampliado para demandas imediatas.

— O Galeão é importante para o Brasil, não apenas para o Rio. Temos daqui a alguns meses a Rio+20. Em 2013, teremos a Copa das Confederações e a vinda de talvez dois milhões de jovens católicos para o encontro com o Papa — afirmou Gustavo.

Há várias emergências como essa no nosso sistema aéreo. O Galeão não foi privatizado, nem se sabe se será. Mas deveria. Tudo pode ficar mais claro quando sair o Plano de Outorgas que vai disciplinar toda a aviação civil brasileira, em que há vários vácuos como o que ocorre com os 3.500 aeródromos do país, hoje funcionando de forma precária. Alguns terminais serão entregues aos estados e municípios. Enfim, tudo começou a mudar a partir do leilão da semana passada.

Houve pontos fracos no processo. De novo, os fundos de pensão de estatais foram chamados a salvar a pátria. São os donos de Guarulhos. Quem vai se dar bem são os sócios privados, já que terão dinheiro do BNDES para os investimentos e os fundos como garantia de capital.

Há dúvidas sobre a solidez dos consórcios que compraram Brasília e Vira-copos, mas até o dia 17 a documentação que entregaram vai ser avaliada pela Comissão de Licitações.

Privatização e concessão são instrumentos normais para a gestão de um país complexo como o Brasil. Está na hora de o debate amadurecer no país. Há necessidades urgentes e perigosos obstáculos pela frente. E não temos tempo a perder com discussões ociosas.

Bahia de todos os medos - GAUDÊNCIO TORQUATO


O Estado de S.Paulo - 12/02/12


"Você já foi à Bahia, nega? Não? Então vá!"

O estribilho do samba de Dorival Caymmi (quem não se recorda?) é o eco de um passado em que "nas sacadas dos sobrados da velha São Salvador" o visitante se deparava com "lembranças de donzelas do tempo do imperador" e "um jeito que nenhuma terra tem". A plácida Bahia de Todos os Santos, imortalizada por Jorge Amado, seu maior escritor, é hoje (quem diria?) um território banhado de sangue. Na esteira da greve de policiais militares (PMs), iniciada em 31 de janeiro, a bela cidade da ladeira do Pelourinho, do Senhor do Bonfim, dos Oxalás e babalorixás exibe um rastro de morte: 136 pessoas assassinadas (até o momento). Banalizada pela criminalidade que se expande nas metrópoles, a estatística passa despercebida, a denotar a violência que esgarça o tecido social, multiplicando mortos, espalhando medo e afetando o modo de vida das pessoas. A greve na Bahia chama a atenção pela teia de questões que levanta, a partir do número de homicídios, cuja dimensão agride a imagem de uma terra pacífica e acolhedora, como parecia Salvador. É chocante ver uma onda criminal espraiando violência numa comunidade harmoniosa de "prosa calma, gestos comedidos, sorrisos mansos e gargalhadas largas", como descrevia o baiano Amado.

O fato é que a cultura das gentes e a morfologia das cidades não resistem às agressões da modernidade. Ou, para usar os termos duros do filósofo Sérgio Paulo Rouanet, "como a civilização que tínhamos perdeu sua vigência e como nenhum outro projeto de civilização aponta no horizonte, estamos vivendo, literalmente, num vácuo civilizatório. Há um nome para isso: barbárie". Se a Bahia rasga o retrato de placidez, é porque foi levada a navegar nas águas do paradigma do caos, que dá abrigo a comportamentos desbragados, vandalismo, arruaças, quebra da ordem, desrespeito, fraturas sociais de todo tipo.

Dito isto, coloquemos a greve dos PMs na panela que a cozinhou por muitos dez dias. O que abre a polêmica é a questão salarial, que se liga ao bolso e, por conseguinte, ao estômago. A planilha de ganhos dos PMs do País mostra uma gradação, que vai da escala mais baixa (pasmem, Rio de Janeiro), com R$ 1.031,38, à mais alta, no valor de R$ 4.129,73 (Distrito Federal). A Bahia ocupa, nessa relação, a 11.ª posição, com o salário de R$ 1.927. Pode um PM, com três filhos, viver dignamente com esse dinheiro? Salta à vista a discrepância entre os proventos nas 27 unidades da Federação.

Nesse sentido, é racional o propósito da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 300, centrada na meta de harmonizar os salários dos policiais, evitando as diferenças absurdas que se veem na planilha. Pode ser que o nivelamento por cima (tendo como referência o valor pago no DF) mereça ajustes, levando em conta condições e custo de vida nas diversas regiões do País, mas é injusto que para as mesmas funções e obrigações - e riscos - policiais sejam remunerados de modo tão diferente. Por que não se tentou equacionar essa pendenga antes, quando se sabe que a PEC 300 tramita na Câmara desde 2008? Só agora, sob os incêndios grevistas ocorridos no Rio e em outros três Estados (CE, MA, PI), o tema volta ao foro de debate, podendo até, como atestam gravações, transformar-se em estopim de ampla mobilização, cujas consequências se projetarão sobre o carnaval, chegando, mais adiante, à cena político-eleitoral, atingindo atores de todos os partidos. Como o problema diz respeito aos entes estaduais, a cobrança recairá sobre a policromia partidária, não devendo ser considerada ganho de um lado e perda de outro. Importa aduzir que os governos estaduais deveriam ter debatido a situação e, ante a magnitude da demanda, solicitado amparo da esfera federal. No momento em que se exibem supersalários, gorduras e quadros excedentes em estruturas governativas, a precária condição dos policiais torna-se mais escandalosa.

O segundo ponto diz respeito ao direito de greve dos policiais militares. Podem fazer greve? Sim, nos termos da Constituição. A greve é um direito com eficácia limitada. Para ser realizada carece de respaldo legal do Estado. Os quadros militares, como outros servidores públicos, ainda não foram abrigados pela força da lei em matéria de greve. Não são escudados pela regulamentação que atinge apenas funcionários celetistas, fato que gera muita polêmica. No foco da discussão está a natureza do serviço público. A sociedade não pode ser desprovida dos serviços essenciais do Estado, como educação, saúde e segurança. Como devem agir os PMs se o Estado, por omissão, não lhes dá cobertura legal para realizarem um movimento paredista? Com bom senso, antes de tudo. Significa que podem fazer uma mobilização parcial de quadros, sob disciplina, não compactuando com ações violentas, ocupações de prédios, sequestros de autoridades, vandalismo. Não é o que tem ocorrido. A violência campeia. Portanto, por omissão, o Estado tem culpa. Por atos insensatos, servidores em greve perdem a razão. Dá empate na régua da insensatez.

E o que fazer? Regulamentar a lei de greve do servidor público, instrumento que determinará os porcentuais que devem continuar a exercer as funções do Estado nas instâncias federativas e nas áreas da administração direta, autárquica e fundacional dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Em termos imediatos, inserir na agenda o projeto de lei sobre a matéria, de autoria do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). No mais, tentar resgatar a confiança social, o diálogo harmônico entre os atores, sob o lume da justiça.

Quem sabe não veríamos novamente a Bahia com todos os santos em seu devido lugar, sob o enlevo boêmio do poetinha Vinicius de Moraes? "Um velho calção de banho/ O dia pra vadiar/ Um mar que não tem tamanho/ E um arco-íris no ar/ Depois na praça Caymmi/ Sentir preguiça no corpo/ E numa esteira de vime/ Beber uma água de coco"...

2012 e a corrupção - PEDRO SIMON

FOLHA DE SP - 12/02/12

Depois de perder a chance, em 1995, de instalar uma CPI para identificar os corruptores, agora o Brasil tem uma nova oportunidade

O ano de 2012 começou com uma vitória importante para a democracia no Brasil.

O Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a atribuição constitucional do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de instaurar inquéritos, promover investigações e punir juízes. De fato, o país vive hoje um novo momento -um clichê cujo uso aqui é plenamente justificado.

As manifestações contra a corrupção e a impunidade ocorridas no ano passado sacudiram uma aparente passividade dos brasileiros diante da apropriação privada do dinheiro público para o enriquecimento pessoal, para a obtenção de contratos com o governo ou para o financiamento de campanhas eleitorais.

