quinta-feira, setembro 06, 2012

Do couro veio a correia, do farro veio a farinha - DIAS LOPES


O Estado de S.Paulo - 06/09


Quando partiam para a conquista do mundo, as legiões romanas incluíam entre suas provisões grandes quantidades de farro - o primeiro tipo de trigo cultivado pelo homem. Com os grãos triturados dessa planta herbácea da família das gramíneas, os soldados preparavam três alimentos fundamentais: pão, focaccia (libum) e polenta (puls), que ainda não levava a farinha do milho americano introduzido na Europa após a descoberta de Colombo.

Eram comidas rústicas, tanto nos ingredientes como na elaboração, mas de elevada importância nutricional. A preparação menos apetecível ao paladar contemporâneo seria o puls. Resultava do cozimento em água e leite da farinha do farro mexida constantemente, acrescida de miolos de porco e finalizada com vinho às vezes misturado à água do mar, pimenta moída e sal grosso. Arre!

O farro começou a ser consumido no Neolítico, o período que vai do décimo ao terceiro milênio a. C., no qual o homem se sedentarizou e desenvolveu a agricultura. Passou a interessar aos habitantes da península itálica no século 7º a. C., e foi o primeiro cereal plantado na antiga Túscia (região entre a Toscana e a Úmbria, na qual vivia o povo etrusco) e no Lácio, onde se encontra Roma.

Na Antiguidade, existiam do Mediterrâneo ao Cáucaso três tipos de farro: o pequeno (Triticum monococcum), o médio (T. dococcum), favorito dos romanos, e o grande (T. spelta). Entre a Idade Média e o Renascimento, eles perderam importância econômica pelo alto custo de produção e menor rendimento agrícola do que os outros grãos.

Nos últimos anos, porém, o farro voltou à mesa ocidental. Foi resgatado pelos modismos alimentares, os mesmos que apregoam as virtudes das sementes de chia, gergelim, girassol e linho, a quinoa e o edamame. O fascínio pelo trigo dos soldados alcançou até o Brasil. O produto chega aqui importado da Itália, país que nunca o esqueceu completamente. Em São Paulo, pode ser encontrado em delikatessens como a Casa Santa Luzia e em pratos de restaurantes como o Arturito e o Figurati. Seduz principalmente a clientela vegetariana, pelo fato de adquirir a importância biológica da proteína animal quando comido com legumes.

Pobre em gorduras, o farro é rico em fibras insolúveis, vitaminas do grupo B, proteínas, sais minerais, ferro, fósforo, magnésio, potássio e zinco, além de conter metionina, um aminoácido essencial, codificado pelo nosso código genético, inexistente em outros grãos. Finalmente, revela-se pouco calórico: cada 100g de seus grãos fornecem cerca de 340 calorias. Tanto que manteve a saúde e o vigor dos soldados dos césares, que mediam aproximadamente 1,68 m e pesavam entre 60 kg e 70 kg. Mesmo não sendo os gigantes retratados pelos filmes de Hollywood, davam conta do recado - e como!

Segundo o docente e escritor italiano Antonio Saltino, autor do livro Storia delle Scienze Agrarie - Dalle Origini al Renascimento (Edagricole, Bolonha, 1984), que trata da agronomia nos últimos dois milênios, o trigo dos soldados também voltou a interessar porque seu cultivo está associado à agricultura biológica e à exploração de regiões agrícolas marginalizadas, não adaptadas ao cultivo intensivo dos cereais. O problema agora se resume à produção.

Na Itália, a principal região de cultivo é o vale da Garfagnana, na Toscana setentrional. Mas a área plantada não passa de 2 mil hectares. É pouco para satisfazer o apetite do mercado. Não por acaso, são toscanas as principais receitas de farro: zuppa di farro, farro con fagioli e torta di farro. A União Europeia concedeu aos grãos da Garfagnana, conhecidos pelo sabor amendoado, o status de indicação geográfica protegida. Nada mais justo. Afinal, além de atrair novamente a humanidade, foi do nome farro que saiu a palavra farinha.

Tensão eleitoral no Planalto - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 06/09

Acendeu a luz amarela no Planalto. Com o PT perdendo espaço na maioria das capitais e com a asfixia pelo julgamento do mensalão, a presidente Dilma percebeu que, se não entrar de cabeça nas eleições, a correlação de forças em seu governo muda drasticamente. Hoje, começa a se reunir com líderes da base para conversas reservadas, em que pedirá ajuda e avaliará o impacto em 2014.

Vem aí o cadastro das punições
O governo publica a partir de hoje, no site da Controladoria Geral da União, lista de todos os funcionários expulsos do serviço público federal, contendo nome completo; o motivo da demissão, no caso de concursados, da destituição, no caso de comissionados, e da cassação da aposentadoria; data da punição; órgão do qual foi expulso; e o link para leitura do processo publicado no Diário Oficial. O cadastro, produzido dentro do espírito da Lei de Acesso à Informação, estreia com uma lista de 3.315 servidores que foram punidos desde 2005.O site será abastecido mensalmente.

“A presidente Dilma Rousseff tem que aprender. Ou concorre a deputada ou asenadora, ou deixa os parlamentares cumprirem seu papel”
Jerônimo Goërgen Deputado federal (PP-RS)

Marcha soldado
A presidente Dilma quer reduzir o desfile no Sete de Setembro. Programado para durar 1h40m, estende-se a quase três horas sob intenso calor de Brasília. O tempo ideal, apontam interlocutores, seria uma hora. A mudança vai ficar para 2013.

Renúncia ao mandato
Condenado pelo STF por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato, o deputado João Paulo
Cunha (PT-SP) deve poupar os colegas do constrangimento de abrir processo de cassação, renunciando. Sinalizou a petistas que aguardará as eleições e a definição de sua pena para apresentar o pedido.

Bom senso
O senador Francisco Dornelles (PP-RJ) observa que, não fosse o bom-senso do TRE, metade dos municípios do Rio não teriam eleição, e outra metade elegeria o menos votado, pela quantidade de impugnações pedidas pelo Ministério Público.

A culpa é de quem?
O governo tentou votar o Código Florestal, mas a Câmara freou suas pretensões. Só levaria a MP adiante se entendesse quem fechou o acordo em nome do Planalto na votação da Comissão Especial. Os ministérios de Relações
Institucionais e do Meio Ambiente empurram a culpa para o Congresso, enquanto senadores e deputados da base falam em falta de articulação.

Isso que é democracia
Tucanos se disseram chocados com fala do chanceler Antonio Patriota, ontem, na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, de que a Venezuela é democrática porque nenhum país retirou embaixadores de lá.

Quanto interesse

Não teve quorum ontem a reunião da Corregedoria da Câmara marcada para ouvir as explicações do deputado Stepan Nercessian (sem partido-RJ) sobre suas relações com o contraventor Carlos Cachoeira.

NO PRIMEIRO MÊS da parceria do Ministério da Saúde com o Facebook para incentivar doações de órgãos, 80 mil brasileiros se declararam doadores.

A hora da dolorosa - ALEXANDRE SCHWARTSMAN


Valor Econômico - 06/09


Há um ano o Banco Central (BC) começou um processo de redução de taxa de juros cujo fim foi sinalizado na reunião do Copom da semana passada (embora, dado o histórico recente de comunicação do BC, possa haver distância astronômica entre sinalização e gesto). Também na semana passada foi divulgado o resultado do Produto Interno Bruto (PIB), revelando que nos 12 meses até junho o crescimento econômico atingiu anêmico 1,2% contra 4,7% acumulados nos 12 meses até junho de 2011. À luz disso pode-se dizer que o BC acertou ao mudar radicalmente o curso da política monetária?

Acredito que não. Acredito também que perdi 80% dos meus 18 leitores depois da afirmativa acima, talvez minha própria mãe, mas peço aos hesitantes 20% que leiam até o final e então julguem se minha resposta faz sentido.

Desde 1999 o BC está submetido ao regime de metas para a inflação. Concretamente isso requer que o BC calibre sua política de modo que a inflação convirja para a meta, no caso 4,5%. Assim, quando o Copom anunciou a inesperada redução da taxa Selic argumentou que "para 2012, as projeções de inflação (...) recuaram, posicionando-se ao redor do valor central da meta (...)."

Na verdade a queda da inflação foi exacerbada por fatores que nada têm a ver com a política monetária

Já no "cenário alternativo, construído e analisado sob a perspectiva de um modelo de equilíbrio geral dinâmico estocástico de médio porte, [que] admite que a atual deterioração do cenário internacional cause um impacto sobre a economia brasileira equivalente a um quarto do impacto observado durante a crise internacional de 2008/2009 (...) a taxa de inflação se posiciona em patamar inferior ao que seria observado caso não fosse considerado o supracitado efeito da crise internacional".

No entanto, se o desempenho brasileiro está longe de ser brilhante, é também distante daquele imaginado pelo Copom. Entre o terceiro trimestre de 2008 e o primeiro de 2009 o PIB caiu quase 5,5%, enquanto a taxa de desemprego, descontados os efeitos do desalento, subiu cerca de 2 pontos percentuais. Já o nível de utilização de capacidade na indústria (Nuci) caiu cerca de 8 pontos percentuais, segundo a FGV.

Em contraste, o PIB brasileiro cresceu modestamente (0,7%) entre o terceiro trimestre de 2011 e o segundo deste ano, o Nuci se manteve praticamente inalterado e a taxa de desemprego caiu. Por qualquer critério que se olhe, o cenário que balizou o corte de juros não se manifestou.

Por outro lado, é verdade que a inflação se reduziu, mas isso não configura o sucesso da política do BC. Em primeiro lugar porque a inflação reage, como se sabe, com defasagens às decisões de política monetária. A redução da inflação neste ano estava encomendada pelas ações tomadas na primeira metade de 2011, o que, aliás, transparecia na queda continuada das expectativas de inflação para este ano, conforme computadas pela pesquisa Focus.

