FOLHA DE SP - 06/09
Bancos eram mais eficientes com juros mais altos? Ou se trata de outra lenda do debate?
NO TEMPO dos hiperjuros, outro dia, era comum ouvir dizer que os bancos de certo modo conspiravam a fim de manter na órbita da Lua a taxa básica de juros, a Selic. A banca viveria à tripa forra por causa dos juros altos.
A banca retrucava que preferia juros baixos e crescimento rápido, pois viveria de fazer empréstimos. De resto, ganhava dinheiro, e nem tanto quanto algumas grandes empresas, porque era eficiente.
Bem. Os juros caíram e a gente ouve de alguns banqueiros que a vida ficou mais difícil. Eles lembram que os tempos estão bicudos também por causa da inadimplência, do PIB lerdo, de intervenções do governo etc.
Tudo bem. Mas o fato é que a banca não era assim tão eficiente. Em parte, engordava bebendo nos rios de leite e mel que corriam (correm) do Tesouro, que paga a conta dos juros para firmas bem capitalizadas, bancos e brasileiros ricos, a dita "classe média alta" inclusive.
Mal comparando, pois a situação era então infinitamente pior, nos tempos da inflação alta havia argumento parecido. Muito bancão posava de instituição de ponta, "moderna", eficiente etc. Mas vivia de ganhos derivados da hiperinflação.
Quando a inflação acabou, quando a maré baixou, a gente viu quem nadava pelado. Bancos grandes quebraram. Houve crise séria no primeiro governo FHC, que lidou com o tumulto de maneira eficaz.
E daí? Daí que muito frequentemente o debate econômico está mergulhado em desconversa, sob uma cascata de pílulas de interesse douradas por ideologia, "estudos" que mostram isso e aquilo, econometrias fantásticas e, francamente, inverdades e mentiras.
Bidu. A gente sabe disso. No entanto, a gente não tempera o debate com grãos de sal, talvez quilos de sal, economistas e nós jornalistas em particular.
A lista de certezas improváveis e depois desmoralizadas é longa. No ano passado, os salários iam explodir. A inflação também. Baixar os juros em agosto daria em tragédia.
A inflação continua chata, mas a bomba obviamente falhou, e a tragédia do juro baixo virou farsa.
Mais antiga, mas boa de lembrar, era a história de que a alta do salário mínimo da última década provocaria desemprego, como dizem os manuais de economia mais simples.
Não provocou nada. O salário mínimo em alta forte e vinculado ao benefício da Previdência pode causar outros problemas. Mas se trata disso: de OUTRA COISA.
Antes de Lula, o ritmo potencial de crescimento do PIB era de 2%. De repente passou para 4%, quem sabe algo mais. Agora poucos chutam um número.
O Brasil era o queridinho da vez. Depois, era chutado como a bola da vez. Malmequer, bem-me-quer, tudo conversa dos rapazes da finança, que vivem de levantar e baixar bolas.
A bolha que estourava em 2007 não daria em nada, diziam os donos da banca mundial e seus amigos, papagaios e micos amestrados no Brasil. Deu no que deu. A recuperação viria "em breve", no início de 2009. De 2010. De 2011. De 2012.
O "capitalismo tremia nas bases", mas logo tomou um calmante. "Há um cheiro de revolta no ar" se dizia daqueles movimentos "Ocupem Isso ou Aquilo". A situação ainda não cheira nada bem, mas não a revolta.
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