O povo levou sua indignação às ruas em jornadas convocadas de forma inédita pelas redes sociais, atraindo a atenção da opinião pública mundial para um país que avança também no plano institucional.

Não existem corruptos sem que do outro lado do balcão atuem aqueles que corrompem, o reverso da moeda. Ainda não foi possível uma CPI com a finalidade de identificar e levar os corruptores à Justiça. Mas talvez o momento tenha chegado.

O Congresso Nacional já esteve perto de instalar uma comissão de inquérito com esse objetivo. Foi em 1995, em sequência às então recém-concluídas CPIs do PC Farias (também denominada CPI do impeachment) e dos anões do Orçamento, cujo trabalho levou à cassação de mandatos de parlamentares acusados de manipular recursos públicos.

Depois de cortar na própria carne, o parlamento adquirira a obrigação e a condição moral de levar adiante o trabalho. Mas não era o que pensava o governo, que inviabilizou a CPI ao determinar a retirada de assinaturas de parlamentares aliados.

Corrupção não é privilégio do Brasil, "coisa nossa" e inerente à cultura brasileira. Existe em todos os lugares. Diversos países e governos no mundo enfrentam essa chaga. A diferença entre o Brasil e essas nações, contudo, é a impunidade que aqui vigora. De acordo com o senso popular, "aqui, só ladrão de galinha vai para a cadeia". Prisão é um transtorno poupado aos poderosos.

Os brasileiros demonstram que não estão felizes com esse estado de coisas e, com a sua mobilização, impulsionam mudanças institucionais significativas e históricas.

Um exemplo é a aprovação da Lei da Ficha Limpa, que veio para aperfeiçoar as eleições, exigindo dos candidatos o respeito à Constituição. O artigo 14, parágrafo 9, estabelece que deve ser considerada a vida pregressa do candidato, "a fim de proteger a probidade administrativa e a moralidade para o exercício do mandato".

A sociedade segue mobilizada e vigilante, consciente de que vem dando passos decisivos na construção de uma democracia verdadeira, transparente e de maior conteúdo social.

Nessa jornada, a responsabilidade do Congresso Nacional é imensa, diante dos desafios que virão. Diferentemente de governos anteriores, a atual administração adota uma postura mais rigorosa diante de desvios éticos, permitindo-nos maior otimismo quanto ao futuro.

Um sonho que acabou - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 12/02/12


Nenhum defensor do regime cubano desejaria viver num país de onde não se pode sair sem permissão


É com enorme dificuldade que abordo este assunto: mais uma vez -a 19ª- o governo cubano nega permissão a que Yoani Sánchez saia do país. A dificuldade advém da relação afetiva e ideológica que me prende à Revolução Cubana, desde sua origem em 1959.

Para todos nós, então jovens e idealistas, convencidos de que o marxismo era o caminho para a sociedade fraterna e justa, a Revolução Cubana dava início a uma grande transformação social da América Latina. Essa certeza incendiava nossa imaginação e nos impelia ao trabalho revolucionário.

Nos primeiros dias de novo regime, muitos foram fuzilados no célebre "paredón", em Havana. Não nos perguntamos se eram inocentes, se haviam sido submetidos a um processo justo, com direito de defesa. Para nós, a justiça revolucionária não podia ser questionada: se os condenara, eles eram culpados.

E nossas certezas ganharam ainda maior consistência, em face das medidas que favoreciam aos mais pobres, dando-lhes enfim o direito a estudar, a se alimentar e a ter atendimento médico de qualidade. É verdade que muitos haviam fugido para Miami, mas era certamente gente reacionária, em geral cheia da grana, que não gozaria mais dos mesmos privilégios na nova Cuba revolucionária.

Sabíamos todos que, além do açúcar e do tabaco, o país não dispunha de muitos outros recursos para construir uma sociedade em que todos tivessem suas necessidades plenamente atendidas. Mas ali estava a União Soviética para ajudá-lo e isso nos parecia mais que natural, mesmo quando pôs na ilha foguetes capazes de portar bombas atômicas e jogá-las sobre Washington e Nova York. A crise provocada por esses foguetes pôs o mundo à beira de uma catástrofe nuclear.

Mas nós culpávamos os norte-americanos, porque eles encarnavam o Mal, e os soviéticos, o Bem. Só me dei conta de que havia algo de errado em tudo isso quando visitei Cuba, muitos anos depois, e levei um susto: Havana me pareceu decadente, com gente malvestida, ônibus e automóveis obsoletos.

Comentei isso com um companheiro que me respondeu, quase irritado: "O importante é que aqui ninguém passa fome e o índice de analfabetismo é zero". Claro, concordei eu, muito embora aquela imagem de país decadente não me saísse da cabeça.

Impressão semelhante -ainda que em menor grau- causaram-me alguns aspectos da vida soviética, durante o tempo que morei em Moscou. O alto progresso tecnológico militar contrastava com a má qualidade dos objetos de uso. O que importava era derrotar o capitalismo e não o bem-estar e o conforto das pessoas. Mas os dirigentes do partido usavam objetos importados e viam os filmes ocidentais a que o povo não tinha acesso.

Se a situação econômica de Cuba era precária, mesmo quando contava com a ajuda da URSS, muito pior ficou depois que o socialismo real desmoronou. É isso que explica as mudanças determinadas agora por Raúl Castro.

Mas, antes delas, já o regime permitira a entrada de capital norte-americano para construir hotéis, que hoje hospedam turistas ianques, outrora acusados de transformar o país num bordel. Agora, o governo estimula o surgimento de empresas capitalistas, como o faz a China. Está certo desde que permita preservar o que foi conquistado, já que a alternativa é o colapso econômico.

Tudo isso está à mostra para todo mundo ver, exceto alguns poucos sectários que se negam a admitir ter sido o comunismo um sonho que acabou. Mas há também os que se negam a admiti-lo por impostura ou conveniência política.

Do contrário, como entender a atitude da presidente Dilma Rousseff que, em recente visita a Cuba, forçada a pronunciar-se sobre a violação dos direitos humanos, preferiu criticar a manutenção pelos americanos de prisioneiros na base aérea de Guantánamo, o que me fez lembrar o seguinte: um norte-americano, em visita ao metrô de Moscou, que, segundo os soviéticos, não atrasava nunca nem um segundo sequer, observou que o trem estava atrasado mais de três minutos. O guia retrucou: "E vocês, que perseguem os negros!".

A verdade é que nem eu nem a Dilma nem nenhum defensor do regime cubano desejaria viver num país de onde não se pode sair sem a permissão do governo.

GOSTOSA


Pequenas grandes coisas - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 12/02/12


BRASÍLIA - Minha filha caçula, orientadora pedagógica e psicóloga de crianças e adolescentes, chorou emocionada ao ouvir pelo rádio a entrevista que o estudante Vitor Soares Cunha deu ao sair do hospital, depois de ser agredido covardemente por jovens como ele.

Vitor, 21, aluno de desenho industrial, passeava com um colega na Ilha do Governador, no Rio, quando viu cinco rapazes bem alimentados espancando um mendigo. Filho de uma assistente social (coincidência?), não pensou duas vezes ao tentar impedi-los. A violência irracional voltou-se contra ele.

Foram socos e pontapés violentos e ininterruptos, atingindo, sobretudo, a cabeça e o rosto de Vitor mesmo quando ele já estava caído no chão, totalmente indefeso.
Depois de horas de cirurgias, placas de titânio na testa e no céu da boca, 63 pinos para recompor os ossos da face e ainda com o risco de perder os movimentos do olho esquerdo, Vitor saiu com sua mãe do hospital e disse, com uma simplicidade atordoante, que não se sentia heroico e que faria tudo novamente.

"Pelo menos uma, duas, três pessoas vão pensar alguma coisa, vão ensinar para os filhos deles. Não adianta pensar que uma atitude vai mudar o mundo, mas pequenas coisas vão mudando", declarou.

Não podemos nem devemos desperdiçar episódios, personagens e frases assim, fundamentais para reforçar que, além do Estado, dos poderosos e dos ídolos, cada um de nós tem de dar o exemplo e ter responsabilidade diante do país e do outro. Uma delas, possivelmente a mais nobre, é a de criar os filhos para o bem.