Isto dito, o Copom não prometeu apenas reduzir a inflação, mas afirmou que "um ajuste moderado no nível da taxa básica é consistente com o cenário de convergência da inflação à meta em 2012". Contudo, o consenso de mercado hoje sugere que a inflação deste ano permanecerá bem acima da meta, em torno de 5,20%.

Em segundo lugar a queda da inflação foi exacerbada por fatores que nada têm a ver com a política monetária. Não vai aqui qualquer crítica à mudança da ponderação do IPCA por conta da nova Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE, mas o fato é que, caso a ponderação permanecesse a mesma, a inflação, que nos últimos 12 meses acumulou 5,24%, teria atingido 5,88%. Parte da queda da inflação é, portanto, mera ilusão estatística.

Houve adicionalmente medidas de redução temporárias de impostos, que geram efeitos também passageiros sobre a inflação. Vale dizer, considerada a informação disponível na data da decisão e dadas as previsões do BC à época, fica claro que a evolução da inflação foi muito pior do que o Copom antevia.

É verdade que parcela disto reflete o aumento dos preços internacionais de alimentos, fator que estaria fora do controle do BC e é referido erroneamente pelas autoridades como um choque de oferta, cujos efeitos não deveriam ser debitados na conta da autoridade monetária.

Já eu creio que deveriam sim ser contabilizados entre os passivos do BC. Não, é claro, a seca que assolou a agricultura americana, mas a política cambial que, ao impedir a resposta natural da taxa de câmbio brasileira (baratear o dólar quando preços de commodities aumentam), também não permitiu que o aumento dos preços internacionais de alimentos fosse absorvido, como no passado, pelo câmbio mais forte.

Em suma, mesmo com o crescimento na faixa de 1,5% a inflação este ano superará a meta (e mais ainda no ano que vem), o que, em função do mandato do BC, determinado pelo Decreto 3.088/99, configura um erro mensurável na condução de política monetária. Erro tanto maior porque ao longo do processo o BC perdeu o controle duramente conquistado sobre as expectativas de inflação. Quando (e se) finalmente se decidir por fazer a inflação retornar à meta, pagaremos um preço bem mais alto em termos de produção e emprego do que no passado. A conta chega, sempre chega.

Juros baixos e metas de inflação - MARCELO MITERHOF


FOLHA DE SP - 06/09

Uma economia de juros baixos será auspiciosa, mas essa transição exigirá enfrentar alguns desafios

Apesar de o crescimento do PIB ter sido de apenas 0,41% no segundo trimestre, o alinhamento das principais variáveis macroeconômicas permite manter o otimismo.

As reservas internacionais de US$ 376 bilhões possibilitam atravessar a resistente crise financeira internacional sem problemas no balanço de pagamentos. No último ano, a produção local foi beneficiada por uma desvalorização cambial de mais de 25%, o que ocorreu com queda da inflação, que se estabilizou em pouco mais de 5% ao ano.

Os juros estão em seu patamar histórico mais baixo (Selic a 7,5%) e com tendência declinante. A situação fiscal continua confortável, apesar das desonerações recentes e da queda na arrecadação por conta da estagnação.

Tal cenário deverá permitir ao Brasil deixar para trás o padrão de juros altos com o qual convive desde a estabilização monetária. Uma economia de juros baixos será auspiciosa. Mas essa transição exigirá enfrentar alguns desafios.

O principal refere-se ao tripé de política macro, formado pelo câmbio flutuante, pelas metas de inflação e pelo superavit primário. Esse arranjo foi bem-sucedido em garantir que a economia brasileira fizesse uma primeira e arriscada transição após a estabilização monetária, que foi o abandono do câmbio fixo a partir de 1999.

A valorização dos principais produtos de exportação, propiciada pela emergência da China, em conjunto com as políticas sociais e de redistribuição de renda, permitiram ao Brasil experimentar a partir de 2004 a retomada do crescimento com baixa inflação.

Para tanto, foi decisiva a apreciação do real, também dada pela aquecida demanda externa. O crescimento do mercado interno, por sua vez, permitiu elevar a arrecadação. Assim, o arranjo se tornou virtuoso.

O problema ocorreu na indústria de transformação. Ela foi beneficiada pelo crescimento, mas boa parte de seus efeitos vazou para a importação de componentes, peças e partes. A valorização cambial enfraqueceu a solidariedade nas cadeias produtivas, esvaziadas na busca de reduções de custo.

A queda das taxas de juros deve mudar esse cenário. Primeiro, porque tornará as condições de financiamento privado de longo prazo em moeda local compatíveis com os retornos esperados dos investimentos produtivos. Segundo, os juros baixos devem manter um câmbio mais favorável à produção local e, terceiro, eles criarão incentivos para que as empresas brasileiras busquem o lucro através da inovação, o que fará com que o atraso tecnológico deixe de ser uma recorrente realidade. Mas esse cenário também romperá com as condições de sustentação do tripé macro.

A manutenção de altos superavit primários não é recomendável enquanto a crise internacional mantiver efeitos estagnacionistas. Isso não deve ser um problema, pois a redução dos juros faz com que a necessidade de gerar receitas para pagar os credores do governo diminua.

No entanto, até completar a convergência ao padrão internacional, o país terá que enfrentar algo que está na natureza do regime brasileiro de metas de inflação: a queda dos juros depende de um esforço fiscal contracionista, já que o regime se baseia no "gap" de capacidade produtiva implícito no cálculo do "PIB potencial".

Nesse sentido, a crise pode ser uma oportunidade, pois o prolongado choque deflacionário externo tende a facilitar a conciliação de pressões inflacionárias internas com o respeito ao regime de metas. Ainda assim, o aperfeiçoamento do regime poderá ser necessário.

As mudanças são conhecidas: por exemplo, adoção do "núcleo de inflação", de forma a tornar o regime de metas menos sensível a mudanças sazonais de preços relativos, e a adoção de períodos mais longos para a convergência à meta, que não precisa ser anual, pois os efeitos da política monetária são mais lentos.

Tal debate há muito existe na academia e deve ganhar a sociedade. Pessoalmente, acho que a perseguição de metas de inflação não precisa ser explícita, o que favoreceria a conjugação de crescimento com estabilidade.

A boa notícia é que o Banco Central há um ano enfrentou a sabedoria econômica convencional quando iniciou a redução dos juros frente à recidiva da crise internacional. Antes, foi hábil ao criar as medidas macroprudenciais como forma de mitigar as necessidades de aumento dos juros. O BC tem credibilidade para fazer a melhor transição.

A Amazônia não deve pagar - FERNANDO REINACH


O ESTADÃO - 06/09


Quando destruímos a floresta, seus habitantes não se extinguem de imediato. É o caso do mico-leão-dourado, um simpático macaquinho. Nos últimos séculos destruímos grande parte da Mata Atlântica, o único hábitat do mico-leão. Sua população foi diminuindo e chegou a 150 indivíduos. Com os esforços de preservação, hoje existem aproximadamente mil animais, metade em cativeiro. O mico-leão ainda não está extinto, mas é pouco provável que ele escape da extinção na natureza. O que restou de seu hábitat natural e a pouca diversidade genética dos animais que sobreviveram são insuficientes para manter a espécie viável.

O caso do mico-leão-dourado é um exemplo do que os ecologistas chamam de "dívida de extinção". Essa dívida é composta por todas as espécies cujo hábitat já foi destruído o suficiente para inviabilizar a manutenção da espécie - mas, teimosa, a espécie ainda não se extinguiu.

A dívida da biodiversidade existente é definida como o conjunto de espécies que já se tornaram inviáveis, mas ainda não se extinguiram. O interesse dos cientistas é calcular o tamanho dessa dívida, como ela evolui com o tempo e o prazo em que ela será cobrada (quando espécies condenadas vão desaparecer). O triste é que o conjunto de espécies que fazem parte da dívida é muito maior que o número de espécies que já se extinguiram desde o início do século 20, quando o homem realmente começou a devastar o planeta em larga escala.

O caso da Amazônia brasileira é um bom exemplo. Apesar de todo o desmatamento que vem ocorrendo nos últimos séculos, um número pequeno de espécies se extinguiu completamente (este é um dos argumentos ridículos usados pelos defensores do desmate). Mas todos os cientistas concordam que a "dívida de extinção" já é muito grande.

Agora, um grupo de cientistas estimou essa dívida para a região da Amazônia brasileira. Mas o mais interessante é que eles também calcularam quando dessa dívida a Amazônia vai ter de pagar de qualquer jeito (as espécies vão inevitavelmente desaparecer), quanto a dívida aumenta ou diminui dependendo do ritmo de desmatamento nos próximos anos e, finalmente, quanto dessa dívida podemos deixar de pagar se reduzirmos o desmatamento.

A maneira de calcular o déficit se baseia no fato de que cada espécie necessita de uma área mínima de floresta contínua para sobreviver (duas áreas descontínuas não substituem uma área contínua do mesmo tamanho). Essa área pode ser pequena ou grande, dependendo da espécie (é maior para a onça-pintada que para um macaco). Com base nos dados levantados nos últimos anos sobre a necessidade de cada vertebrado (não foram incluídos insetos, plantas, fungos ou outras formas de vida) e com os mapas de satélite que mostram o progresso do desmatamento, foi possível calcular nossa "dívida de extinção" atual.

Os resultados mostram que 1% das espécies de vertebrados da Amazônia provavelmente já está extinto, mas esse número é pequeno quando comparado aos fadados à extinção por causa do desmatamento que já ocorreu no sul e no leste da Amazônia nos últimos 30 anos. Aproximadamente 80% de todas as extinções causadas pelo desmatamento passado ainda estão por ocorrer. Estão condenados 30% do total de anfíbios (8 espécies), 25% dos mamíferos (10 espécies) e 14% das aves (20 espécies).

