quinta-feira, setembro 06, 2012

Jogando a culpa - KENNETH MAXWELL


FOLHA DE SP - 06/09

Será que os políticos nunca aprendem? Quando Lula esteve gravemente doente, ele e FHC, em certa medida, se reaproximaram. Bem, pelo menos até a semana passada. Agora, o velho conflito entre os dois recomeçou.

A presidente Dilma Rousseff se viu forçada a intervir com um forte endosso a Lula e com críticas severas ao que FHC escreveu sobre ele.

A verdade é que tanto FHC quanto Lula têm esqueletos no armário. FHC, de fato, mudou a Constituição para abrir caminho à sua reeleição.

A mudança também beneficiou Lula quando este se reelegeu presidente.

Em última análise, a possibilidade de exercer dois mandatos ofereceu tempo razoável para que os dois presidentes implementassem mudanças políticas importantes.

Tanto FHC quanto Lula puderam fazê-lo, e com sucesso considerável para o Brasil.

Oponentes alegam que FHC usou o poderio de seu cargo para comprar votos no Congresso e obter as maiorias necessárias para mudar a Constituição. Ele nega essas acusações. Mas as suspeitas continuam. Muita gente dentro do PT (Partido dos Trabalhadores) acredita nelas.

Essas acusações sobre o regime de FHC, e sobre irregularidades nas privatizações, especialmente quanto ao papel de José Serra como ministro do Planejamento de FHC, são o tema do controvertido "A Privataria Tucana", livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr..

Da mesma forma, muita gente culpa Lula pelo mensalão. Ele nega. Mas Norman Gall, do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, em São Paulo, escreveu uma análise devastadora sobre o escândalo do mensalão em 2005, intitulada "Lula e Mefistófeles", que acaba de ser relançada por Rubens Ricupero, membro do comitê executivo do instituto.

Gall oferece uma análise do esquema, sob o qual José Dirceu -antigo estudante revolucionário, agente da inteligência cubana, presidente do PT e chefe da Casa Civil de

Lula- tentou estabelecer a hegemonia do PT por meio de propinas e do uso de fundos estatais gerados por contratos do governo, canalizados por meio de contas bancárias fraudulentas, a fim de comprar o apoio de pequenos partidos de direita e, dessa maneira, garantir ao PT uma maioria funcional no Congresso.

O esquema não difere muito da lavagem de dinheiro e propinas que PC Farias organizou em favor do presidente Fernando Collor, o que resultou na renúncia deste quando ameaçado de impeachment.

No ano de 2005, Gall pediu reformas fundamentais. Ele estava certo, então, e continua certo agora.

Tradução de Paulo Migliacci

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