A comparação entre Vitor e seus agressores nos faz refletir. O Brasil e o mundo serão muito melhores quando pais e escolas educarem as crianças para fazer a coisa certa sem se sentirem heróis, não para se arvorarem fortes e machos ao trucidar um ser humano -ou um animal- jogado na rua, no abandono e na dor.

A ditadura esfola a Grécia - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 12/02/12

A União Europeia está dando mais um aperto na ditadura que impôs à Grécia. Para quem não se lembra, foi a UEquem derrubou George Papandreou, o primeiro-ministro legítimo, eleito fazia dois anos, para colocar em seu lugar o tecnocrata Lucas Papademos, sem passar pelo indispensável escrutínio das urnas.

O interventor nomeado faz tudo o que pede a troica UE/Banco Central Europeu/FMI, os ditadores de plantão. Não adianta nada.

É só conferir os números:

1- A dívida grega saltou para 159,1% do PIB, no terceiro trimestre de 2011, 20 pontos percentuais a mais que um ano antes, quando os ajustes impostos pelos europeus já estavam em curso;

2- A economia grega retrocedeu 5,5% em 2011 e uma nova contração é inevitável neste ano. Com a economia recuando, ninguém consegue pagar suas dívidas;

3- O desemprego já está em 20,9%, só atrás da Espanha na Europa. E só pode aumentar porque uma fatia do novo plano de ajuste exige a demissão de mais 150 mil funcionários públicos até 2015.

Mas a Europa não olha para os fatos e prefere apertar mais a ditadura, ao exigir que o Parlamento grego aprove o novo programa de austeridade, embora seja uma Câmara "pata manca" (as eleições para renová-la estão marcadas para abril). Ora, é elementar na democracia que um programa que afeta a vida do país anos à frente seja votado por um Parlamento renovado, não por um em fim de mandato.

O mais triste é que 11 de cada 10 análises sobre a Grécia culpam os gregos - e apenas os grego s- pela sua tragédia. A história convencional é a de que a Grécia viveu uma esbórnia de consumo financiada pelo endividamento e agora tem que pagar com dor. Não deixa de ser verdade, mas é só parte da verdade.

Primeiro, consumir é a música que mais toca no capitalismo. Logo, os gregos só fizeram o que é de praxe no sistema hegemônico. Segundo, tomaram empréstimos não porque tenham assaltado os bancos, mas sim porque os bancos os ofereceram sem olhar responsavelmente para a capacidade do tomador de devolvê-los algum dia.

Vejamos agora como funcionam as coisas em uma democracia: nos EUA, os bancos também foram irresponsáveis na concessão de créditos hipotecários (as famosas "subprime", origem da grande crise de 2008/09). Abusaram também na execução das hipotecas, quando o tomador não conseguia pagar.

O que fez o governo? Forçou uma negociação pela qual os bancos terão que pagar US$ 26 bilhões para aliviar o drama de 2 milhões de pessoas que ou já perderam suas casas ou estão na iminência de perdê-las porque não conseguem pagar as hipotecas. Ou, posto de outra forma: protegeu-se quem menos pode, e puniu-se quem mais pode.

Na Grécia, ao contrário, quem paga a crise são os trabalhadores de salário mínimo, a ser reduzido, e os aposentados, cujos vencimentos serão cortados. Os bancos só cedem anéis para poderem manter os dedos gordos, ainda mais engordados pelos juros obscenos que cobram para rolar a parte da dívida grega que não será reestruturada.

Ditadura - ainda mais ditadura de mercado - é assim.

General do povo, não - ELIO GASPARI


O GLOBO - 12/02/12

A cena de confraternização do general Gonçalves Dias, comandante da 6 Região Militar, com os PMs amotinados de Salvador foi constrangedora e impertinente.

Constrangedora porque o general foi aos amotinados, recebeu um bolo de aniversário e abraçou um deles. Esqueceu-se de que estava no comando de uma operação militar. Desde o início do motim, mais de 135 pessoas foram assassinadas em Salvador. A Assembleia Legislativa fora ocupada. Lojas e casas foram saqueadas. O prejuízo do comércio vai a centenas de milhões de reais, e os rebelados cantavam "Ôôô, o Carnaval acabou".

O general foi impertinente ao dizer o seguinte: "Peço aos senhores: se as pautas que estão sendo discutidas pelos políticos não forem atendidas, vamos voltar a uma negociação. Não poderá haver confronto entre os militares. Eu estarei aqui, bem no meio dos senhores, sem colete".

A primeira impertinência esteve na afirmação de que "as pautas estão sendo discutidas pelo políticos". A negociação estava na alçada dos poderes constituídos, aos quais as Forças Armadas estão subordinadas. A segunda impertinência estava na afirmação de que "não poderá haver confronto entre os militares". Os PMs amotinados não estavam ali como militares, mas como desordeiros, cabeças de ponte de um motim articulado que se estendeu ao Rio de Janeiro. A ideia de que a negociação estava nas mãos dos "políticos" e de que "não poderá haver confronto entre os militares" é subversiva e caquética.

A tropa do Exército é mobilizada para exercer um efeito dissuasório. O discurso do general e a cena do bolo transformaram o poderio militar em alegoria carnavalesca. Se "não poderia haver confronto", com que autoridade um coronel ordenaria a um capitão que respondesse a uma agressão? (No dia seguinte, no peito, cerca de 50 pessoas furaram o cerco da tropa e juntaram-se ao motim. Na quinta-feira, no Rio, a Polícia baixou o pau nos trabalhadores vitimados pela SuperVia.)

No século passado havia os "generais da UDN", e a eles contrapuseram-se os "generais do povo". Deu no que deu. O tenente que em 1964 comandava os tanques que guarneciam o Palácio Laranjeiras tornou-se um dos "doutores" da Casa da Morte, onde se assassinavam presos políticos. Em 1981, estava no carro que jogou a bomba na casa de força do Riocentro. Outra explodiu antes da hora, matou um sargento e estripou um capitão.

Justiça surda

A elite da magistratura nacional não entendeu o tamanho do fosso que cavou, afastando-a da patuleia que lhe paga os vencimentos.

Os desembargadores paulistas não viam nada de estranho em 2010, quando passavam pela Porsche Cayenne do então presidente da Corte, Antonio Carlos Viana Santos. A festa dos pagamentos especiais ocorreu em sua gestão, e o TJ ainda não conseguiu lidar com esse encosto.

Os vencimentos de Viana Santos somavam R$ 30 mil mensais. O carro valia R$ 300 mil. Ele morreu em janeiro de 2011, deixando também um apartamento avaliado em R$ 1,4 milhão.

Sua viúva é advogada, e o Ministério Público investiga-a por tráfico de influência. A morte de Viana Santos, que era diabético e teve um enfarte, está sendo investigada pela Delegacia de Homicídios.

O juiz Louis Brandeis ensinou: a luz do Sol é o melhor desinfetante.

Pesos-pesados

Chegará ao Brasil no fim do mês uma comitiva de 18 financistas, empresários e acadêmicos do Council of Foreign Relations, a mais renomada casa de debates de política externa dos Estados Unidos. Nela virá o presidente da instituição, Richard Haass, ex-diretor de Planejamento Político do Departamento de Estado.

Cinco e-mails para Dilma.Rousseff@gov

De Barack.Obama@gov:

"Onde está o general Stanley McChrystal? A senhora não sabe. Se eu não o tivesse mandado embora em 2010, depois de dizer bobagens, minha Presidência estaria na lata do lixo. (Ele é um dos diretores da Jet-Blue.)".

De João.Figueiredo@com:

"Se eu tivesse demitido o comandante do I Exército depois da explosão da bomba do Riocentro, não teria deixado o Palácio do Planalto pela porta lateral".

De Ernesto.Geisel@edu:

"Se eu não tivesse demitido o ministro Silvio Frota em outubro de 1977, a senhora teria voltado para a ''Torre das Donzelas''. Ele estava de olho na sua vida, e o SNI dizia que a senhora articulava uma tal de Junta de Coordenação Revolucionária, uma invenção do Pinochet".