Essa é a parte da dívida que nós, donos da Amazônia, vamos ter de pagar de qualquer jeito. Mas qual será essa dívida em 2050? Se a taxa de derrubada for semelhante ao histórico de longo prazo (28 mil km²/ano; se você vive na cidade, isso corresponde ao equivalente a 2,8 milhões de quarteirões por ano!), mais 15 espécies de mamíferos, 10 de anfíbios e 30 de aves serão acrescentadas à dívida. Mas se as taxas atuais (6,5 mil km²/ano) e a diminuição recente do desmatamento puderem ser mantidas, os cientistas estimam que a dívida poderá ser mantida nos níveis atuais. Perderemos somente as espécies que já estão condenadas à extinção.

Outra possibilidade. Mas existe outra possibilidade, a junção dos atuais blocos de floresta preservados por meio de corredores que seriam criados simplesmente deixando a mata regenerar em áreas que permitissem a criação de grandes blocos contínuos preservados. Isso é possível, porque hoje 54% da Amazônia estão em áreas protegidas de algum modo. Preservar e interligar essas áreas é uma possibilidade real e a única maneira de renegociar nossa dívida de extinção.

Deixo aqui uma proposta polêmica: que tal legalizar o desmatamento de algumas áreas da Amazônia em troca da transferência de áreas já desmatadas, que seriam regeneradas de modo a formar grandes ligações entre as atuais áreas protegidas? Neste caso, e somente neste, as áreas desmatadas têm mais valor que a mata em pé (favor responder com argumentos e não com pedras).

Segundo os modelos criados por esses cientistas, essa seria a única maneira de darmos o calote na dívida que já acumulamos. Mas isso tem de ocorrer nos próximos anos, pois Dona Extinção, parceira de Dona Morte, está com a conta na mão, cobrando uma dívida que deveríamos nos recusar a pagar.

Um livro para a presidente Dilma ler - RIBAMAR OLIVEIRA


Valor Econômico - 06/09


A presidente Dilma recebeu, na semana passada, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), um livro de 136 páginas, com propostas para melhorar a infraestrutura e, com isso, aumentar a produtividade da economia do país. O livro lhe foi entregue pelo ex-ministro do Planejamento Reis Velloso, criador do Fórum Nacional, associação que discute propostas para a modernização da sociedade brasileira.

A tese central do livro é que a principal opção para aumentar a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) já no curto prazo é o Brasil se tornar mais produtivo, tendo em vista a dificuldade de aumentar a taxa de investimento e a escolaridade da população de imediato. E para aumentar a produtividade geral da economia a melhor alternativa é investir na infraestrutura de transporte, pois a melhoria dessa infraestrutura representará redução de custos para as empresas, aproximação de mercados e criação de novas oportunidades de negócios.

Há, segundo o livro, um grande espaço para a melhoria da produtividade da economia, pois o país enfrenta considerável atraso tanto na quantidade quanto na qualidade da infraestrutura disponível. Os investimentos públicos e privados em infraestrutura, de acordo com o estudo, caíram fortemente desde a década de 80, passando de uma média de 5,2% do PIB para 2,1% do PIB no início dos anos 2000.

Propostas para se evitar "licitantes oportunistas"

A redução continuada dos investimentos fez com que o país chegasse a uma situação de baixa qualidade e densidade de rodovias, com somente 40% da malha em estado de conservação ótimo ou bom, de acordo com pesquisa da Confederação Nacional de Transportes (CNT).

Escrito pelos economistas Raul Velloso, César Mattos, Marcos Mendes e Paulo Springer de Freitas, o livro parte do pressuposto de que os investimentos necessários para elevar a quantidade e a qualidade da infraestrutura de transporte são vultuosos e que o setor público não dispõe de recursos suficientes para enfrentar sozinho esse desafio. Por isso, o governo deve criar condições para que o setor privado opere serviços de infraestrutura. Para eles, a realização de concessões de serviço de infraestrutura que resultem em negócios que se sustentem ao longo do tempo e possam prover serviços de qualidade é a chave para impulsionar o crescimento econômico via aumento da produtividade da economia.

A concessão de estradas e aeroportos é essencial, segundo os autores, para que o país possa sair da armadilha de baixo crescimento potencial na qual se encontra. Mas não é condição suficiente, pois é necessária uma regulação capaz de impor regras que gerem os incentivos adequados (por remuneração e por punição contratual) para que os concessionários atuem de forma eficiente.

Eles estudaram a experiência brasileira de concessão de rodovias, que começou em 1994, tanto em nível federal como estadual, e identificaram vários fatores que dificultam uma maior participação do setor privado. Entre eles os entraves burocráticos que retardam os processos licitatórios, a instabilidade regulatória, a volatilidade da economia brasileira, a indefinição acerca do poder concedente e os leilões que favorecem a vitória de concorrentes que adotam comportamentos "oportunistas".

O Estado concedente do serviço de infraestrutura vive, segundo o livro, um dilema entre dois objetivos: incentivar a empresa regulada a ofertar serviços de qualidade e, ao mesmo tempo, garantir tarifas baixas para os consumidores. Para eles só haverá condições para o empresário regulado "fazer mais e melhor, pelo menor custo", se a regra regulatória permitir que ele receba uma parte relevante dos excedentes gerados pela redução de custos decorrente de seu esforço.

Os autores destacam que o Brasil já experimentou, nas concessões de rodovias, os dois lados do dilema entre incentivos às empresas reguladas e as tarifas cobradas. Na primeira fase das concessões, ocorrida entre 1994 e 1997, foi dado à empresa vencedora o direito de cobrar tarifas mais elevadas, ou seja, as empresas receberam um maior incentivo. Das 20 melhores rodovias brasileiras, segundo levantamento da CNT de 2011, nada menos que 15 foram privatizadas por esse sistema, informa o estudo.

As concessões da segunda etapa, ocorridas entre 2007 e 2009, deram preferência à modicidade tarifária e adotaram a inversão de fases. Os contratos previram também a manutenção da taxa interna de retorno ao longo de sua vigência. Os resultados obtidos, segundo o livro, não são animadores, pois a qualidade das rodovias é mais baixa e os investimentos realizados, após três anos de concessão, estavam 45% aquém do montante inicialmente previsto. Além disso, as tarifas, que deveriam subir de acordo com a variação do IPCA, sofreram reajustes bem acima da inflação.

Para que uma concessão tenha sucesso, de acordo com os autores, é necessário que a modelagem abra mão de forçar a fixação de tarifas irrealistas à custa do concessionário, que os leilões sejam estruturados com vistas a vencer a melhor proposta, minimizando o aparecimento de licitantes "oportunistas" e estimulando o concessionário privado a investir na ampliação e na qualidade dos serviços.

Os economistas acham fundamental que a agência reguladora evite a participação nos leilões dos licitantes "oportunistas", assim chamados aqueles concorrentes que oferecem preços irrealistas ou elevadas quantias ao Tesouro pela outorga e que, uma vez ganha a licitação, passam a pressionar a agência reguladora por reajustes de preços ou alteração no cronograma de investimentos.

Para evitar a outorga do serviço a "oportunistas", os autores sugerem que o órgão regulador aprimore os critérios de pré-qualificação, evite a inversão de fases e exija a explicitação de plano de negócios e metodologia de execução. Eles acham que existem evidências de "comportamento oportunista" dos vencedores dos leilões de concessões de aeroportos feitos neste ano. "Os elevados ágios pagos pelos vencedores indicam a assunção de uma rentabilidade extremamente baixa, incompatível com o custo de oportunidade (mais diferencial de risco) da aplicação de recursos na economia brasileira", diz o livro, intitulado "Infraestrutura, os caminhos para sair do buraco".

Inverdades e mentiras - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 06/09

Bancos eram mais eficientes com juros mais altos? Ou se trata de outra lenda do debate?

NO TEMPO dos hiperjuros, outro dia, era comum ouvir dizer que os bancos de certo modo conspiravam a fim de manter na órbita da Lua a taxa básica de juros, a Selic. A banca viveria à tripa forra por causa dos juros altos.

A banca retrucava que preferia juros baixos e crescimento rápido, pois viveria de fazer empréstimos. De resto, ganhava dinheiro, e nem tanto quanto algumas grandes empresas, porque era eficiente.

Bem. Os juros caíram e a gente ouve de alguns banqueiros que a vida ficou mais difícil. Eles lembram que os tempos estão bicudos também por causa da inadimplência, do PIB lerdo, de intervenções do governo etc.

Tudo bem. Mas o fato é que a banca não era assim tão eficiente. Em parte, engordava bebendo nos rios de leite e mel que corriam (correm) do Tesouro, que paga a conta dos juros para firmas bem capitalizadas, bancos e brasileiros ricos, a dita "classe média alta" inclusive.

Mal comparando, pois a situação era então infinitamente pior, nos tempos da inflação alta havia argumento parecido. Muito bancão posava de instituição de ponta, "moderna", eficiente etc. Mas vivia de ganhos derivados da hiperinflação.

Quando a inflação acabou, quando a maré baixou, a gente viu quem nadava pelado. Bancos grandes quebraram. Houve crise séria no primeiro governo FHC, que lidou com o tumulto de maneira eficaz.

E daí? Daí que muito frequentemente o debate econômico está mergulhado em desconversa, sob uma cascata de pílulas de interesse douradas por ideologia, "estudos" que mostram isso e aquilo, econometrias fantásticas e, francamente, inverdades e mentiras.

Bidu. A gente sabe disso. No entanto, a gente não tempera o debate com grãos de sal, talvez quilos de sal, economistas e nós jornalistas em particular.