De Castello.Branco@edu:

"Em 1965, quando o general Costa e Silva fez um discurso impertinente em Itapeva, eu deveria demiti-lo. O Costa emparedou-me e forçou sua indicação para a Presidência".

De João.Goulart@com:

"O general Castello Branco disse-me que, se eu tivesse prendido os marinheiros rebelados no início de março de 1964, não teria sido deposto. Ele não teria entrado na conspiração que acabou transformando-o em meu sucessor".

Mimi e Kennedy

Há 50 anos, Marion "Mimi" Beardsley tinha 19 anos, quando começou seu estágio na assessoria de imprensa da Casa Branca. Ela mal saíra do colégio onde estudara Jacqueline Kennedy. Quatro dias depois, estava na cama dela, com John Kennedy, o primeiro homem de sua vida. Naquela época chamava-se isso de romance. Hoje chama-se assédio e, no caso, uma modalidade de escravidão sexual.

Mimi guardou silêncio para o público por 41 anos e só admitiu a relação em 2003, numa nota seca de 80 palavras. Ela acaba de publicar "Once Upon a Aecret" ("Era uma Vez um Segredo -Meu caso com o presidente John Kennedy"), com o e-book a US$ 12,99. Avó, produziu a melhor e mais reveladora memória da alcova de JFK. As narrativas existentes são banais. A dela coloca-o na galeria dos potentados latino-americanos ou africanos. À beira da piscina da Casa Branca, Kennedy mandou que ela fizesse sexo oral com o assessor que administrava os encontros.

A moça foi levada primeiro para um banho de piscina para ser avaliada. Sua função era esperar. Esperava nos aposentos da Casa Branca, durante a crise dos mísseis de Cuba; na Jamaica, onde Kennedy reunia-se com o primeiro-ministro inglês; ou na casa do cantor Bing Crosby. Nunca se beijaram, e ela nunca deixou de chamá-lo de "senhor presidente".

Seu livro é uma elegante e madura narrativa, ilustrativa do respeito que as mulheres conquistaram nos últimos 50 anos. Metade tem a ver com a cama de Kennedy. A outra parte conta quatro incríveis décadas de piração de uma garota que só se achou aos 60 anos.

Casa da Moeda

O ministro Guido Mantega informa que coube ao PTB nomear o diretor da Casa da Moeda e ainda quer que a choldra perca tempo ouvindo suas explicações.

Erro

Estava errada a informação aqui publicada, segundo a qual um turista carioca pagou uma diária de R$ 10 mil num hotel do Nordeste. Ele pagou essa quantia por cinco noites.

Um mundo alienígena na Terra - MARCELO GLEISER

FOLHA DE SP - 12/02/12

É possível haver vida nas profundezas do lago Vostok, na Rússia. Que criaturas seriam essas?


O espaço sideral não é a única fronteira. Existem outras aqui na Terra, em locais inóspitos e ainda inexplorados. São cada vez mais escassos, ao menos os que são acessíveis a pé, de barco ou por máquinas voadoras. Mas, felizmente, sobram os mundos subterrâneos, nas profundezas dos oceanos, em cavernas ainda não descobertas ou soterrados sob quilômetros de gelo. As possibilidades são enormes e prometem desafiar nossa imaginação.
Na semana passada, um time de cientistas russos anunciou ter chegado até a superfície do lago Vostok, na Antártida. O incrível é que esse lago de água puríssima, com aproximadamente 250 km de extensão e 50 km de largura, está a quase 4 km de profundidade, enterrado sob espessa camada de gelo.
Em 1983, nesse mesmo local, foi registrada a temperatura mais baixa na Terra, -89 graus Celsius. Realmente, um local bem diferente das nossas terras tropicais.
Foram quase três décadas de trabalho para as brocas dos russos chegarem até o lago. Eles só se aventuravam até o local no verão, o que limitava o tempo em que podiam perfurar o gelo. Usando 60 toneladas de querosene e outros fluidos, conseguiram finalmente alcançar seu objetivo (embora tenham provocado sérias dúvidas quanto ao impacto de seus métodos na qualidade da água do lago). Mesmo que tenha havido algum vazamento -os russos garantem que não-, o volume dos poluentes é pequeno se comparado ao volume do lago. E a enorme diferença de pressão, 360 vezes maior do que a pressão atmosférica (por isso que a água do lago permanece líquida, mesmo a -3 graus Celsius), fará com que a água suba imediatamente e congele novamente, selando a cavidade feita pela broca.
Existem outros 145 lagos submersos sob o gelo da Antártida, mas nenhum com as dimensões do Vostok.
Calcula-se que ele tenha ficado isolado durante 20 milhões de anos, criando um ambiente único: sem luz, sempre frio, supersaturado com oxigênio e outros gases. Trata-se de um mundo alienígena com o qual nunca tivemos contato.
É possível que existam formas de vida nesse ambiente inóspito. Nesse caso, elas poderiam fazer parte de um ecossistema diferente de qualquer outro, adaptadas a águas frias e escuras por milhões de anos.
Que criaturas seriam essas? Se alguma forma de vida existir por lá, ela se alimenta de fontes de energia alternativas. Isso porque poucos nutrientes estão disponíveis.
Porém, sabemos da incrível resiliência da vida na Terra. Há extremófilos nas profundezas de oceanos próximos a fumarolas vulcânicas e mesmo nas piscinas radioativas de reatores nucleares. Não me surpreenderia nada se algo fosse encontrado nas águas do lago Vostok (embora muito cuidado tenha que ser exercido para evitar a contaminação por bactérias vindas da superfície ou que existem no gelo).
O lago Vostok é o que temos de mais próximo na Terra dos oceanos subglaciais de Europa, um dos satélites de Júpiter. Lá, uma camada de gelo de quilômetros de espessura cobre um vasto oceano com volume ao menos duas vezes maior do que todos os oceanos da Terra.
Se houver algum tipo de vida no lago Vostok, é muito possível que exista vida em outros mundos da nossa vizinhança celeste.

Vivendo e aprendendo - PEDRO S. MALAN


O Estado de S.Paulo - 12/02/12


A grande maioria da população, em qualquer país do mundo, está de tal forma assoberbada pelos afazeres e pelas responsabilidades do dia a dia de sua vida privada que não tem tempo para o cultivo da memória do passado, não tem muito interesse em problemas coletivos de médio/longo prazo à frente, tampouco tem tempo e paciência para detalhes de discussões técnicas ou excesso de informações estatísticas.

Isso não impede, contudo, que, por vezes, se forme uma "opinião popular" a respeito de determinados temas, opinião essa que pode, sim, ser influenciada pela "opinião pública", que se forma e se transforma pelo debate aberto entre os que têm memória, interesse em problemas à frente e que estejam dispostos a investir tempo no debate público.

Mas, como notou Albert Hirschman, "muitas das pessoas que participam destes debates têm apenas uma opinião inicial, aproximada e um tanto incerta sobre as questões de políticas públicas envolvidas. Não obstante o ar de convicção com que anunciam suas opiniões, as posições mais articuladas surgem apenas através do debate - cuja função é desenvolver novos argumentos, bem como obter novas informações. Como resultado, posições finais podem estar a alguma distância das opiniões originalmente mantidas - e não apenas como resultado de compromissos políticos com forças opostas".

Nós, brasileiros, sabemos que isso aconteceu no Brasil. Uma oposição barulhenta e por vezes irresponsável foi obrigada a mudar gradualmente quando passou a assumir, democraticamente, responsabilidades de governo. O discurso da ruptura necessária, a falsa certeza de um superior modo de governar, a pretensa superioridade moral e o maniqueísmo entre o "nós" e "eles" e do famoso "a opinião pública somos nós" tiveram de ceder lugar à responsabilidade e ao pragmatismo necessários ao ato de governar, para todos.

Muitos de nós, brasileiros, sabemos que a gradual desconstrução da herança que o lulopetismo construiu para si nas duas primeiras décadas teve início com o processo que levou ao crucial parágrafo da carta-compromisso de junho de 2002 e à civilizada transição de Fernando Henrique Cardoso para Luiz Inácio Lula da Silva. E continuou com a preservação das linhas básicas dos regimes monetário, fiscal e cambial, com o fim das críticas abertas ao Proer (na verdade, oferecido publicamente por Lula a George W. Bush). A lista é longa. Mas o que importa é que esse processo continua, como mostram as privatizações da semana passada.

A esse respeito vale notar que muitos dos que (como eu) defenderam as mudanças constitucionais realizadas em meados dos anos 1990, bem como o subsequente regime de concessão da Lei do Petróleo de 1997, não o fizeram por motivações de natureza político-ideológica. A posição que tínhamos era de um pragmatismo responsável que havia chegado à conclusão de que o volume de investimento que o Brasil (não o governo FHC) precisava realizar a médio e a longo prazos nas várias áreas de infraestrutura era de tal magnitude que simplesmente não poderia ter lugar apenas com os gastos governamentais e de empresas e bancos públicos. Era imperativo, portanto, abrir oportunidades, então vedadas ou restringidas, ao setor privado (doméstico e internacional), pensando no desenvolvimento do País.

Pois bem, o lulopetismo conseguiu o feito de, ao mesmo tempo que se beneficiava, como governo, dos resultados do processo de privatização, apresentar esse processo como uma dilapidação do patrimônio do povo brasileiro, que caberia interromper e denunciar ad nauseam. As oposições atuais não foram capazes - ou não o desejaram - de enfrentar abertamente essa discussão. Ao contrário, não só a evitaram, como tiveram, a meu ver, um discurso defensivo, quando não equivocado, nas eleições de 2006 e de 2010.

O que o governo Dilma Rousseff fez, após anos e anos de hesitações durante o governo anterior (devidas a controvérsias entre seus inúmeros facções, correntes e movimentos), foi exatamente chegar à mesma conclusão a que havíamos chegado há mais de 15 anos para outros casos: não havia futuro para os grandes aeroportos brasileiros com a continuidade do "modelo Infraero". Nem na gestão nem na capacidade de realização eficaz dos investimentos absolutamente necessários, após anos de negligência, ineficiência e procrastinação.

O presidente da Odebrecht Infraestrutura, que integrou um dos consórcios que disputaram os leilões da semana passada, disse em entrevista ao jornal O Globo acreditar que está em curso "uma evolução do modelo estatal antigo". E também que acredita que "o modelo de parceria público-privada no qual a Infraero fica com 49% das novas empresas é temporário, embora importante para romper com o paradigma dos aeroportos estatais". E mais: "Gradualmente, o governo perceberá que não faz mais sentido direcionar recursos públicos escassos para áreas em que o Estado precisa estar mais presente, como a educação e saneamento". Espero que ele tenha razão.

Quero concluir com uma observação sobre a expressão, que virou uma espécie de mantra, repetido à exaustão e de forma eloquente por lideranças políticas e econômicas dos mais variados países para demonstrar sua férrea determinação de superar não apenas dificuldades existentes, como expectativas de quaisquer dificuldades futuras: "Faremos tudo o que for necessário para"... (a lista é longa).

Isto vai do "Yes we can" norte-americano ao "Whatever it takes..." europeu e ao típico do nosso governo: "Não permitiremos que..." (a lista é longa). O penúltimo filme de Woody Allen tinha como título, em inglês, a expressão Whatever Works (o que quer que funcione). A tradução desse título para o português foi mais alentadora: Pode Dar Certo. Estaremos torcendo para tal, pensando, na observação de Hirschman, no que já avançamos e no muito que ainda falta por avançar.

Longe demais - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 12/02/12



Dada a ousadia do gesto, a ida de Gilberto Kassab ao evento de aniversário do PT, anteontem em Brasília, foi interpretada por aliados e adversários como sinal de que o apoio do criador do PSD à candidatura de Fernando Haddad está próximo de ser selado. Diante da certeza da vaia que viria, o prefeito paulistano não teria se aventurado na festa sem saber de antemão que receberia também as boas-vindas mais ou menos explícitas de vários cardeais petistas, como acabou ocorrendo.

Ainda que Kassab sempre ressalve que teria de apoiar José Serra, se o tucano viesse a ser candidato, a guinada de 180 graus parece cada dia mais improvável.

Pois agora... No círculo próximo de Kassab, há quem considere que a manifestação pública de Marta Suplicy contra a aliança PT-PSD precipitou a decisão do prefeito de aceitar o convite dos dirigentes petistas e ir à festa.

...é que eu vou O raciocínio seria: melhor dar a cara para bater agora do que se esconder e deixar que o posicionamento da senadora galvanize a resistência ao neoaliado dentro do partido.

Vaiômetro Do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), minimizando a saia justa: "No passado, José Alencar chegou a ser vaiado até com mais intensidade em eventos do partido".

De olho Serra tem conversado regularmente com o pré-candidato paulistano do DEM, Rodrigo Garcia. Uma de suas preocupações é o namoro dos "demos" da capital com Gabriel Chalita (PMDB).

Deu pra mim A advogada Míriam Gonçalves abandonou a vice-presidência do PT de Curitiba por discordar da aliança com o PDT de Gustavo Fruet para a prefeitura.

Vai levando Petistas adiaram para abril o encontro no qual será batido o martelo sobre a composição com o ex-tucano, arquitetada pelo casal de ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). A corrente majoritária tenta eliminar as resistências internas a Fruet e desidratar a tese de candidatura própria.

Via alternativa Há ainda uma terceira corrente da sigla que deseja integrar a coalizão liderada pelo deputado Ratinho Júnior (PSC).

Para já 1 O governo não pensava no longo prazo quando escolheu Francisco de Assis Leme para presidir a Casa da Moeda no lugar de Luiz Felipe Denucci, demitido há duas semanas por suspeita de desvio de dinheiro.

Para já 2 Ligado ao ex-número dois da Fazenda Nelson Machado, Leme foi colocado na cadeira com a missão precípua de evitar que os trabalhos da comissão de sindicância avancem a ponto de incomodar seriamente o governo. Uma vez encerrada a fase de investigação, ele deverá ser substituído.

Em treinamento A nova presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, contratou os serviços da consultora de imagem e jornalista Olga Curado, a mesma que trabalhou na campanha de Dilma Rousseff ao Planalto.

São Nunca Já se passaram mais de seis meses desde que o ministro Luiz Fux, do Supremo, suspendeu em decisão liminar uma resolução do CNJ que uniformizava o horário de atendimento nos tribunais do país. E o assunto nunca mais voltou à pauta.

Via rápida 1 A seccional do Rio de Janeiro da OAB proporá formalmente à bancada fluminense na Câmara dos Deputados a edição de lei que permita demitir juízes flagrados na prática de ilícitos em suas funções.

Via rápida 2 Segundo o presidente regional da entidade, Wadih Damous, a ideia é substituir a aposentadoria compulsória com vencimentos, hoje a penalidade administrativa máxima imposta a magistrados. "Isso não é punição, e sim prêmio", diz ele.

Tiroteio

O presidente do PT é um gozador. Falar em democracia interna depois de o partido ter atropelado a Marta e aceitado o dedaço do Lula só pode ser piada para companheiro ver.
DO SECRETÁRIO PAULISTA DE ENERGIA, JOSÉ ANÍBAL, pré-candidato do PSDB a prefeito, comentando artigo em que Rui Falcão elogia "as decisões coletivas, sem mandonismo nem caciques, pautadas pela vontade das bases."