A lista de certezas improváveis e depois desmoralizadas é longa. No ano passado, os salários iam explodir. A inflação também. Baixar os juros em agosto daria em tragédia.

A inflação continua chata, mas a bomba obviamente falhou, e a tragédia do juro baixo virou farsa.

Mais antiga, mas boa de lembrar, era a história de que a alta do salário mínimo da última década provocaria desemprego, como dizem os manuais de economia mais simples.

Não provocou nada. O salário mínimo em alta forte e vinculado ao benefício da Previdência pode causar outros problemas. Mas se trata disso: de OUTRA COISA.

Antes de Lula, o ritmo potencial de crescimento do PIB era de 2%. De repente passou para 4%, quem sabe algo mais. Agora poucos chutam um número.

O Brasil era o queridinho da vez. Depois, era chutado como a bola da vez. Malmequer, bem-me-quer, tudo conversa dos rapazes da finança, que vivem de levantar e baixar bolas.

A bolha que estourava em 2007 não daria em nada, diziam os donos da banca mundial e seus amigos, papagaios e micos amestrados no Brasil. Deu no que deu. A recuperação viria "em breve", no início de 2009. De 2010. De 2011. De 2012.

O "capitalismo tremia nas bases", mas logo tomou um calmante. "Há um cheiro de revolta no ar" se dizia daqueles movimentos "Ocupem Isso ou Aquilo". A situação ainda não cheira nada bem, mas não a revolta.

Ao perdedor, as batatas - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 06/09

O governo aumentou o imposto de importação de 100 produtos. O primeiro da lista é a batata. Se o tubérculo for de origem estrangeira pagará ao entrar no país o pedágio de 25%. O que há de tão perigoso nas batatas externas? Não se sabe. A batata é o terceiro alimento com maior inflação. Em 12 meses, acumula 24% de alta, e só em agosto subiu 4,4%. A barreira elevará mais o preço.

Pode-se fugir da batata, e de seus tentadores carboidratos, eliminando-a do cardápio. O problema é o que fazer com uma política econômica que resolveu convocar do mundo do além ideias que morreram de velhice. O ministro Guido Mantega alertou: “Esses produtos serão monitorados pela Fazenda, de modo a verificar se há aumento de preços. Os setores não podem aumentar preços. Caso contrário, derrubaremos a alíquota imediatamente.”

Bom esclarecimento. Com ele, a medida ficou muito pior. Agora temos a reedição de uma dupla que, antes de cair em completo desuso, foi muito prejudicial ao Brasil: tarifa de importação alta e controle de preços.

Na lista de barrados estão químicos, móveis, petroquímicos, material de construção, como tijolo refratário e vidro. Há coisas assim: óleo de vaselina ou de parafina; agentes orgânicos de superfície, exceto sabões; serviços de mesa e outros artigos de uso doméstico, de higiene ou de toucador, de plásticos.

Como mesmo o governo pensa que poderá “monitorar” os preços de tudo isso e outras dezenas de produtos? A Sunab acabou; o CIP (Conselho Inter-ministerial de Preços), também; não existem mais fiscais que apreendem mercadorias invasoras. Como fazer sem aquelas velharias do tempo da inflação? Se um produtor subir o preço, todos pagarão com o fim do privilégio? O governo imagina que os produtores devem combinar entre si um preço limite para não perdera vantagem da barreira ao produto externo? Pretende nomear fiscais de preço e colocá-los em vigílias nas esquinas?

Qualquer alternativa é espantosamente antiga. O Brasil abriu a economia há 22 anos e jogou na lata de lixo o controle de preços há 18 anos com o Plano Real. Agora o que está em vigor, com sucesso, é a economia aberta e a competição. Deixe-se a economia funcionar e o governo que vá governar em vez de monitorar preços de “artigos de toucador” ou batatas.

A guerra das batatas teve outros capítulos. O governo fechou as fronteiras às batatas congeladas da nação amiga, muy amiga, a Argentina. Era retaliação às medidas protecionistas da vizinha. Mas teve que voltar atrás porque 75% da batatas industrializadas consumidas no Brasil vêm de fora, principalmente da Argentina. E o consumo aumentou.

A área econômica do governo dizia que quando o dólar subisse tudo estaria certo na economia brasileira e a indústria estaria protegida da competição desleal. Ele subiu. E as exportações caíram. Várias empresas tiveram prejuízos com o aumento do custo cambial de suas dívidas, inclusive a Petrobras. Não é apenas com desvalorização da moeda que o país terá competitividade. É com a remoção dos obstáculos à eficiência.

Quem não foi contemplado não perdeu as esperanças. O governo avisou que haverá outra lista de produtos que terão alíquotas elevadas. A lista está em discussão. Anunciar isso já é o bastante para se formar uma fila em Brasília, todos dizendo que o seu produto está sob grave ameaça de desnacionalização se a importação não for barrada.

Tudo isso é do tempo em que os bichos falavam, a inflação era alta, o país era fechado e tinha um czar ao qual as leis da economia teimavam em desobedecer. O governo decidiu errar erro velho. 

Controle do Judiciário - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 06/09


Termina hoje o mandato da ministra Eliana Calmon na Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça(CNJ). Seus dois anos no cargo foram marcados por uma atuação firme e midiática, características que ajudaram a difundir a boa imagem que o órgão alcançou.

Desde que foi criado em 2004, o CNJ teve inegável efeito moralizador. Foi pelo combate às práticas escusas e aos desvios éticos que o órgão se tornou conhecido, mais que pela tentativa de racionalizar procedimentos administrativos e aumentar a eficiência da Justiça.

A Corregedoria do conselho assumiu papel central sobretudo a partir de 2008, quando o ministro Gilson Dipp-com o respaldo de Gilmar Mendes, à época presidente do Supremo Tribunal Federal e do CNJ- iniciou a rotina de inspecionar tribunais com indícios de problemas. Ao deixar o cargo de corregedor em 2010, Dipp declarou-se surpreso com a quantidade de "maçãs podres" no Judiciário.

A afirmação não causou sobressalto, mas quando sua sucessora, Eliana Calmon, disse que a magistratura sofria com a "infiltração de bandidos escondidos atrás da toga", houve um rebuliço.

Em parte, a reação colérica de magistrados decorreu da falta de tato de Calmon. A frase, em meio a uma escalada verbal da corregedora, pecava pela generalização -embora tivesse dose de verdade.

Mais que o exagero retórico, o principal motor da discórdia foi o que estava por trás das declarações. Eliana Calmon fez parcerias com outros órgãos de controle e expandiu o trabalho iniciado por Dipp. A Associação dos Magistrados do Brasil tentou restringir os poderes de fiscalização do CNJ.

Nada mais previsível: uma classe acostumada a lidar com seus problemas intramuros reagiu à crescente visibilidade que o CNJ deu a seus abusos e desmandos.

Desse embate, marcado pelas resistências do Tribunal de Justiça paulista e do então presidente do STF,Cezar Peluso, resultou a maior vitória de Calmon. O Supremo autorizou as inspeções.

Se pode tê-los arranhado, o exagero verbal de Calmon de forma alguma anulou os méritos de sua atuação, que deixa como legado um CNJ mais forte e mais ativo.

O ministro Francisco Falcão, que assume a função de corregedor, chega ao posto com perfil que, para muitos, é diametralmente oposto ao de Calmon. Em sabatina no Senado, afirmou que só levará um magistrado à opinião pública após ele ter sido devidamente julgado.

Por outro lado, tentou afastar o corporativismo ao dizer que usará "mão de ferro" quando precisar.

Para além das inclinações pessoais, o novo corregedor precisa preservar o lugar institucional que o CNJ conquistou nos últimos anos.

''Surpresa de outubro'' - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 06/09


Em Jerusalém e Tel-Aviv, fala-se muito da "surpresa de outubro", que seria um possível ataque aéreo de Israel contra instalações nucleares do Irã, entre as quais a de Fordo, enterrada em uma montanha sob 90 metros de granito perto da cidade religiosa xiita de Qom. É lá que os iranianos estariam fabricando em segredo a matéria físsil necessária para uma bomba atômica.

Por que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, e seus falcões se detiveram na data de outubro? É que as eleições americanas ocorrem em 6 de novembro. Os americanos seriam, então, obrigados a se solidarizar com Israel e obrigados a dar-lhe assistência.

A tática parece ser, portanto, de "torcer o braço" dos americanos, sobretudo se quem estiver cotado para vencer for o presidente Barack Obama, a quem Netanyahu detesta.

A desconfiança que Israel tem de Obama se compreende. Há dois anos, o presidente dos EUA não para de recomendar paciência e resignação aos israelenses, porque ele tem pavor de uma operação militar que faria o preço do petróleo disparar. Netanyahu reza para Obama ser derrotado em novembro. Vários membros da extrema direita e até da direita israelense veem em Obama um "cúmplice dos árabes", um "frouxo" e um "medroso".

Isolamento. Obama tentou dissipar essas ressalvas enviando a Tel-Aviv numerosos figurões políticos americanos, entre os quais a secretária de Estado, Hillary Clinton. No entanto, o mau humor de Israel perdura - apenas nos falcões, porque uma parte da opinião pública do país, acompanhando o presidente Shimon Peres e vários generais israelenses, é hostil a esses ataques ao Irã.

Seja como for, rumores sérios que emanam da Direção Geral da Inteligência Militar, em Paris, sugerem que, na verdade, a estratégia de Obama é menos simples, menos clara do que parece. Segundo essas fontes, Obama estaria mantendo um duplo discurso.

De um lado, a Casa Branca não esconde sua hostilidade com relação a uma operação militar dos israelenses contra as instalações iranianas. Ao mesmo tempo, e secretamente, porém, ela forneceria ao governo de Netanyahu a ajuda técnica necessária para realizar eventuais bombardeios.

Segundo as mesmas fontes, os Estados Unidos entregaram a Israel bombas GBU-28 de 2,3 toneladas capazes de atingir as usinas iranianas subterrâneas e de perfurar até mesmo os seis metros de concreto que lhes conferem uma proteção suplementar.

Outra preocupação de Jerusalém: um ataque como esse levaria os aviões israelenses a 2 mil quilômetros de suas bases. Uma consequência disso é que eles teriam de ser reabastecidos em voo por aviões de reabastecimento. Ora, Israel só possui quatro velhos KC-707 americanos. Segundo o jornal francês Le Canard Enchaîné, Obama teria autorizado o leasing de vários KC-135 capazes de reabastecer em voo os aparelhos israelenses.

Rumores. No entanto, de acordo com as últimas notícias transmitidas pela inteligência militar francesa, "a surpresa de outubro" não ocorrerá. Os israelenses teriam garantido a Washington que não atacariam em outubro, conforme os rumores que circulam há alguns dias.

O governo israelense teria prometido não prejudicar a eleição americana de 6 de novembro. Esse seria, portanto, o primeiro tema grande e espinhoso que o futuro presidente americano teria de examinar. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Ueba! Russomanno é o Coringa! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 06/09


E o hilário eleitoral? Mais um nepaitismo: Raul Gil Jr. Pegue o seu banquinho e saia de fininho! Rarará!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Direto do Planeta da Piada Pronta: "Peru: peruana corta o pênis do marido e joga na privada". Então não é peruana, é perucida!

E peruana cortar o peru do marido no Peru é antipatriota. Não tem amor pela pátria. O Peru virou um país de alto risco!

No ano passado uma peruana cortou o peru do marido. Sabe como ela se chamava? Picôn! É verdade. O ápice da piada pronta! E, pra variar de trocadilho, o Peru devia mudar de nome pra Perereca! Rarará!

E o Adriano? O novo apelido do Adriano é Landau: 1km por litro. E o posto de gasolina é o Barmengo! O Flamengoró!

E sabe o que o Adriano disse quando voltou pro Flamengo? "Não risquem fósforos senão voamos pelos ares!" Rarará! E o site Futirinhas revela os graus de bebedeira: sóbrio, levemente bêbado, totalmente bêbado e Adriano!

E sabe por que o Adriano faltou ao treino? Pra ir pra Vila Cruzeiro, encher a cara e bater numa moto? Não, ele faltou ao treino pra recuperar os quilos perdidos no jogo em Porto Alegre!

E, se o Adriano faltar mais duas vezes, ele vai pedir música no "Fantástico"! Rarará! E treinar num lugar chamado Ninho do Urubu é dose, viu?!

E o hilário eleitoral? Mais um caso de nepaitismo: Raul Gil Jr. Não tiro o chapéu! Pegue o seu banquinho e saia de fininho!

E o Russomanno tá a cara do Coringa! Prefeito de Gotham City! E o Paulinho da Força tá sempre cansado. Com cara de quem tá se recuperando de uma hepatite! Rarará! E eu já falei pro Haddad dar um ProUni pro padrinho padim Lula. Pra ele parar de falar Pranalto e Pétobais! Rarará!

E o Datafolha? Russomanno engole um rojão! E nós vamos engolir um sapo! E, se juntar a rejeição do Kassab com a rejeição do Serra, vão sair devendo voto. Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

Ereções 2012! A Galera Medonha! A Turma da Tarja Preta. Direto de Paraisópolis, Minas: Pão Véio. Se o povo ficar com fome, come o Pão Véio!

E direto de Nova Olímpia, Mato Grosso: Macaca Prenha! E a macaca prenha é homem. Voto! Voto porque tá prenha e é homem!

A situação tá ficando psicodélica. O Brasil tomou um ácido no café da manhã. Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Minha musa - LUIS FERNANDO VERISSIMO


O GLOBO - 06/09


Telefonei para a minha musa, a Rosinha. Para reclamar. Eu andava sem assunto, sem ideias, sem inspiração. A Rosinha claramente não estava fazendo seu trabalho. Não aparecia. Não mandava notícia. Minha ligação deu numa secretaria eletrônica. Pode, musa com secretária eletrônica? Onde ela se enfiara? Estaria me traindo, inspirando outro? Deixei um recado: preciso de você, me ligue.

Nunca entendi bem esse negócio de musas. Elas vivem juntas? As antigas, as clássicas, convivem com as musas menores como a Rosinha, sem problemas? É difícil imaginar a musa do Virgilio, a musa do Tolstoi - meu Deus, a musa do Shakespeare! - coabitando com musinhas novatas, a não ser que só se dirijam a elas para pedir o cafezinho. Ou as musas de outros tempos desaparecem junto com os artistas que inspiram, deixando o campo livre para musas contemporâneas? Mesmo assim, que possíveis assuntos poderiam ter a musa do, sei lá, García Márquez e a musa de um grafiteiro?

Finalmente consegui localizar a Rosinha, no seu celular.

- Alô, quem fala?

Eu disse o meu nome. E ela:

- Quem?

Demorou, mas a Rosinha acabou se lembrando de mim ("Ah, o cronista" disse, como se dissesse "Eu mereço"). Perguntou qual era o problema. Respondi que o problema era a falta de inspiração, e que este era o departamento dela. Ela: "Posso te ligar mais tarde?". Eu: "Não! Preciso de inspiração agora. Está quase na hora de mandar a coluna". Ela, depois de um longo silêncio:

- Goiabada com queijo.

- O quê?

- Escreve sobre goiabada com queijo. O contraste de sabores e o que isto simboliza. A goiabada e o queijo são o policial simpático e o policial duro da gastronomia. A goiabada é expansiva e o queijo trava. A goiabada é doce e frívola, o queijo é circunspecto. Os dois provam que os opostos podem se entender, justamente porque são opostos. A goiabada com queijo...

Eu a interrompi:

- Tá bom, Rosinha. Chega. Vou escrever sobre musas.

- Nós agradecemos.

- Contra!

Jogando a culpa - KENNETH MAXWELL


FOLHA DE SP - 06/09

Será que os políticos nunca aprendem? Quando Lula esteve gravemente doente, ele e FHC, em certa medida, se reaproximaram. Bem, pelo menos até a semana passada. Agora, o velho conflito entre os dois recomeçou.

A presidente Dilma Rousseff se viu forçada a intervir com um forte endosso a Lula e com críticas severas ao que FHC escreveu sobre ele.

A verdade é que tanto FHC quanto Lula têm esqueletos no armário. FHC, de fato, mudou a Constituição para abrir caminho à sua reeleição.

A mudança também beneficiou Lula quando este se reelegeu presidente.

Em última análise, a possibilidade de exercer dois mandatos ofereceu tempo razoável para que os dois presidentes implementassem mudanças políticas importantes.

Tanto FHC quanto Lula puderam fazê-lo, e com sucesso considerável para o Brasil.

Oponentes alegam que FHC usou o poderio de seu cargo para comprar votos no Congresso e obter as maiorias necessárias para mudar a Constituição. Ele nega essas acusações. Mas as suspeitas continuam. Muita gente dentro do PT (Partido dos Trabalhadores) acredita nelas.

Essas acusações sobre o regime de FHC, e sobre irregularidades nas privatizações, especialmente quanto ao papel de José Serra como ministro do Planejamento de FHC, são o tema do controvertido "A Privataria Tucana", livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr..

Da mesma forma, muita gente culpa Lula pelo mensalão. Ele nega. Mas Norman Gall, do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, em São Paulo, escreveu uma análise devastadora sobre o escândalo do mensalão em 2005, intitulada "Lula e Mefistófeles", que acaba de ser relançada por Rubens Ricupero, membro do comitê executivo do instituto.

Gall oferece uma análise do esquema, sob o qual José Dirceu -antigo estudante revolucionário, agente da inteligência cubana, presidente do PT e chefe da Casa Civil de

Lula- tentou estabelecer a hegemonia do PT por meio de propinas e do uso de fundos estatais gerados por contratos do governo, canalizados por meio de contas bancárias fraudulentas, a fim de comprar o apoio de pequenos partidos de direita e, dessa maneira, garantir ao PT uma maioria funcional no Congresso.

O esquema não difere muito da lavagem de dinheiro e propinas que PC Farias organizou em favor do presidente Fernando Collor, o que resultou na renúncia deste quando ameaçado de impeachment.

No ano de 2005, Gall pediu reformas fundamentais. Ele estava certo, então, e continua certo agora.

Tradução de Paulo Migliacci

Aprendizes de feiticeiro - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 06/09


Na ânsia de proteger a indústria nacional, os ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, comportam-se como aprendizes de feiticeiro.

Estão fascinados com o truque que faz a vassoura carregar água para dentro do reservatório, mas correm o risco de provocar uma inundação.

A decisão de aumentar o Imposto de Importação, desta vez de 100 produtos, com promessas de ampliar a lista em novas edições, tem tudo para sufocar a própria indústria.

À primeira vista, a ideia pode parecer atraente. Trata-se de proteger o produtor nacional, que vem enfrentando concorrência braba num ambiente de crise internacional em que prevalece mais a oferta do que a procura. Uma forte elevação das taxas alfandegárias, como esta, encarece os produtos importados e amplia a faixa de mercado interno para o produto nacional.

Uma das novas características da indústria brasileira é seu maior grau de integração com a economia mundial. Isso ficou claro nos três últimos anos, quando aumentou substancialmente o componente importado dos produtos nacionais. A estagnação da produção industrial num ambiente de forte crescimento do consumo interno mostra o alto nível de dependência de insumos, componentes, peças e conjuntos importados.