Contraponto

Os pássaros

Na quinta-feira passada, um voo da TAM que partia de Brasília com destino ao Rio de Janeiro teve de abortar a decolagem quando duas aves foram atingidas por uma das turbinas do aparelho. Ao constatar a presença a bordo de vários deputados federais, um passageiro engraçadinho comentou:
-Se caísse, seria a alegria dos suplentes...

com FABIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

Uma questão de números - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 12/02/12
A disputa pelo controle político da nova classe C, explicitada pela preocupação do ministro Gilberto Carvalho de não a deixar "à mercê" de influências conservadoras, tem razões quase matemáticas: cerca de 39,6 milhões ingressaram nas fileiras da chamada nova classe média entre 2003 e 2011, número que vira 59,8 milhões se contarmos desde 1993.
Ela já corresponde, desde o ano passado, a 55,05% da população brasileira, ou seja, 100,5 milhões de brasileiros têm hoje renda entre R$ 1.200 e até R$ 5.174 mensais.
Para o economista da Fundação Getulio Vargas no Rio Marcelo Neri, isso significa que a nova classe média brasileira não só inclui o eleitor mediano, aquele que decide o segundo turno de uma eleição, mas também que ela poderia sozinha decidir um pleito eleitoral.
Complementarmente, a nova classe média é a classe também dominante do ponto de vista econômico, pois já concentrava 46,6% do poder de compra dos brasileiros em 2011, superando as classes A e B, essas com 45,6% do total do poder de compra.
As demais classes, D e E, têm hoje 7,8% do poder de compra, caindo do nível de 19,79%, de logo antes do lançamento do Plano Real.
As escolhas eleitorais serão, portanto, pela nova classe média e para a nova classe média. Para o economista da FGV do Rio, "Lula é a cara da nova classe média, FH e Dilma lembram mais a classe média mais tradicional do ponto de vista simbólico".
Marcelo Neri ressalta que, quando as pessoas sobem na vida, começam a ter o que perder e ficam mais conservadoras. "Portanto, vai depender da capacidade do governo de manter os movimentos nos últimos anos. Não só de crescimento, mas em particular a redução de desigualdade observada desde 2001".
Perspectiva para o futuro é um ponto especialmente forte no Brasil, Neri ressalta, lembrando que, segundo pesquisa de Felicidade Futura entre 150 países, o Brasil é tricampeão mundial.
Para o cientista político Amaury de Souza, a disputa pela classe média, sobretudo pelo voto dos evangélicos, "diz respeito aos projetos do PT que têm sido duramente criticados pelos evangélicos dentro e fora do Congresso como descriminação do aborto, união civil de homossexuais, criminalização da homofobia (nos termos do projeto de lei 122, de 2006) e o kit antihomofobia que seria distribuído nas escolas públicas pelo Ministério da Educação".
Vida, reprodução e morte constituem o cerne de qualquer religião, ressalta Amaury de Souza.
A aprovação maciça da operação da Polícia Militar na Cracolândia, revelada por pesquisa do Datafolha, segundo a qual a ação contou com o apoio de nada menos que 82% da população da cidade, é reflexo, na visão de Amaury de Souza, do posicionamento conservador não só da nova classe média, mas de praticamente toda a população de São Paulo e, provavelmente, do Brasil.
Mas ele ressalta que a pesquisa mostrou também que não se deve equacionar conservadorismo com repressão pura e simples.
"Os mesmos entrevistados mostram-se céticos quanto à eficácia dessa ação para acabar com o tráfico e o uso de crack e não acreditam que os usuários devam ser punidos pelo vício, sendo preferíveis medidas como a internação para tratamento, mesmo que compulsória", ressalta.
Amaury de Souza considera difícil que a grande popularidade da presidente Dilma Rousseff possa melhorar a imagem do PT.
Para ele, o próprio PT não está isento de responsabilidade pelo desgaste de sua imagem. "Desde a eleição de Lula em 2002, o partido enceta um "aggiornamento" à socapa, abandonando posicionamentos históricos sem uma precedente autocrítica como o fez ao abraçar a ortodoxia econômica e, mais recentemente, a privatização e a punição de grevistas do setor público." É também de sua própria lavra, lembra o cientista político, a perda do discurso da ética pelo engajamento de seus dirigentes e políticos no mensalão.
Assim, ele acha que "é provável que o PT até sofra maior desgaste à medida que a presidente Dilma se torne mais popular".
Já Marcelo Neri lembra que, quando as expectativas são altas, também pode ser a queda, a decepção. "As pessoas adquirem novos hábitos quando sobem na vida e são mais sensíveis às quedas do que a aumentos de níveis de vida", avalia Neri.
A avaliação dependeria também do passado, mas não tanto do passado remoto, pois ao longo do tempo o presente se torna gradativamente passado remoto.
Seria o caso, por exemplo, dos brasileiros que não se conformam com as votações na internet que colocam Maradona à frente de Pelé como melhor jogador de futebol de todos os tempos.
"Pleitos são decididos pela experiência prática de cada um: a geração mais nova não viu Pelé jogar, mas viu ao vivo e a cores os gols do craque argentino." A mesma lógica valeria para a estabilização econômica de Fernando Henrique Cardoso. Como explica o economista Marcelo Neri, o Brasil foi o país com maior inflação no mundo entre 1970 e 1995, tanta inflação que, mesmo após 16 anos de estabilidade, somos o segundo em inflação acumulada desde 1970, perdendo apenas para a República do Congo.
"O fato é que o jovem brasileiro de hoje não tem na memória o pesadelo inflacionário pregresso e também não o vê como ameaça futura", ressalta Neri.
Na redução da desigualdade de renda brasileira de 2001 a 2009, a renda per capita dos10% mais ricos aumentou 1,5% ao ano, e a dos 10% mais pobres, 6.8% por ano.
Mais do que o "É a economia, estúpido!" da eleição dos EUA de 1992, Neri diz que o mais adequado para representar a eleição brasileira talvez seja: "É o social, companheiro!".
Por isso o ministro Gilberto Carvalho não se cansa de repetir que o governo precisa manter o crescimento econômico para não perder o controle eleitoral desses novos emergentes.

JAPA GOSTOSA


A devassa nas ONGs - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 12/02/12


Deve haver um poderoso lobby atuando em favor de um grande grupo de organizações não governamentais (ONGs), que alegadamente funcionam sem fins lucrativos. Em 31 de outubro do ano passado, a presidente Dilma Rousseff, em face das irregularidades constatadas em vários Ministérios, bloqueou por decreto os pagamentos a ONGs, para uma avaliação de contas. Aquelas que fossem consideradas regulares seriam pagas no prazo de 30 dias.

Quanto aos convênios "avaliados com restrição", muitos dos quais denunciados por desvio de verbas, teriam 60 dias para comprovar se os recursos foram aplicados licitamente de acordo com os contratos. O prazo venceu no dia 29 de janeiro e, nove dias depois, foi divulgado que o governo havia cancelado, por irregularidade, 181 convênios com ONGs, que, assim, ficavam impedidas de assinar quaisquer contratos com o governo federal. Mas isso não era tudo. Como informou o Estado (8/2), o governo concedeu uma sobrevida a ONGs, prorrogando o prazo para acerto de contas dos convênios, conforme nota conjunta da Casa Civil, Corregedoria-Geral da União (CGU) e Ministério do Planejamento.

Agora se sabe que, de um total de 1.403 convênios analisados, restam 305 convênios na malha fina, aos quais foi dado um prazo até o próximo dia 27 para apresentar documentos comprobatórios da destinação dos recursos recebidos, que somam nada menos do que R$ 755 milhões. Espera-se que essa incompreensível leniência do governo tenha fim nesse novo prazo e que sejam revelados, com absoluta transparência, quais as ONGs que tiveram seus registros cancelados, em quais Ministérios, bem como os nomes de seus responsáveis diretos, para que procedam à devolução aos cofres públicos dos valores surripiados.

A princípio relutante em se manifestar sobre a prorrogação do prazo, uma decisão que presumivelmente foi tomada em esfera superior à sua, o ministro-chefe da CGU, Jorge Hage, esclareceu que o órgão ainda não tem o total do rombo no caixa do governo. "Só teremos isso depois de instaladas e concluídas as tomadas de contas. Temos apenas a soma dos valores brutos dos convênios que estão sob análise." Mesmo assim, o número e o valor dos convênios sob suspeição são impressionantes, dando credibilidade à presunção de que muitas ONGs foram criadas com finalidades políticas inconfessáveis ou sirvam apenas como biombo para a lavagem de dinheiro e outras formas de corrupção.

Deve-se ressalvar que há muitos tipos específicos de ONGs, e que uma boa parte delas, notadamente aquelas que atuam em áreas de reconhecido interesse social, vivem de doações privadas e só eventualmente de verbas públicas; não têm realmente fins lucrativos; são dirigidas por conselhos compostos por voluntários; cumprem as finalidades para as quais foram estabelecidas e prestam contas regularmente aos órgãos competentes.