Se com esta decisão sobem os preços do aço, de produtos químicos, dos bens de capital e de matérias-primas de embalagem, como a indústria pode ficar protegida? Ontem, o diretor de Relações Comerciais e Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Gianetti da Fonseca, nem se deu ao trabalho de apoiar a iniciativa, mesmo com as ressalvas de sempre. Disse logo que a lista contém excessos protecionistas que prejudicarão a indústria e o País.

O ministro Pimentel reconhece a existência desse nível de integração. Por isso, adverte: "Só podemos aceitar o aumento de tarifas alfandegárias de setores que não prejudiquem os demais". Por aí já se vê a esquisitice. Pelo que diz o ministro, a proteção não vai para a indústria que mais precisa de proteção, mas para a indústria cuja proteção não prejudique as demais. Além disso, tudo tem de ficar combinado com os demais sócios do Mercosul que têm sobre a matéria pontos de vista raramente coincidentes.

A afirmação mais esquisita foi do ministro Mantega, de que esse reforço tarifário não poderá vir a ser usado pelos empresários para aumentar os preços de seus produtos no mercado interno. "Não podem aumentar os preços, caso contrário, derrubaremos as alíquotas imediatamente", disse ele. Quer dizer, mesmo sem lei nem portaria que estabeleça e defina uma política de preços, sempre que se verifique um reajuste de que não goste, o ministro se reunirá com os comissários de comércio do Mercosul e decidirá com eles o rebaixamento das tarifas, porque o empresário tupiniquim desrespeitou sua vontade...

Decisões desse tipo não têm fim. É como puxar lenço de papel de uma caixa: embaixo tem outro e depois outro... Mesmo os subsetores que foram beneficiados passarão a achar que a proteção foi insuficiente e que é preciso mais e mais.

Além disso, esta não é uma decisão que vai ao coração do problema, que é a falta de competitividade do produto nacional. Essa proteção poderá eventualmente dar mais mercado interno para algum beneficiado, mas não expande a capacidade de vendas no mercado externo.

A vida apareceu - JANIO DE FREITAS


FOLHA DE S. PAULO - 06/09


Pela primeira vez, ontem, as circunstâncias vividas por um réu foram consideradas com a devida importância



SUPERADA A excitação em torno do que seria o voto de despedida de Cezar Peluso -se abrangente, ou não, de todos os réus do mensalão- já está em campo outra charada.

Talvez um artifício involuntário dos que precisam acompanhar a insipidez do julgamento, mas não aguentam, sem algum desvio inocente, o tédio de tanto "voto eminente" e "brilho de Vossa Excelência".

"E se houver empate, agora que a aposentadoria de Peluso reduziu o time dos julgadores a dez?"

O condutor do julgamento e presidente do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto, dá uma resposta original: "É uma pergunta sem resposta".

Poderia dizer que uma das respostas cabíveis é o desempate com o chamado voto de minerva, dado por ele mesmo. Solução que ficaria muito bem na maneira como o julgamento transcorreu até ontem, aceitas várias práticas inesperadas.

Pela primeira vez, ontem, as circunstâncias vividas por um réu, na conduta de que é acusado, foram consideradas com a devida importância na apreciação dos fatos e no voto de um ministro, para condenação ou absolvição.

Embora composto por magistrados sempre prontos a expor seu lado humano (nem sempre de modo apreciável), se sensibilizada a sua vaidade, o julgamento mais parece ocupar-se de réus mecânicos, todos robôs da patifaria.

O risco resultante dessa característica do julgamento não recai apenas sobre os réus, na eventualidade de menor compreensão dos fatos e das culpas ou inocências.

A variação dos discursos jurídicos não isenta também os magistrados de se mecanizarem eles próprios, de se robotizarem, no seu poder de ignorar a vida e conceber seres-objetos.

No primeiro dos votos pela absolvição de Ayanna Tenório, (ex-)funcionária do Banco Rural, o ministro-revisor, Ricardo Lewandowski, valorizou tanto os fatos quanto as circunstâncias que a acusada viveu neles. Não o fez por acaso, mas com intenção declarada. A vida se imiscuiu no julgamento.

Um ser-objeto virou uma pessoa, assim reconhecida também, pouco depois, pela ministra Rosa Weber. Ainda que a absolvição carregasse uma ressalva, cuja oportunidade excedeu o voto: "In dubio pro reo", lembrou a ministra para justificar-se de não encontrar motivos seguros de condenação.

Na justificativa de Rosa Weber estava a resposta adequada para o desempate de votos, em um tribunal não robotizado em sentido algum. O empate retrata um tribunal posto em dúvida, e um princípio de Justiça que os milênios não negaram é este: "In dubio pro reo".

O empate tem resposta, sim, pelos juízes que não a receiem.

OUTRA CONTA

Com base na margem de erro que faz uma diferença de cinco pontos ser considerada empate, os petistas podem dizer também que Fernando Haddad já ultrapassou José Serra.

Com 16% apurados pelo Datafolha, Haddad vai a 19% com o possível acréscimo da margem de erro de três pontos.

Serra, nos 21%, cai para 18% com a possível dedução dos três pontos de margem de erro.

Como Lula passou de protetor a protegido - CRISTIAN KLEIN


VALOR ECONÔMICO - 06/09


Os anos Dilma Rousseff têm sido caracterizados pela queda inédita das taxas de juros e uma administração de coloração tecnocrática, mas ainda não representaram uma grande inovação. A margem de manobra da presidente é menor depois da conquista da estabilidade econômica, na era Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e do avanço social ocorrido no período de seu padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Dilma precisa de uma marca. Até agora tem sido ela mesma, com o estilo duro, o temor que desperta nos assessores mais próximos e as demissões em série que levaram à queda de quase uma dezena de ministros. Neste ano, Dilma estava um tanto quieta e faltava esbravejar com alguém. Sobrou para Fernando Henrique.

O tucano levou um pito da presidente por ter criticado em artigo a "herança pesada" que Lula teria legado para ela. O assunto é um nhenhenhém, como diria o próprio FHC, em torno do qual ele e Lula já debateram muito publicamente. A novidade é a resposta de Dilma e seu tom "overreacting".

Estratégia de fortalecer Dilma a põe em novo patamar

A reação desperta um monte de interpretações, mas nenhuma deveria partir da premissa de que o exagero foi resultado da emoção. Para uma atitude desta magnitude, em meio às eleições municipais e com os riscos envolvidos à imagem da presidente, há pouco de impulso e muito de cálculo político.

Dilma iniciou seu governo estabelecendo justamente um contraponto em relação ao padrinho. Lula, nos dois mandatos, sempre esteve às rusgas com FHC. Mas a presidente aproximou-se do tucano, conferiu-lhe um tratamento especial e até enviou-lhe carta elogiosa no aniversário de 80 anos. Era uma amizade republicana, a despeito das diferenças ideológicas e partidárias que Dilma sabia existir.

O que mudou, então?

A discussão sobre heranças malditas ou benditas poderia ter continuado entre dois velhos ex-presidentes. Lula já recuperou a voz para correr o país, subir palanques e dar declarações de apoio a seus candidatos a prefeito. Poderia muito bem ter respondido. Dilma, no entanto, comprou a briga com FHC. Houve senso de oportunidade.

O efeito simbólico é imediato. Lula, de uma hora para outra, passou de protetor a protegido. A estratégia de fortalecimento da imagem presidencial pôs Dilma em novo patamar. O bate-boca é com FHC, mas o subproduto principal é o deslocamento de Lula como o peão do jogo.

Não é pouco, uma vez que ainda há dúvidas sobre quem será o nome do PT na eleição de 2014: se criador ou criatura.

O panfleto de Dilma foi eminentemente político. Contrasta com sua atuação discreta, voltada para o gabinete. Aos poucos, a presidente amplia seu espaço, além da técnica, e entra no campo político - o que parece mostrar sua disposição de tentar um novo mandato.

O duelo com Fernando Henrique é a segunda grande intervenção da presidente que claramente dispensa a participação do padrinho. A primeira foi na troca de comando de líderes do governo no Congresso, em fevereiro, quando suas decisões ainda eram vistas como dependentes de conversas com Lula. Foi uma prova de autonomia no trato com as raposas do Legislativo. Agora, Dilma mostra independência para liderar a luta partidária/eleitoral.

Se quiser a reeleição, Dilma precisará dominar o território e andar com as próprias pernas. Precisará falar a seu partido e aos que dão sustentação ao governo, muitos descontentes com seu estilo.

Para sua legenda, a bronca em Fernando Henrique soa como música ou, ao menos, mea culpa. Dilma tem se aproximado de uma agenda muito mais tucana - privatizações, retaliação às greves do funcionalismo - do que das preferências dos petistas. Se um partido pode ser dividido em três - filiados/simpatizantes; direção; e governo/face pública-, Dilma sabe que precisará contar com o engajamento dos dois primeiros em seu projeto.

Para os aliados, o passa-fora no tucano é um aviso de que a presidente está à frente do debate e que uma romaria queremista em torno de Lula tende a ser inócua.

A ação atinge vários objetivos ao mesmo tempo. Dilma se aproveita dos reveses de Lula e da oposição. O ex-presidente tem posto à prova nestas eleições sua sagacidade política e sua popularidade. Em São Paulo, a candidatura do ex-ministro Fernando Haddad avança menos do que o esperado depois de iniciada a campanha na TV. Lula não repete o que fez em 2010, com a transferência de votos para Dilma. Na batalha no Recife, está em desvantagem no duelo de padrinhos. O até pouco tempo desconhecido candidato do governador Eduardo Campos, Geraldo Julio, ambos do PSB, ultrapassou como foguete o senador Humberto Costa, apoiado pelo ex-presidente.

Para petistas que concorrem nas capitais, é a presença de Dilma que surge agora como esperança para inverter o quadro desfavorável. Em apenas duas destas 26 cidades, Goiânia e Rio Branco, há um candidato do PT na liderança.