ONGs existem e operam praticamente em todos os países do mundo, mas fatos que levaram à demissão de ministros indicam que, no Brasil, a relativa facilidade para a criação dessas instituições deixou brechas de que se aproveitam políticos corruptos para desvio de recursos, não faltando casos de ONGs registradas em nome de "laranjas" e com endereços falsos ou inexistentes.

A medida moralizadora tomada inicialmente pela presidente dava tempo mais que suficiente para que fossem esclarecidos os casos que escaparam à Operação Voucher, deflagrada pela Polícia Federal no ano passado. Alega-se que o não cumprimento do prazo se deve a questões burocráticas, uma vez que só dois ou três Ministérios (não mencionados) haviam entregue no prazo as suas avaliações à CGU. Se este for o caso, o que poderia ser tido como uma desculpa é uma agravante. Antes de mais nada, representa uma desobediência a uma determinação da Presidência da República. A demora na regularização pode levantar também a suspeita de conivência de Ministérios com as ONGs que deixaram de apresentar as prestações de contas.

O amigo das amigas de Neymar - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 12/02/12
Quem é o promoter que lota as festas do craque do Santos e de outras celebridades e baladas com até 150 - "ou mais" -mulheres jovens e sensuais

Quando o jogador Neymar quer encher uma festa de mulheres que considera bonitas, "liga para ele". Quando donos de baladas como a Disco e o Café de La Musique querem juntar uma turma buliçosa, contam com ele. O cantor Latino já telefonou do Rio: "Tô mandando meu ônibus particular aí para SP. Enche de mulher". Ele já desceu a Serra do Mar levando um comboio de jovens para uma festa do Santos. E, há dias, o pagodeiro Thiaguinho, do Exaltasamba, avisou: "Vou fazer uma festa. Fica ligeiro".

No domingo passado, o promoter Leonardo Cardoso causou frisson em SP ao levar 150 moças para o aniversário de Neymar. Elas se abarrotaram na porta da boate Villa Mix, na Vila Olímpia, e viraram assunto de sites e jornais. "Tinha até mais que 150. Meu telefone tocava sem parar."

De camisa cinza da Calvin Klein, Leo circula na porta da Disco, também na Vila Olímpia. É 0h15 de quinta. A noite começa. Encontra Dudu Pereira, filho de Juscelino Pereira, do restaurante Piselli, que comenta a festa. "Soube que tinha seis mulheres para cada homem!"

Aos 29 anos, Leo se define como "intermediário" entre eles e elas. E diz que caiu nesse negócio por acaso.

Formado em publicidade na Uniban, trabalhava na área de contatos de agências. Interpretava também um personagem na internet, "O Vigarista", imitando o "Impostor" do "Pânico na TV", o que fez com que tivesse contato com o pessoal do programa e com outros "famosos".

Em 2009, perdeu o emprego. Apelou por trabalho no Twitter e, diz, recebeu telefonema do apresentador Marcos Mion, sócio da Disco: "Você anda com uma galera legal. Faz um teste, traz o pessoal aqui". Está na Disco até hoje, como promoter das noites de quarta-feira.

O segurança da boate abre as grades para ele. "Meus convidados não pegam fila." Uma loira com vestido de estampa de tigre e uma morena de blusa vermelha e shorts branco, suas amigas, sentam-se em pufes. Na mesa, vodca, gelo, energéticos e garrafinhas d'água.

Leo diz que, na noite, passou a conhecer cada vez mais garotas e a ser chamado para levá-las em outras festas. Recheou o mailing. O que era bico virou trabalho.

Neste embalo, conheceu Neymar por meio de Thiaguinho. "Quando ele me liga e diz 'convida umas pessoas para a minha festa', eu já sei: é pra levar mulher. Bonita, né? Porque mulher feia..."

O promoter convoca as "gostosas" pelo bate-papo do celular e pelo Facebook. Tem uma lista de "3.500 amigas" na rede social. "Eu olho: se é feia, nem adiciono."

"As casas noturnas querem atrair homens ricos -se possível, milionários. E eles só vão onde tem mulher bonita. Aí gastam, se exibem, pra ficar ali com a menina mais bonita do grupo." Resume: "Mulher bonita chama homem rico, e vice-versa. Ninguém mais vai pra balada por causa do DJ. Só por mulher. E gente famosa".

E é a fama que funciona como chamariz. "As meninas não têm muito o que fazer e vão às festas querendo ficar famosas. Mais do que dinheiro, querem é estar num lugar de visibilidade e glamour. Dizer: 'Fui à festa do Neymar'", diz o dono de uma das principais baladas de SP. "As casas oferecem camarote e bebida de graça para promoters como o Leo. Ele leva convidadas. E vira referência, juntando cada vez mais meninas."

"A maioria é modelo. Mas tem as que trabalham normal e vão viradas para o emprego. Advogadas, dentistas...", diz o promoter.

Marcela Troiano, filha da apresentadora Claudete Troiano, da TV Gazeta, surge na Disco e abraça Leo. "Ele seleciona. Não são só meninas gostosas de vestido-bandagem. São inteligentes, dá para levar em casa. Não é só ficar, é para acrescentar", diz.

Ela diz que só vai às festas de Leo porque não tem garotas de programa. "Eu tinha amizade com um promoter superlegal, mas ele tá com parceria com uma menina que é 'do esquema'. Como vou a uma festa deles? Vão achar que também sou."

Leo separa "as que dão barraco, as que fazem programa. Essas eu tiro fora, não convido mais. Quer fazer programa, tudo bem. Mas não me coloca no meio".

Ele busca o ex-BBB Cristiano Naya na porta. "O que ele coloca de mulher é incrível, pelo amor de Deus. Festa dele é florida", diz Naya. Leo quis entrar no "BBB". "O Boninho me desaconselhou."

De vestido vermelho, cabelo preto e feições que lhe rendem o apelido de "Gretchen", Suellen Andrade, 26, que participa de um quadro do programa de Ana Hickmann, na TV Record, diz que Leo "corta mesmo" quem faz programa. "Esse negócio de ficha rosa [modelos que se prostituem] não é com ele." Suellen esteve no aniversário de Neymar e também numa reunião "lá em Acapulco, no Guarujá", a casa do craque no Jardim Acapulco. Na festa, diz, "realmente tinha muita maria-chuteira. Fico receosa. Pega mal esse negócio".

"A menina que disse que ficou com o Neymar no barco, o Leo cortou de vez", conta, referindo-se à modelo Carol Abranches, fotografada no já célebre passeio do santista num iate, em novembro. "Acho que foi a amiga de uma amiga de infância dele que a levou", diz Leo.

Mostra o celular, que tem uma foto do passeio como papel de parede. "Pus essas fotos no Face, ela pegou e vendeu para o 'TV Fama'." Carol teria ainda chamado o paparazzo que registrou o passeio. "Excluí ela do Face, do BBM. O Neymar também excluiu."

"Esse cara é um idiota, coitado! Tenho pena", diz Carol, que afirma ter trocado só "duas palavras" com Leo.

Às 2h59, ele deixa a Disco rumo ao clube Royal, onde o cantor Latino faz aniversário. "Tem umas gostosas lá. Levei umas dez, 12", diz, teclando no Blackberry. Ele vai lançar um site onde os internautas poderão localizar mulheres da balada. "Quem é a loira que tava na Disco? Ela vai estar lá, e a gente vai direcionar para o Face ou o Twitter dela. Vou ser o intermediário."

Recebe uma mensagem de Suellen, a "Gretchen", que estava na Disco: "Minha amiga te queeer!". Ele pega o carro e vai para o Itaim, onde pretende encerrar a noite com hambúrguer com cheddar e bacon em uma lanchonete. No caminho, às 4h40, pega Suellen e a amiga, a modelo Luciana Premenkamp, 22, de cabelos castanhos e olhos verdes. Suellen sugere: "Leo, por que você não abre uma casa e enche de modelo para morar com você?".