A oposição - especialmente o PSDB, que lidera em seis - não vai mal nos municípios, mas seus caciques nacionais tropeçam, de um jeito ou de outro. O libelo de Fernando Henrique, cujo governo foi tão renegado por seu partido, surge no momento em que o senador mineiro Aécio Neves é filmado trôpego num boteco carioca e o ex-governador José Serra cai na tabela da disputa pela Prefeitura de São Paulo.

FHC também teve senso de oportunidade. Quis reafirmar sua liderança e ser lembrado como principal face pública do PSDB e da oposição. Só não contava com o chega-pra-lá da "muy leal e amiga" presidente da República.

Se os atuais anos ainda não têm uma grande marca, os últimos dias, no melhor estilo Dilma, representaram tempos de violência para velhos caciques. A presidente rebate o octogenário FHC; Eduardo Campos atropela o sexagenário Lula; São Paulo vira as costas para o septuagenário José Serra.

Enquanto isso, a novidade Celso Russomanno (PRB), que diz não querer briga com ninguém, conquista o eleitorado paulistano, para desespero de ambas as partes, de tucanos e petistas.

Poupar menos para crescer - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 06/09

A economia dá sinais de reagir aos primeiros estímulos tributários do governo, que já aceita um superávit primário menor. Vai poupar menos e investir mais, transferindo receita para o setor privado que ainda vacila. O PIB no segundo trimestre de 0,4% foi maior que o anterior, de apenas 0,1%, e pode continuar crescendo nos próximos meses porque o governo decidiu poupar menos em época de crise e investir mais.
É sem dúvida um início da recuperação após dois trimestres perdidos. Não se escapa de um crescimento menor que 2% este ano, mas se o governo e o BC intensificarem as medidas anticíclicas, há condições para que o PIB cresça até mais de 3% em 2013.
Vai dar? Sim. O governo dá sinais cada vez mais claros de ter renunciado ao superávit primário de 3%. O BC aponta para mais um corte de 0,25 ponto porcentual este ano na Selic e há financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a juros reais negativos. Nos próximos dias, virá mais uma série benefícios fiscais e tributários beneficiando praticamente todos os setores, mesmo os já atendidos, além da dedução dos impostos altíssimos sobre energia elétrica. Deve vir também mais desonerações da folha de pagamento para quase todos o setores industriais e se anuncia ainda isenção do PIS e do Cofins para os produtos da cesta básica.
E isso apesar de as desonerações já concedidas este ano terem representado uma renúncia de receita de R$ 40 bilhões, de acordo com o Ministério da Fazenda. Não é pouco. São quase 29% do superávit primário previsto para este ano.
Os limites do governo. Mas até onde o governo pode intensificar essa política sem pôr em risco o equilíbrio das contas publicas? A pedido da coluna, o economista Felipe Queiroz, da Austin Rating, fez uma avaliação cuidadosa dos vários cenários e conclui, com base em dados atuais e do passado, que há espaço, sim, para reduzir o superávit primário e intensificar os estímulos tributários.
O que diz a Austin."Acredito que, no atual contexto econômico o não cumprimento da meta de superávit primário não prejudica a evolução das finanças públicas. Sempre que há crise há deterioração tanto da atividade econômica como das expectativas dos agentes. Isso foi observado nitidamente no final de 2008, e houve enxugamento do crédito (bancos privados), os investimentos travaram e a demanda agregada encolheu. Para se evitar um ciclo vicioso ao longo de 2009, o governo reduziu o IPI, ampliou (com recursos próprios) o crédito via bancos públicos, investimentos, medidas que refletiram no resultado primário."
Foi tão ruim? Não porque saímos da recessão e a economia voltou a crescer. "Em 2009, o PIB caiu 0,3%, e o resultado primário foi de apenas 2,0%, o menor da série histórica. Mas, nos dois anos seguintes, a economia cresceu 7,5% e 2,7%, respectivamente com superávit primário de 2,7% (2010) e 3,1% (2011)", lembra o economista da Austin Rating.
E agora? Neste ano, o cenário é semelhante ao de 2009. Será muito difícil para o setor público cumprir integralmente a meta de superávit primário. "Nós, na Austin Rating, acreditamos que a economia vai crescer apenas 1,7% e o resultado primário será de 2,3% do PIB. O governo vem adotando diversas medidas para conter os efeitos da crise na zona do euro, o que tem afetado diretamente a sua receita. No entanto, mesmo que a meta fiscal não seja cumprida integralmente neste ano, isso não compromete a evolução das contas públicas, pois, a exemplo do passado, o País deve voltar a crescer em taxas maiores a partir de 2013 e, assim, retornar ao equilíbrio no resultado primário."
É ir em frente. O Brasil criou condições especiais para pode agir em meio à crise. Espaço fiscal, juros ainda elevados, inflação sob controle, desemprego recorde, um mercado interno vigoroso e uma equipe econômica consciente dos desafios. É ir em frente e enterrar no passado o 1,7% deste ano.

CLAUDIO HUMBERTO

“Deveria ser classificado como gestão tenebrosa”
Ministro Luiz Fux (STF) sobre a gestão fraudulenta no Banco Rural, do mensalão


ALIADO DE LULA É JULGADO NO EGITO POR CORRUPÇÃO

Começou no Cairo o julgamento de Farouk Hosni, ex-ministro da Cultura do falecido ditador egípcio Hosni Moubarak, acusado de roubar 2,35 milhões de euros dos cofres públicos egípcios. Farouk recebeu apoio do então presidente Lula e do ex-chanceler Celso Amorim para derrotar o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que ambos detestam, na disputa pela direção-geral da Unesco, órgão das Nações Unidas.

A FICHA DO DISTINTO

Antissemita (queria queimar livros de autores israelenses), Farouk Hosni é um dos ladrões impedidos de sair do Egito após queda do ditador.

CHANCE PERDIDA

Cristovam tinha condições de vencer a disputa na Unesco, mas só com apoio do governo brasileiro, que preferiu apoiar o egípcio corrupto.

SEM LIMITES

Celso Amorim, bajulador incorrigível, pilotou o boicote a Cristovam para agradar Lula, que demitira o senador do MEC com humilhação.

IMPORTÂNCIA

Era importante para o Brasil conquistar a Unesco, que investe muito em educação, cultura, ciência e tecnologia mundo afora.

DF DECIDE FECHAR O CAJE

O governo do DF decidiu varrer do mapa o Caje, centro de internação de menores infratores. O prédio será desocupado até o fim deste ano e depois implodido, num gesto simbólico do governador Agnelo Queiroz (PT) pondo fim à triste história da instituição, espécie de Febem do DF, marcada por rebeliões, assassinatos e superlotação. O fim do Caje foi ordenado pela Justiça, que deu prazo de dois anos ao governo do DF.

NOVO ENDEREÇO

A Caje funcionará no prédio, já sob reforma, onde ficava o CPP (Centro de Progressão Penitenciária), com capacidade para trezentos internos.

QUEM RESOLVEU

Chefe da Casa Civil, Swedenberger Barbosa, foi quem solucionou de uma vez o encalacrado “problema Caje”, a pedido de Agnelo Queiroz.

LUGAR PARA TODOS

Internos de mais de 18 anos vão para o Cesame, centro prisional no complexo da Papuda, acabando a superlotação no Caje.

DEU-SE O PREVISTO

Como esta coluna antecipou terça, o previsível ministro revisor Ricardo Lewandowski votou pela absolvição de Ayanna Tenório e Vinícius Samarane, ex e atual dirigente do Banco Rural, réus do mensalão.

POSSE POLÊMICA

Guido Mantega (Fazenda) empossa hoje o catarinense Ary Lanzarin na presidência do Banco do Nordeste, em Fortaleza. Nenhum governador – à exceção de Rosalba Ciarlini (RN), que vive com pires na mão – havia confirmado presença, incluindo o anfitrião Cid Gomes (PSB).

PSOL DIFERENTE

O coordenador-geral da campanha de Edmilson Rodrigues, líder nas pesquisas em Belém, Aldenor Junior, é famoso na cidade por já ter sido preso por corrupção e ter posado de algemas para todos os jornais.

MARCHA MILIONÁRIA

A “marcha pela educação” da CUT, ontem, em Brasília, teve trios elétricos, uma dezena de balões (R$ 2 mil para encher cada um), lanches etc. Por baixo, custou uns R$ 200 mil, sem contar passagens, hospedagem e ônibus para transportar o gado, ops, manifestantes.

QUORUM NEGADO

O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) ficou intrigado ao sair da última sessão da CPI do Cachoeira, suspensa por falta de quorum: deputados estavam no corredor, para negar o número mínimo de presentes.

MONOPÓLIO HOSPITALAR

Senador da Paraíba, Vital do Rêgo (PMDB) lavou a alma dos brasilienses denunciando o monopólio da rede hospitalar privada no DF, agora sob controle do banco BTG Pactual, sob a mais solene omissão de órgãos como o Cade e a Secretaria de Direito Econômico.

CPI NO MANÉ

Aliado de Agnelo Queiroz (PT), o PMDB não gostou do retorno do seu ex-chefe de gabinete, Cláudio Monteiro, ao governo do DF, como secretário da Copa. “É como trazer a CPI do Cachoeira para o Estádio Mané Garrincha”, disse um importante dirigente do partido.

NOS ARES DO PIAUÍ

O presidente da Anac, Marcelo Guaranys, se reúne hoje com os senadores Gim Argello (PTB-DF) e João Vicente Claudino (PTB-PI), em Brasília, para discutir o futuro do aeroporto de Teresina. 

QUEM É?

O senador Aloysio Nunes (PSDB), aliado de José Serra, pergunta no Twitter quem é o “verdadeiro Russomano”: o assanhado com musa no carnaval ou o “candidato arrumadinho” a prefeito de São Paulo. 