Suellen, nascida em Franca (SP), e Luciana, natural de Domingos Martins (ES), contam que alguns promoters fazem isso. Mesmo assim, algumas modelos "pulam a cerca e vão às festas de outro promoter". "As pessoas acham que um cara morando com um monte de mulher é o cafetão, e elas são tudo p..., mas não é assim", diz Luciana. Leo encerra o dia de trabalho, perto das 6h, aos beijos com a capixaba. (DIÓGENES CAMPANHA E MÔNICA BERGAMO)

A greve ajudou o governo - JOÃO BOSCO RABELLO


O Estado de S.Paulo - 12/02/12


À parte os danos políticos, o governo avalia que a greve dos policiais, que teve seu epicentro na Bahia, acabou inviabilizando a votação da PEC 300 - que estabelece um piso nacional para a categoria - gerando um efeito colateral positivo para a economia.

Fator de tensão com o Congresso, sobretudo junto à base aliada, a emenda deixa de ser, por ora, ameaça à determinação de evitar a qualquer custo a aprovação de matérias que produzam aumento de despesas. No caso, segundo as estimativas do governo, desaparece do horizonte de preocupações uma conta de R$ 30 bilhões.

Na visão do governo, a afronta à Constituição, que proíbe greve em setores essenciais, o vandalismo, a violência e a quase meia centena de cadáveres de vítimas da paralisação na Bahia produziram uma repercussão negativa indispondo a categoria com a população. A tentativa aparentemente abortada de extensão simultânea do movimento a todos os Estados agravou essa percepção popular.

Esse contexto determinou o endurecimento com as lideranças do movimento, materializado na declaração da presidente Dilma Rousseff de que não haverá tolerância com infratores - como a anistia que ela própria equivocadamente endossara por ocasião do movimento dos bombeiros no Rio.

Embora reconheça que a questão salarial dos policiais foi negligenciada ao longo do tempo, o Planalto comemora o retorno das negociações ao âmbito estadual, governo a governo, neutralizando o efeito padronizador da emenda 300, que criaria dificuldades intransponíveis para os Estados mais pobres, incapazes de suportar um piso nacional.

Mantega reafirmará controle de gastos

Beneficiado também pelo desgaste do Poder Judiciário, que sustou a pressão por um aumento estimado em R$ 8 bilhões, o governo vai reiterar o veto a matérias que aumentem despesas. Por isso, a próxima reunião do Conselho Político, dia 13, deverá ser aberta pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, com uma exposição do cenário econômico e os efeitos da crise internacional no País, em reforço à gestão de "boca do caixa".

Morde e Assopra

Para compensar a rigidez fiscal, a ministra Ideli Salvatti garantiu a líderes da base o pagamento de emendas adiado desde dezembro do ano passado. Os deputados estão irritados com o descumprimento dos compromissos assumidos pelo Planalto - cerca de 40% das emendas não foram pagas, prejudicando-os junto às bases em ano de campanha municipal. Sob pressão, Ideli ganhou tempo até março para efetuar os pagamentos dentro da programação orçamentária dos ministérios.

PMDB reclama de gestão vigiada

A bronca da hora do PMDB é com os secretários executivos dos ministérios de Minas e Energia e da Previdência Social, respectivamente os petistas Márcio Zimmermann e Carlos Gabas. Ao vice-presidente Michel Temer, os peemedebistas disseram ter chegado ao limite com a interferência dos secretários executivos do PT nas pastas comandadas pelo partido.

Promissória registrada

Com a eleição para a presidência da Câmara incerta, o deputado Henrique Alves (PMDB-RN) registrou, para cobrança futura, a garantia dada ao telefone pelo novo líder do PT, Jilmar Tatto (SP), de que honrará o acordo para a sucessão de Marco Maia (PT-RS). Alves anda tenso, porque Arlindo Chinaglia (PT-SP), aliado de Jilmar, contesta o acordo e é candidato declarado ao cargo.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 12/02/12



Premiados retornam com novos negócios à Campus Party de 2012

Premiados em edições anteriores do Campus Party voltaram ao evento neste ano com negócios de sucesso. Alguns para palestrar e outros até como patrocinadores.

Vencedor do prêmio "Campuseiros Empreendem" na categoria web em 2011, Felipe Salvini, 28, aproveitou os holofotes da feira para fazer um lançamento. Antes de subir ao palco principal para palestrar, colocou no ar um site que compara preços e registra instantaneamente quais produtos ficam mais baratos.

Salvini é cofundador da Sieve, que monitora preços na web para a indústria e o comércio. A empresa tem mais de cem clientes varejistas, entre eles o Walmart.

A Sieve tem valor de mercado estimado em R$ 30 milhões. "Dizem que eu sou meio megalomaníaco. Mas sonhar pequeno ou grande leva o mesmo tempo", afirma.

Amure Pinho, 29, dividiu o palco com Salvini. Em 2011, Pinho ganhou na categoria mobile. Neste ano, sua empresa investiu para ser uma das patrocinadoras do evento.

O aplicativo que ele elaborou foi vendido a uma empresa do Reino Unido por US$ 10 mil. Com o programa, Pinho espera aumentar seu faturamento de R$ 780 mil para R$ 2,5 milhões.

"Voltar à Campus é como retribuir um favor", diz Marcos de Oliveira, 27, que ganhou o prêmio geral em 2010. Na edição 2012, ele é o curador para TV digital. Apesar de não revelar o valor, a receita de sua empresa, a Intacto, está na casa dos milhões.

"Dizem que sou megalomaníaco. Mas sonhar pequeno ou grande leva o mesmo tempo"

FELIPE SALVINI

fundador da Sieve

"Se você não for agressivo, não tentar mudar o mundo, não vai dar certo"

AMURE PINHO

presidente-executivo da Sync

"Voltar à Campus é como retribuir um favor"

MARCOS DE OLIVEIRA

cofundador da Intacto

COMPETIÇÃO ELETRÔNICA

A indústria eletroeletrônica não conseguiu atingir a meta de 183 mil profissionais na ativa no ano passado.

As companhias do setor fecharam 2011 com 180,3 mil funcionários, segundo a Abinee (associação do setor).

A demissão de 1.280 pessoas entre novembro e dezembro passados, a valorização cambial e a entrada de produtos chineses no Brasil foram os principais motivos para o não cumprimento da previsão da entidade.

Em 2011, houve redução de 62% no número de contratações do setor, ante o ano anterior. "A falta de competitividade está reduzindo a capacidade do país de empregar", diz Humberto Barbato, presidente da Abinee.

CRÉDITO A PEQUENOS

No ano de lançamento do Programa Nacional de Microcrédito, bancos aumentaram suas operações no setor.

O Santander registrou alta de 49% em sua carteira em 2011. O desembolso total do banco no período com essa operação, que tem mais de 100 mil clientes ativos, foi de cerca de R$ 379 milhões.

O Banco do Brasil, por sua vez, concedeu microcrédito produtivo a 34,8 mil clientes entre setembro e dezembro do ano passado. No período, a carteira da companhia chegou a R$ 142,3 milhões.

O Bradesco e o Itaú Unibanco oferecem linhas de microcrédito, mas não divulgam os valores envolvidos.

Novos... Após investir R$ 10 milhões para construir uma nova unidade de negócios em sua fábrica brasileira, a ArcelorMittal Skyline Steel, braço da ArcelorMittal na área de materiais para fundações, começou a produzir tubos.

...horizontes O primeiro embarque da mercadoria para a região Norte do país acaba de ser realizado.

DISPUTA INTERIORANA

Competições de tratores turbinados, que custam cerca de R$ 100 mil, começaram a ganhar adeptos nas comunidades rurais mais ricas do país.

Antes restritas ao interior paulista, onde atraem até 8.000 pessoas, as provas, realizadas em pista de cem metros de chão batido, já ocorrem no Paraná e em Mato Grosso.

Com cores berrantes, as máquinas entram na pista dando empinadas e soltando fumaça. Vence o trator que puxar a carga mais pesada pela maior distância.

Nas provas, quase nunca há premiação em dinheiro.

com JOANA CUNHA, VITOR SION, LUCIANA DYNIEWICZ, HELTON SIMÕES GOMES e ESTELITA HASS CARAZZAI