PODER SEM PUDOR

SEM VOTO, NEM PAPO

Delfim Netto lutava para que o general Ernesto Geisel o nomeasse governador de São Paulo, em 1978. O ministro Petrônio Portela, articulador político do governo, chamou Delfim para uma conversa:

- É decisão tomada: você não pode ser o governador de São Paulo.

- Mas isto é uma violência. Tenho sete anos de serviços prestados à revolução. Não posso aceitar este veto.

- Muito mais serviços à revolução, mais do que você ou eu, prestou o Carlos Lacerda. E foi tirado de campo - encerrou Portela.

QUINTA NOS JORNAIS


Globo: Vitória do verde – TCU manda invasor sair do Jardim Botânico
Folha: Empréstimos do mensalão foram forjados, diz STF
Estadão: Dilma quer proibir operação-padrão em greve de servidores
Correio: De lixo a revolução genética
Valor: Nova proteção tarifária atinge 4% da importação
Estado de Minas: Eles gastam gasolina nas férias
Zero Hora: RS e outros cinco Estados tentam anular aumento do piso dos professores

quarta-feira, setembro 05, 2012

Chamou a PM - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 05/09

Neste jogo de sexta contra a África do Sul no Morumbi, a CBF iria testar o novo sistema de segurança privada para a Copa.
Mas optou pela PM paulista, já que atrasou o projeto de formar os stewards, como são chamados esses profissionais que trabalham em segurança de grandes eventos esportivos.

Grande família

Corre na 51 Vara Cível do Rio uma nova disputa entre a família Geyer.
Agora, é o empresário Alberto Soares de Sampaio Geyer contra a irmã Joanita Soares de Sampaio Geyer. Cobra uma dívida de um empréstimo cujo valor corrigido remonta hoje a alguns milhões.

Sigilo bancário

O ministro Francisco Falcão assume amanhã o CNJ, no lugar de Eliana Calmon, e já chega comprando briga:
— Defendo que nenhuma autoridade pública tenha garantidos sigilos bancário ou fiscal.

Segue...

Falcão lembra que nos EUA, país mais democrático do mundo, nenhuma autoridade pública tem direito ao sigilo bancário ou fiscal.
É. Pode ser.

Ai se eu te pego...

O sucesso internacional “Ai se eu te pego" vai levar Michel Teló para fazer show em Moscou dia 27 de novembro.

No mais

O governo, que fez a intervenção nas empresas do Grupo Rede, atuante no setor elétrico, bem que deveria investigar o que levou o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço a aplicar no grupo R$ 600 milhões, dinheiro meu, seu, nosso, em agosto de 2010, quando a empresa já estava na UTI.

PERFUME PARA CHAMAR DE SEU

A carinha sapeca da nossa Juliana Paes, 33 anos, mostra que ela está empenhada em uma nova empreitada. Agora, seu projeto é o lançamento do perfume Juliana Paes Essence - primeira fragrância de uma celebridade brasileira desenvolvida por um grupo estrangeiro, o Grupo Puig, que detém as marcas Carolina Herrera, Valentino, Prada, Paco Rabanne, Antonio Banderas e Shakira. Dia 12 agora, ela autografa o perfume no Shopping Leblon, durante o evento de moda Fashion’s Night Out, promovido pela “Vogue”. Autografa pra eu... •

Uva é pecado
Para agradar a um grupo de brasileiros, entre eles a coleguinha Denise Viola, da Rádio MEC, em visita ao Haiti, o padre Jean, francês, sem entender o sentido em português, puxou outro dia o refrão de música “Chupa que é de uva’? do Aviões do Forró.
Um trechinho: “Na sua boca eu viro fruta, chupa que é de uva/ chupa, chupa, chupa que é de uva’!

Mas...
Pai, perdoa-lhe porque ele não sabe o que faz. Amém.

Crime e castigo

Este executivo Carlos Massaru Takahashi, que assumiu a presidência da BB DTVM, teve em novembro do ano passado que pagar R$ 100 mil à CVM.
Era acusado de prestar declaração à imprensa sobre um fundo de investimento no período em que o pedido de registro encontrava-se em análise na CVM.

Morena agradou
O vídeo de Xuxa morena, da Wella, atingiu 5,6 milhões de acessos.

Bolsa da CarminhaVeja como brasileiras são VIPs nas lojas Michael Kors depois que a vilã Carminha (Adriana Esteves), em “Avenida Brasil’,’ passou a usar uma bolsa da marca.
Uma conterrânea entrou numa loja da grife em Las Vegas com sua bolsa Kors descascada. Ao perceber, a gerente ofereceu o mesmo valor, cerca de US$ 400, para que ela levasse outro produto e avisou:
— Quero continuar recebendo as brasileiras.

Aliás...
Citando Sharon Stone, em “Instinto selvagem” o estilista Michael Kors, em entrevista ontem ao G1, diz que, a exemplo da Carminha , “as melhores vilãs têm uma coisa em comum: uma fabulosa noção de estilo"
Há controvérsia.

Mãos ao alto!
Alunos de escolas do Humaitá/ Botafogo estão vivendo dias de terror nas ruas dos bairros cariocas.
Só no Colégio Andrews há cerca de 20 relatos de assaltos e agressões praticados nos últimos dois meses contra estudantes na saída das aulas da manhã.

Coisa feia e perigosa

A 27? Vara Criminal do Rio condenou a dois anos e quatro meses os donos do Mala e Cuia, em Copacabana, que foram flagrados com “gato’ na tubulação de gás do restaurante.
Os proprietários terão que prestar serviço comunitário.

Cena carioca

Quarta, por volta de 7h50m, no sinal do início da Av. Marechal Floriano, no Centro, o motorista do táxi 162 da cooperativa Central Táxi, ao parar na luz vermelha, pegou um cavaquinho e... tocou para o passageiro que, animado, batucava nos joelhos.

Todo mundo em pânico - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 05/09



A 31 dias das eleições, sendo 29 de campanha eleitoral, bate o desespero nos candidatos a prefeito que apresentam desvantagem ou queda nas pesquisas Brasil afora. E, por incrível que pareça, esse estresse tem uma linha comum em várias cidades: São os mais conhecidos do eleitor que têm sofrido as maiores baixas. Em São Paulo, José Serra, do PSDB, não para de cair nas pesquisas de intenção de voto. Em Fortaleza, o senador Inácio Arruda (PCdoB), figurinha repetida em várias eleições para prefeito, não decola. Em Santos, Telma de Souza (PT) e Beto Mansur (PP), os mais tradicionais em cena na corrida eleitoral do município, também estão em desvantagem. No Rio de Janeiro, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), herdeiro político do ex-prefeito César Maia, não empolga o eleitor. No Recife, Humberto Costa (PT) e Mendonça Filho (DEM) perdem terreno a olhos vistos, a cada pesquisa registrada.

Em alguns gabinetes da capital da República e fora dela há quem tenha a clara sensação de que uma das razões para tanto desgaste desses políticos mais conhecidos é o julgamento do mensalão. Independentemente do resultado - e dos estragos para o PT -, a classe política está sentindo-se afetada como um todo. Só a título de detalhe: Não dá para deixar de lembrar a propaganda na TV que mostra um mecânico que, aos poucos, limpa as mãos. Ele começa a sua fala mencionando a impressão de que político é tudo igual, embora explique que não é bem assim.

A propaganda do mecânico traduz bem o que fica na cabeça do eleitor que não é muito ligado em política. Alguns parlamentares e ministros já perceberam que, em relação ao julgamento do mensalão, há um senso comum do tipo, “ih, olha lá político envolvido em confusão”. E, aí, quando entra o horário eleitoral com o desfile de políticos, esse cidadão médio, desinteressado e descrente da política, dá aquela olhada de soslaio para a tela da TV e, ao se deparar com um rosto mais conhecido, reage: “Pô, de novo?! Toda eleição esse sujeito aparece!”. Por isso, caro leitor, não se engane. Pode estar aí, e não na renúncia ao cargo de prefeito em 2006, o maior problema de José Serra em São Paulo e de muitos outros pelo país afora.

Por falar em desgaste…

Em meio à confusão dos palanques e brigas de petistas e aliados nos estados, Dilma trata de se preservar e mantém o foco na economia. Por esses dias, trabalha no modelo de concessão dos portos e aeorportos e no anúncio de redução da tarifa de energia elétrica para a indústria. Ela sabe que a chave da sua campanha reeleitoral, daqui a dois anos, não está nos palanques de 2014 e, sim, no emprego, no produto interno bruto “robusto”, como ela gosta de dizer, e na inflação baixa. Em nome desses projetos, irá à TV anunciar a redução do preço da energia. Se ajudar o PT, hoje tão desgastado nas eleições municipais, ela também não achará ruim. E, de todos os aliados, o que ela mais tem segurado hoje é o PMDB, parceiro dos petistas em Belo Horizonte, uma das poucas cidades onde Dilma deve fazer campanha em breve.

Por falar em PMDB…

O partido de Michel Temer é único que não tem pré-candidato a presidente da República. A ordem no Planalto é seguir à risca o lema “é melhor um PMDB na mão do que um PMDB e um PSB voando”. Nesse sentido, e para não se desgastar com o aliado, Dilma já cogita até mesmo aceitar Renan Calheiros como presidente do Senado. Isso, é claro, se não houver meios de trocar o candidato. Por enquanto, todos os potenciais nomes cogitados não falam do assunto. O ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho (PMDB), é um exemplo. No Senado, ontem, ao descer as escadas rumo ao restaurante, acompanhado de candidatos a prefeito, saiu-se com esta: “Até 7 de outubro, sou um político municipal. Nas horas vagas, só vou cuidar de eleição”. Ele disse que não vai tirar férias, mas, nos fins de semana, ficará no Rio Grande do Norte.